Mediunidade Sem Medo
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- 59. Qual o perigo da vaidade na vida do médium?
Segundo o benfeitor Miramez (livro Médiuns , psicografado por João Nunes Maia), todo homem carrega, naturalmente, o sentimento de ostentação. A ostentação, nesse contexto, é o ato pelo qual o médium busca demonstrar superioridade e se destacar entre os demais, exibindo — com orgulho — seus dons mediúnicos, suas realizações, curas, comunicações recebidas, achando-se porta-voz da verdade absoluta e indiscutível, que sua presença é imprescindível e indispensável, entre outros comportamentos vaidosos ou exibicionistas. Se o egoísmo, conforme apresentado na codificação, representa uma das grandes chagas da humanidade, a vaidade, para o médium, é o câncer que o corrói e destrói, fanatizando-o e conduzindo-o à ruína. A VAIDADE, SEGUNDO ALLAN KARDEC Em O Evangelho Segundo o Espiritismo , Kardec nos convida a meditar sobre a vaidade e os seus riscos, destacando que o médium que compreende o seu dever, longe de se orgulhar de uma faculdade que não lhe pertence, visto que lhe pode ser retirada, atribui a Deus as boas coisas que obtém. Se as suas comunicações receberem elogios, complementa o codificador, não se envaidecerá com isso, porque as sabe independentes do seu mérito pessoal; agradece a Deus o haver consentido que por seu intermédio bons Espíritos se manifestassem. Se dão lugar à crítica, não se ofende, porque não são obra do seu próprio Espírito. Ao contrário, reconhece no seu íntimo que não foi um instrumento bom e que não dispõe de todas as qualidades necessárias a obstar a imiscuência (impedir a intromissão) dos Espíritos maus. Cuida, então, de adquirir essas qualidades e suplica, por meio da prece, as forças que lhe faltam. FAMA E NOTORIEDADE Para Manoel Philomeno de Miranda, em Mediunidade: Desafios e Bênçãos , pela psicografia de Divaldo Franco, a busca atormentada da notoriedade, da fama, do exibicionismo, constitui terrível chaga moral, que o médium deve cicatrizar mediante a terapia da humildade e do trabalho anônimo. Desse modo, a arrogância, a presunção, a vaidade que exaltam o ego diminuem a qualidade dos ditados mediúnicos de que se faz portador aquele que assim se mantém. Já o benfeitor Miramez, por meio da psicografia de João Nunes Maia, no livro Segurança Mediúnica , nos adverte sobre os perigos e as consequências da vaidade na vida do medianeiro, dos quais destacamos, em síntese: “A vaidade, nos círculos mediúnicos, é fato comum. Os melindres ainda não deixaram de existir entre os companheiros que nos servem de instrumentos. Essas inferioridades são sutis, difíceis de serem registradas por seus possuidores, mas a reforma nunca é impossível, desde que a educação e a disciplina sejam constantes." Em seguida, dando continuidade ao seu pensamento, destaca o autor espiritual: "Deves ter cuidado com a vaidade. Ela é sutil, nos caminhos do iniciado e, muito mais, no iniciando. Mais ainda, ela tem o poder de transformação, para não ser reconhecida como tal. Foge do alarde do que fazes de bom. Não há necessidade de seres reconhecido como bom, como caridoso. A nossa obrigação dispensa toda espécie de vangloria, principalmente a autovalorização. [...] O médium que imagina, visualiza e começa a criar uma autoadmiração, não se lembrou de orar e vigiar. É levado pela falsa superioridade que desemboca na areia movediça.” RECOMENDAÇÕES BÁSICAS Na obra em questão, Miramez finaliza sua exposição oferecendo orientações valiosas sobre como superar a vaidade, o orgulho e outros sentimentos de autoexaltação. A seguir, transcrevemos — em síntese — os tópicos que resumem essas advertências e esclarecimentos. A vaidade orgulhosa faz-nos perder a sensibilidade, como nos desvia a audição e apaga a nossa visão de sorte a não sentirmos, não ouvirmos e não vermos os avisos de vigilância, que vêm de todos os lados. O candidato a médium deve suprimir da sua mente toda ordem de vaidade, todo tipo de impulso que o leva para o orgulho e a prepotência, sempre se esquecendo das ofensas recebidas. Desfaze-te dos pensamentos fixos, principalmente aqueles alimentados pela vaidade e pelo orgulho. Não queiras mostrar que tudo o que fazes é o certo; O homem de conduta reta é sempre abastecido de energias superiores, desde que o orgulho e a vaidade não tomem seu coração. O verdadeiro saber cobre-se com a simplicidade e a discrição. Quase sempre esses médiuns sucumbem, por despertarem em seus sentimentos a vaidade, o orgulho e a autoadmiração. Diante do que foi exposto, podemos concluir que a vaidade constitui uma ameaça significativa à trajetória e à vida do médium. Manifestando-se de forma gradual e silenciosa, esse sentimento/atitude pode levá-lo a um estado de autoengano e autoilusão, abrindo precedentes que culminarão fatalmente em um processo de fascinação e mistificação, tornando-o um joguete dos Espíritos inferiores. MÉDIUNS x ELOGIOS Elogios aparentemente inofensivos, por menores e mais sinceros que possam ser, quase sempre despertam sentimentos de orgulho, vaidade e exaltação em quem os recebe. À vista disso, o médium deve evitar todos os tipos de elogios, bajulações e, principalmente, o endeusamento que frequentemente se apresenta em seu dia a dia. Em única palavra: deves crer que tudo provém de Deus e de seus emissários superiores, sendo ele, o médium, apenas um instrumento a ser manuseado pelas mãos invisíveis da caridade divina, assim como o cirurgião manuseia seu bisturi em prol de ajudar os enfermos. Para ser um bom instrumento, além das diretrizes acima destacadas, o medianeiro deve buscar banir do seu trabalho mediúnico, assim como da sua vida, toda espécie de vaidade e orgulho, abrindo espaço para que a caridade e a humildade se façam cada vez mais presentes no seu íntimo. IMPORTÂNCIA DA HUMILDADE, POR HERMÍNIO C. MIRANDA O autor espírita Hermínio de Miranda, em Diversidade dos Carismas , destaca que são muitos, ainda, os que julgam que basta sentar-se à mesa mediúnica para começar a produzir fenômenos notáveis, receber espíritos elevados, ter vidências espetaculares ou curar doenças irredutíveis. Nada disso. A primeira atitude a adotar-se, seja ou não este conselho tido como "pregação", é a de humildade. Complementando seu pensamento, adverte-nos o autor: " Não pense que sua mediunidade vai abalar o mundo ou servir de veículo a revelações sensacionais. É mais fácil perder-se uma oportunidade de exercício mediúnico razoável pela vaidade do que por qualquer outro obstáculo; e mais desastroso, porque, em vez de uma contribuição modesta, porém positiva, optamos pelo desacerto." Ainda na referida obra, Hermínio esclarece que não é nada difícil para um espírito (ou uma equipe deles) promover fenômenos insólitos em grupamentos humanos despreparados, fazer revelações pessoais, prever acontecimentos de pequena monta, que acabam por ocorrer mesmo, e até promover curas. Por meio de tais artifícios acabam por conquistar a confiança ilimitada dos incautos. Daí em diante, será simples continuidade, impingindo tranquilamente instruções, impondo rituais, formulando doutrinas exóticas, criando até uma nova seita. Por fim, Hermínio C. Miranda conclui o seu raciocínio, afirmando que a habilidade e a malícia de alguns desses espíritos só é superada pela ingenuidade e excesso de confiança dos encarnados que a eles se submetem. Assim sendo, a humildade, a prática constante da caridade e o estudo aprofundado da Doutrina Espírita são as melhores formas que o medianeiro possui de se proteger contra essas influências mistificadoras. A humildade foi uma das virtudes ensinadas e exemplificadas pelo próprio Cristo. Portanto, cabe ao médium compreender que, todo e qualquer indício de vaidade, por menor que seja, é sempre uma porta de entrada para diversos males em sua vida. Logo, o médium que se considera um ser privilegiado, superior aos demais, vaidoso, presunçoso, egoísta e orgulhoso, é, por sua própria natureza, um ser desequilibrado. Essa desarmonia interna o torna suscetível à convivência com entidades mistificadoras, que, em pouco tempo, o levarão ao ridículo, à humilhação, à fascinação e à possessão. Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 6: Aspectos Morais da Mediunidade Pergunta 59: Qual o perigo da vaidade na vida do médium? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MAIA , João Nunes (psicografia). Médiuns. Miramez (espírito). Fonte Viva, 19ª edição, 2017. KARDEC , Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile. 21ª edição. Editora Boa Nova, 2017. FRANCO , Divaldo Pereira (psicografia). Mediunidade: Desafios e Bênçãos. Manoel Philomeno De Miranda (espírito). Editora LEAL, 2019. MIRANDA , Hermínio C. Diversidade dos Carismas. LACHATRE, novembro de 2019, 9ª edição.
- 56. Sintonia e Afinidade: Como os pensamentos atraem ou repelem certos Espíritos?
No tocante à mediunidade, tudo é questão de afinidade e sintonia. Quando nos referimos à sintonia, estamos falando diretamente da exteriorização do pensamento. Ao pensar, o homem exterioriza seu pensamento por meio de ondas e frequências que se propagam pelo espaço, semelhante a um aparelho de rádio ou TV. Após a emissão do pensamento, a onda mental exteriorizada parte em busca de seus cômpares, isto é, outras mentes — de encarnados ou desencarnados — que estejam na sua mesma faixa vibracional e que compactuem com seus gostos, prazeres, hábitos e predileções. Ao sintonizar com outros seres de princípios equivalentes, o pensamento retorna ao seu emissor, agora enriquecido com conteúdos, energias e ideias absorvidas dessas mentes afins. Assim, o indivíduo não apenas reencontra seu próprio pensamento, mas recebe-o transformado, carregando influências e insights adicionais que foram gerados nas interações com outras consciências em sintonia. Ou seja, toda vez que o homem emite um simples pensamento, ele está absorvendo muitos outros, provenientes das mentes com as quais entrou automaticamente em sintonia (LEI DE SINTONIA E AFINIDADE). O cérebro humano, portanto, é uma verdadeira usina energética, atraindo — quando estão em mesma sintonia/frequência — ou repelindo — quando não há sintonia e reciprocidade — toda onda mental e fluídica em seu entorno. Por conseguinte, podemos concluir que, segundo a definição espírita, sintonia é a identificação ou similaridade entre as ondas mentais de dois ou mais Espíritos afins (afinidade de gostos, interesses, sentimentos, entre outros), sejam eles encarnados ou não. A ressonância, no entanto, refere-se ao retorno da onda mental que regressa ao seu ponto de origem ao encontrar uma vibração compatível. A sintonia é estabelecida quando uma onda de pensamento ou sentimento é emitida e encontra um correspondente vibratório semelhante. Isto é: só existe sintonia entre os seres quando há afinidade. PENSAMENTOS ELEVADOS x INFERIORES Esse mecanismo — que é contínuo e constante no homem — de emissão e recepção energética ocorre tanto para pensamentos elevados, quanto em pensamentos inferiores. Ao pensarmos em algo nobre e edificante, estamos sintonizando com mentes de igual natureza, mas ao projetarmos um pensamento infeliz ou nefasto, estamos nos conectando com seres que se regozijam na maldade, na mentira e na perversidade . O gravame ocorre justamente nesse caso, quando a reabsorção desses fluidos é malsã e deletéria, proveniente da comunhão com mentes em desalinho e enfermiças, comprometendo e interferindo no comportamento íntimo do sujeito invigilante. À guisa de metáfora, sintonizar no contexto espiritual é semelhante à sintonização de uma faixa de rádio. Por exemplo, cada estação de rádio possui a sua frequência própria, onde todos aqueles que sintonizam nessa faixa sonora passam a ter acesso ao que a emissora de rádio está transmitindo. Da mesma forma, quando um indivíduo emana um pensamento, ele está emitindo uma onda mental que será captada por todos aqueles que se encontram em sua mesma frequência e vibração. Todas as mentes, sejam de encarnados ou desencarnados, que tiverem pensamentos e sentimentos similares – isto é, afinidade – estarão em sintonia e ressonância vibratória entre si. Logo, tendo o homem consciência ou não, ele está em constante contato e sintonia psíquica com outras mentes de natureza igual à sua. Não foi por acaso que Jesus nos recomendou a vigilância e a oração, pois cada qual só interage com as forças de igual vibração, sendo cada indivíduo responsável pelas companhias espirituais que elege para sua vida. PENSAMENTO INFERIOR x PROCESSO OBSESSIVO Os indivíduos habituados a emitirem pensamentos negativos e inferiores são os que mais padecem em processos obsessivos, pois estão em constante intercâmbio com outras mentes em desequilíbrio, as quais, aproveitando-se dessas aberturas, passam a perseguir e a obsidiar o sujeito invigilante, buscando dominá-lo e influenciá-lo ao mal. Em Roteiro , o benfeitor Emmanuel, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, destaca que a mente, em qualquer plano, emite e recebe, dá e recolhe, renovando-se constantemente para o alto destino que lhe compete atingir. Estamos assimilando correntes mentais, de maneira permanente. De modo imperceptível, "ingerimos pensamentos" a cada instante, projetando, em torno de nossa individualidade, as forças que acalentamos em nós mesmos. Por isso — arremata Emmanuel — , quem não se habilite a conhecimentos mais altos, quem não exercite a vontade para sobrepor-se às circunstâncias de ordem inferior, padecerá, invariavelmente, a imposição do meio em que se localiza. Em outros termos, o homem está invariavelmente ligado a outros seres, encarnados e desencarnados, onde constantemente é sondado por outras mentes que sintonizam com o seu estado íntimo. O QUE DIZ KARDEC? A esse respeito, em O Livro dos Espíritos , questão 457, Kardec pergunta: — Podem os Espíritos conhecer os nossos mais secretos pensamentos? “Muitas vezes chegam a conhecer o que desejaríeis ocultar de vós mesmos. Nem atos, nem pensamentos se lhes podem dissimular.” Já na questão 484, do referido livro, o insigne codificador indaga: — Os Espíritos se afeiçoam de preferência por certas pessoas? “Os bons Espíritos simpatizam com os homens de bem, ou suscetíveis de se melhorarem; os Espíritos inferiores com os homens viciosos ou que possam vir a sê-los. Daí sua afeição, por causa da semelhança das sensações.” Clarificando, o intercâmbio entre as mentes só ocorre quando os envolvidos estão em uma mesma faixa vibracional e/ou moral. Em vista disso, cada pessoa sintonizará apenas com a faixa mental que ela emite, ou melhor, que se afiniza, seja elevada ou inferior, benéfica ou malsã. Tal sintonia recebe resposta imediata após a emissão do apelo mental, tendo como analogia a imagem de um plugue e uma tomada que se encaixam perfeitamente. DIGA-ME O QUE PENSA, E EU REVELAREI SUAS COMPANHIAS ESPIRITUAIS Em síntese, no início da sua jornada evolutiva, o Espírito tem mais instintos do que razão. Na medida em que vai evoluindo, esses instintos permanecem fixados em seu íntimo. Persistindo em seu adiantamento, pouco a pouco, a base de muita luta e esforço, essas fixações inferiores vão dando espaço a pensamentos e atos mais nobres e elevados. Isso significa que, durante a sua jornada evolutiva, é de suma importância que o médium mantenha a vigilância, pois, por mais que ele tenha consciência do seu processo evolucional, quando ainda se compraz em pensamentos primitivos e de ordem inferior, coloca-se em posição favorável para a comunhão com entidades vampirescas, que se utilizarão das suas más tendências para se alimentarem, induzindo-o ao abismo em graves padecimentos obsessivos. Através da psicografia de Divaldo Pereira Franco, o autor espiritual Manoel Philomeno de Miranda, na obra Mediunidade: Desafios e Bênçãos , informa que na raiz de qualquer distúrbio social, emocional, psíquico, orgânico, intelectivo há, invariavelmente, uma vinculação espiritual negativa. Portanto, para sair da influência e perseguição de Espíritos maléficos e obsessores, é preciso romper com a sintonia até então estabelecida. Nesse contexto, práticas como a leitura edificante, o estudo das obras da codificação, a prece, a realização do evangelho no lar, o atendimento espiritual na casa espírita, o passe, a utilização de água fluidificada, a mudança de padrão mental (o cultivo de bons pensamentos) e a reforma íntima são exemplos de hábitos valiosos. Essas ações visam auxiliar todos aqueles que desejam se libertar das influências espirituais inferiores. PEQUENOS INFORTÚNIOS Não encontrando brechas para atacar suas vítimas, muitas dessas entidades maléficas se afastam, enquanto outras permanecem à espreita, buscando influenciar negativamente as pessoas próximas ao médium. Dessa forma, através dos pequenos infortúnios e contrariedades do dia a dia — seja no trabalho, no trânsito, na faculdade ou no ambiente doméstico —, o médium pode baixar sua vibração. Este é o momento-chave em que os perseguidores sintonizam com suas vítimas, dando ensejo a uma obsessão mais direta. Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 6: Aspectos Morais da Mediunidade Pergunta 56: Sintonia e Afinidade: Como os pensamentos atraem ou repelem certos Espíritos? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS XAVIER , Francisco Cândido. Roteiro. Emmanuel (espírito). FEB Editora, 2021. KARDEC , Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB; 93ª edição. Rio de Janeiro, 2014. KARDEC , Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile. 21ª edição. Editora Boa Nova, 2017. FRANCO , Divaldo Pereira (psicografia). Mediunidade: Desafios e Bênçãos. Manoel Philomeno De Miranda (espírito). Editora LEAL, 2019. FRANCO , Divaldo Pereira; TEIXEIRA, Raul. Diretrizes de Segurança - Mediunidade (questão 27). InterVidas, 2012.
- 44. "Kardecista" é um termo redundante?
Allan Kardec, ao ser confrontado por um visitante que o referenciava como o criador de um sistema filosófico – conforme relatado na obra O que é o Espiritismo – enfatizou que o Espiritismo tem auxiliares de maior preponderância , e que ele, se comparado a esses auxiliares, seria apenas um átomo . Dessa forma, Kardec reafirma que o espiritismo é uma doutrina originária dos Espíritos e não de um homem (referindo-se a si próprio), e adverte que, nesse caso, jamais se poderia dizer: a doutrina de Allan Kardec . Afinal, por que os termos kardecista e espiritismo de mesa branca são usados atualmente? Existe um kardecismo ou diferentes tipos de espiritismo? NEOLOGISMOS CRIADOS POR KARDEC O patriarca do espiritismo criou uma série de neologismos – tais como espiritismo, espíritas, espiritistas, perispírito , dentre outros – para que estes termos pudessem expressar uma ideia nova e assim, não serem confundidos com as ideologias em voga, a exemplo do espiritualismo moderno. Esses vocábulos podem ser mais facilmente encontrados a partir de 18 de abril de 1857, data de lançamento de O Livro dos Espíritos , momento este que marca o nascimento do espiritismo na França. Porém, aqui chamamos a atenção para o ano de 1854, em especial para o livro The Spirit-Rapper, do americano Orestes Augustus Brownson, que anterior ao lançamento da obra primeira de Allan Kardec (1857), já trazia termos semelhantes ao adotado pelo codificador francês. Ao total são 9 menções ao termo spiritists e 15 para spiritualists . Para aprofundarmos nossa compreensão, analisemos o trecho a seguir (p. 311) da obra supracitada de Orestes Augustus Brownson, com destaque para os termos em negrito. The Spiritualists or Spiritists do not deny they assert that the manifestations they witness are strictly anal ogous to the class of facts which have been always re garded as Satanic At first the spirits communicated by rapping and moving furniture But now besides rapping mediums there are writing mediums seeing mediums and speaking mediums . Os espiritualistas ou espíritas não negam, eles afirmam que as manifestações que testemunham são estritamente análogas à classe de fatos que sempre foram considerados satânicos. No início, os espíritos se comunicavam batendo e movendo móveis. Mas agora, além de médiuns que batem, há médiuns escreventes, médiuns videntes e médiuns falantes. Em 1854, havia nos Estados Unidos uma onda espiritualista em ascensão, devido aos últimos acontecimentos de Hydesville (iniciados em 1844, ganhando maior amplitude em 1847 com a chegada da família Fox). Observando o texto acima ( The Spirit-Rapper ) iremos constatar que os vocábulos spiritualists or spiritists (espiritualistas ou espíritas) eram equivalentes em seu significado, tidos na época como sinônimos. Ou seja, na língua inglesa, em meados de 1854, as palavras espiritualistas e espíritas possuíam o mesmo significado, conceito ou definição. Essa onda espiritualista passou da América do Norte para a Europa, fase esta em que surgiram as primeiras notícias sobre as mesas-girantes nas terras do velho mundo. Através das mesas-girantes, como bem sabemos , surgiu o Espiritismo ( vide questão 01 ). Ao leitor atento, será possível perceber que as ideias de comunicação entre os dois planos já eram anteriores a Kardec, sendo estudadas e observadas por diversos outros autores e pesquisadores ao longo dos milênios. Com isso, ao começar seus estudos sobre os fenômenos em questão, Allan Kardec (que era fluente em diversos idiomas, inclusive o inglês) teve a oportunidade, acreditamos nós, de perceber a similaridade dessas palavras e, sabiamente, ao escrever em sua língua nativa, criou neologismos – adaptando-os para o francês –, dando-lhes um significado mais específico, justamente para que não houvessem erros de interpretação quanto aos conceitos apresentados ao longo de suas obras. Sim! Kardec criou termos novos – em francês – para especificar conceitos próprios. Mas qual a origem etimológica desses vocábulos em análise? Atentando ao radical – em negrito – dos termos inicialmente em inglês, poderemos verificar de onde, provavelmente, cada palavra foi originária. Exemplos: Spirit ist (inglês) e Spirit es (francês) Spiritualist s (inglês) e Spiritualist es (francês) Não é de se admirar que o filho de Lyon, ao perceber a imprecisão na qual os termos originários eram empregados em solo americano, passou a dar-lhes um significado mais claro e definido, diferenciando os termos já existentes na língua inglesa dos seus neologismos adaptados para o francês. Desse modo, asseverou sabiamente que todo espírita era espiritualista, mas nem todo espiritualista era espírita. Aos espíritas mais ortodoxos, essas informações podem não ser muito bem-vindas. Mas calma, isso não tira nenhum mérito do exímio codificador. A língua está em constante transformação e é natural que ela se modifique e vá ganhando novas grafias e significados. Salvo raríssimas exceções, todas as palavras que conhecemos hoje tem sua raiz etimológica em alguma outra, a exemplo do vocábulo perispírito que é formada pela junção dos elementos peri (prefixo grego que significa em torno de ou ao redor de ) e spiritus (palavra latina que significa espírito, sopro , alma ) – resultando em um termo que significa, literalmente, em torno do espírito ou envoltório do espírito . ESPÍRITAS KARDECISTAS Ao longo de toda codificação, encontraremos uma única menção – Revista espírita de 1865 – ao termo kardecista. No artigo intitulado Partida de um adversário do Espiritismo para o mundo dos Espíritos, o então padre (o adversário) recém-desencarnado ao ser evocado por Allan Kardec, ressalta: '" Já se operaram divisões entre vós. Existem duas grandes seitas entre os espíritas: os espiritualistas da escola americana e os espíritas da escola francesa. Mas consideremos apenas esta última. Ela é una? Não. Eis, de um lado, os puristas ou kardecistas , que só admitem uma verdade depois de um exame atento e da concordância com todos os dados;" Após a comunicação do padre, Kardec disserta sob as diversas objeções destacadas pelo recém-desencarnado, clarificando ponto a ponto as questões levantadas. Contudo, há uma delas que o codificador não chegou a refutar, nesse caso, nos referimos aos termos puristas ou kardecistas manifestado pelo pároco. Sabemos bem que Kardec priorizava o uso correto das palavras (para evitar dúvidas ou ambiguidade), e nesse caso, não havendo contestação direta por parte do autor, compreendemos que o codificador da doutrina aceitou a definição do termo kardecista ou purista para representar os espíritas que só admitem uma verdade depois de um exame atento e da concordância com todos os dados. O vocábulo kardecista, desse modo, não entra em contradição com a fala anterior de Kardec – encontrada em O que é o Espiritismo –, ao advertir que jamais poderíamos nos referir ao espiritismo como a doutrina de Allan Kardec. De fato, a doutrina tem como origem os ensinos dos Espíritos, sendo Kardec o seu fiel codificador, o bom-senso encarnado, segundo os dizeres do astrônomo francês e autor espírita, Camille Flammarion. Não se contradiz, pois o termo kardecista aqui exposto não infere que a doutrina seja de Allan Kardec, criada por ele, sendo obra de um homem encarnado, mas sim, como uma definição mais específica dentre os diversos tipos, graus ou variações de adeptos do Espiritismo. O kardecista é, portanto – seja na época de Kardec, como na atualidade –, aquele que segue o modus operandi ensinado pelo codificador, isto é, aquele que adota uma postura cautelosa em relação à aceitação das variadas informações fornecidas pelos Espíritos e os demais autores/pesquisadores (encarnados e desencarnados). O modus operandi usado por Kardec, ou melhor, o seu método científico, popularmente conhecido como Controle Universal do Ensino dos Espíritos, se baseia na universalidade das informações. DIFERENÇAS ENTRE CADA TERMO Vale recordar que até recentemente os censos demográficos realizados pelo IBGE – e algumas outras pesquisas – compreendiam as religiões e doutrinas de cunho espiritualistas (ou mediúnicas) como partes de um todo. Ao se declarar espírita , o indivíduo tinha de descrever – em seguida – a qual categoria pertencia, se era espírita kardecista ou de mesa branca, umbandista, candomblecista, etc. Nós dias atuais ainda há quem confunda, por falta de conhecimento ou má vontade, as religiões e doutrinas mediúnicas. Para estes o espiritismo e os demais segmentos espiritualistas formam – ou são – uma única vertente. Ilustrando esta explanação, podemos citar as livrarias ou sites de livros que, ainda na atualidade, vendem sob o letreiro obras espíritas uma infinidade de títulos pertencentes a outras denominações mediúnicas, incluindo temas como magia, bruxaria, simpatias, esoterismo, teosofia, etc. Tais representantes comerciais, assim como a grande parcela da população, enxergam o espiritismo e as demais religiões mediúnicas como partes de um mesmo pacote, sendo a nomenclatura espírita escolhida para representar todos esses segmentos. Desse modo, tudo indica que, pela herança cultural, os termos kardecistas e espiritismo de mesa branca passaram a ser utilizados – com mais frequência no Brasil, perdurando até os dias atuais – para distinguir o espiritista (adepto do espiritismo) dos demais seguidores de outros segmentos, como o próprio espiritualismo, a umbanda, candomblé, etc. Nesse contexto, a expressão kardecista ganha sentido diverso – e mais abrangente – do significado original. De modo sucinto, o espiritismo puro não tem nenhuma ligação com cartas de tarô, búzios, trabalhos de amarração amorosa, de feitiçaria, simpatias, adivinhações, aberturas de caminho, imolação de animais ou cobranças de qualquer espécie. Todas essas práticas não são condizentes com a doutrina espírita, bem como as diretrizes deixadas por Kardec ao longo das suas obras. QUEM É QUEM? Espírita ou espiritista é todo aquele que concorda ou simpatize com, pelo menos, uma parte dos princípios fundamentais do espiritismo, tais como: existência de Deus; imortalidade da alma; reencarnação; pluralidade dos mundos habitados; comunicação com os Espíritos; lei de causa e efeito; etc. No último capítulo (Conclusão) de O Livro dos Espíritos , Kardec classifica os espíritas, dividindo-os em três classes ou graus, sendo: ESPÍRITAS EXPERIMENTADORES - PRIMEIRA CLASSE São aqueles que acreditam nas manifestações dos espíritos e se limitam a comprová-las. Para esses, o Espiritismo é essencialmente uma ciência experimental. Estão interessados nos fenômenos mediúnicos e buscam evidências concretas da existência e comunicação dos espíritos. ESPÍRITAS IMPERFEITOS - SEGUNDA CLASSE São os que percebem as consequências morais do Espiritismo e entendem que os ensinamentos dos espíritos têm implicações éticas e comportamentais. Em outras palavras, são os simpatizantes da filosofia espírita. No entanto, embora reconheçam a importância da moral espírita, ainda não a praticam de forma completa ou constante. ESPÍRITAS VERDADEIROS OU CRISTÃOS - TERCEIRA CLASSE São aqueles que não apenas compreendem e aceitam as consequências morais do Espiritismo, mas também se esforçam por praticar essa moral em suas vidas (transformação moral). Esses espíritas aplicam os ensinamentos de caridade, amor ao próximo, humildade e reforma íntima em sua conduta diária. O Kardecista ou purista , isto é, aquele que só admite uma verdade depois de um exame atento e da concordância com todos os dados, tendo como modus operandi o método científico ensinado por Kardec (Controle Universal do Ensino dos Espíritos), pode estar associado a qualquer uma das classes ou graus acima. Em suma, espírita ou kardecista é o adepto do espiritismo, doutrina codificada por Allan Kardec; assim como, os umbandistas são os que seguem a umbanda; candomblecistas os que são partidários do candomblé; quimbandeiros os adeptos da quimbanda; daimistas os que seguem o santo daime; catimbozeiros os sectários do catimbó; etc. Todos esses segmentos possuem a mediunidade como ponto em comum, mas apesar de qualquer similaridade que eventualmente possa existir, cada religião ou doutrina acima descrita é única no seu modo de proceder ou, ainda mais claro, são diferentes entre si. TERMO REDUNDANTE? Com o advento do Espiritismo no Brasil, ainda em meados do século XIX, diversos grupos espíritas surgiram, impulsionados pelas notícias e relatos das mesas-girantes na Europa e pela difusão das ideias espíritas nos jornais da época. Estudos históricos sobre os grupos espíritas recém-formados revelam uma diversidade de pensamentos e práticas peculiares a cada um deles. Havia grupos que se interessavam apenas pela parte experimental do espiritismo; outros se dedicavam exclusivamente à prática da caridade; alguns não viam necessidade no uso da prece; enquanto outra parcela considerava que a comunicação com os Espíritos não era mais necessária... Tais divergências de interpretações ainda perduram na atualidade, o que fez com que a parcela dos espíritas que zelam pela pureza doutrinária das obras e ensinos de Kardec, isto é, aqueles que seguem o método científico proposto pelo codificador , só admitindo uma verdade depois de um exame atento e da concordância com todos os dados, passasse a usar o termo kardecista de forma explícita e proposital, a fim de se distinguirem dos adeptos do espiritismo à brasileira (os espíritas que não seguem o controle das informações ensinado e adotado por Kardec). Além disso, devido a inúmeros fatores como o sincretismo religioso e os preconceitos enraizados em nossa cultura, a doutrina dos espíritos – codificada por Allan Kardec – é sempre vista de forma generalizada, como se abrangesse uma gama de outras doutrinas e religiões mediúnicas, mesmo não tendo nenhuma similaridade em seu modo de atuação com essas demais vertentes. Desse modo, a expressão kardecista também é usada – no Brasil – para representar o adepto do espiritismo (seja ele pertencente a quaisquer uma das classes ou graus expostos pelo codificador), distinguindo-o dos demais partidários de outros segmentos, como umbanda, candomblé, etc. Sendo assim, não há nenhuma redundância ao usar o termo kardecista para se referir a alguém que é adepto do espiritismo dentro desses contextos apresentados. Ainda hoje esse tema gera bastante efervescência entre os espíritas de diversos graus, porém, desde que pautados no respeito e no amor, todos os estudos acerca desse tópico são válidos. COMPARAÇÃO ENTRE OS TERMOS | EN - FR - PT Vejamos a comparação entre as duas línguas – inglês e francês – usadas pelos autores acima descritos, além de sua tradução para o português: INGLÊS FRANCÊS PORTUGUÊS Spiritists Spirites Espíritas Spiritualists Spiritualistes Espiritualistas KARDEC CRIOU O TERMO MÉDIUM ? Embora Kardec nunca tenha reivindicado a autoria do termo médium , muitos são os estudantes espíritas que acreditam ser esse mais um dos neologismos criados pelo codificador. Vale destacar que o vocábulo médium já era empregado por diversos autores antes mesmo do surgimento do espiritismo em 1857. Na obra supracitada de Orestes Augustus Brownson (1854), os termos médium e médiums aparecem 23 vezes; em 1853, o químico e físico americano Robert Hare publicou a obra Experimental Investigation of the Spirit Manifestations , na qual a palavra médium é usada para descrever aqueles que se comunicam com os espíritos. Nesse mesmo sentido – em eras recuadas, anteriores a Kardec –, também encontraremos o termo apresentado sendo referenciado em obras ocultistas e místicas, assim como, textos que tratam de magia, teosofia e outras práticas esotéricas. CONTROLE UNIVERSAL DO ENSINO DOS ESPÍRITOS Em um breve resumo (sem esgotarmos o tema), podemos dissertar que o controle universal proposto por Kardec, no qual as suas obras se baseiam, tem como norte: a análise crítica e minuciosa das mensagens transmitidas pelos Espíritos, buscando assim, evitar possíveis contradições e deturpações. a comparação das mensagens recebidas por diversos médiuns (de diferentes localidades), acerca dos mesmos temas; a similaridade entre as mensagens (quando provenientes de fontes confiáveis, devem apresentar concordância entre si, não havendo espaço para contradições); o discernimento perante a qualidade das comunicações (se são mensagens confiáveis, anímicas ou mistificadoras); o uso da razão, bom senso e coerência; conformidade com as leis universais (as mensagens eram avaliadas em sua consonância com as leis naturais e morais). De modo prático, o codificador comparava as mensagens de diferentes médiuns e Espíritos, buscando por concordância em suas ideias e princípios; submetia as mensagens à análise racional, descartando aquelas que contrariassem o bom senso, a lógica e os conhecimentos científicos da época. Somente após um controle rigoroso e sistemático é que Kardec acrescentava tais mensagens/ensinos em suas obras. As ideias presentes nas obras da codificação eram frequentemente confrontadas com novas mensagens mediúnicas, buscando confirmação ou refutação. Um dos exemplos mais notáveis da aplicação do Controle Universal do Ensino dos Espíritos por Kardec se encontra em O Livro dos Espíritos, ou melhor, nos bastidores de como essa obra foi criada. Ao reunir as respostas dos Espíritos sobre variados temas, o autor identificou algumas contradições e inconsistências. Através de um processo minucioso de análise e confronto, Kardec refez diversas perguntas aos Espíritos, buscando elucidar as dúvidas e aprimorar a clareza das informações. Essa postura crítica e metódica foi essencial para a construção de uma obra sólida e confiável, que se tornou um dos pilares da doutrina espírita. O mestre de Lyon, por meio de sua aplicação exemplar do Controle Universal do Ensino dos Espíritos, legou um modelo de análise crítica fundamental para o estudo e a prática da doutrina espírita. Todavia, será que ainda podemos afirmar que esse controle proposto, usado e ensinado por Kardec, ainda está em voga no seio do Espiritismo brasileiro, ou de forma específica, se algum dia esse modelo foi utilizado pelos espíritas brasileiros? ATUALIZAÇÃO DAS OBRAS DE KARDEC? Aqui não estamos propondo nenhuma modificação em relação a nomenclatura ou quaisquer alterações ou atualizações nas obras deixadas por Kardec, seus ensinos ou outras diretrizes kardequianas. Ao trazermos essa reflexão, objetivamos apenas entender, se assim tivermos condições, uma fresta do pensamento proposto pelo codificador, assim como, compreender o processo historiográfico do espiritismo no Brasil, além de buscar diferenciar as instituições que seguem o modelo proposto por Kardec (do controle universal das informações) das demais vertentes ou ramificações (mesmo que temporárias) que também atendem pela bandeira ou ideal espírita. Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 4: O Médium e a Casa Espírita Pergunta 44: "Kardecista" é um termo redundante? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KARDEC , Allan. O que é o Espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. FEB Editora, 2016. BROWNSON , Orestes Augustus. The Spirit-Rapper. Hardpress Publishing, 2020. KARDEC , Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB; 93ª edição. Rio de Janeiro, 2014. KARDEC , Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile. 21ª edição. Editora Boa Nova, 2017. KARDEC , Allan. Revista Espírita – Jornal de estudos psicológicos – outubro de 1865. Tradução de Julio Abreu Filho. Edicel, 1ª edição, julho de 2002.
- 58. Qual prece é indicada para afastar os maus espíritos?
Kardec nos afirma, em O Evangelho Segundo o Espiritismo , que a prece é uma invocação, mediante a qual o homem entra, pelo pensamento, em comunicação com o ser a quem se dirige . No livro Estudando a Mediunidade , o escritor e pesquisador espírita Martins Peralva destaca a existência de três tipos de prece/súplica. Prece vertical: A prece vertical é aquela que, ao expressar aspirações verdadeiramente elevadas, dirige-se ao Mais Alto, buscando o auxílio dos missionários das esferas superiores. Quando proferida com sinceridade e humildade, ela sintoniza-se com os mensageiros do amor e da fraternidade. Esse tipo de oração alcança ainda mais força quando temos consciência de que a vontade divina está acima dos nossos desejos e, apesar das vicissitudes da vida, mantemos preservadas a nossa fé e coragem, sem resquícios de rebeldia contra os desígnios de Deus. Prece horizontal: Baseia-se em anseios vulgares e encontra ressonância entre Espíritos que ainda estão presos às inquietações e problemas terrestres (diferentemente da prece vertical, projeta-se horizontalmente e não para o alto). Na prece horizontal, contamos com a colaboração de entidades amigas próximas à nossa própria evolução, que, assim como nós, se ocupam com os problemas ainda ligados à Terra e às questões cotidianas, familiares e afins. Invocação descendente: Ao realizarmos um apelo — que aqui não chamaremos de prece, mas de invocação — marcado por pedidos inadequados, como a vingança, cobiça, arrogância e outros sentimentos inferiores, sintonizamos automaticamente com seres de baixo teor vibratório que passarão a nos ajudar na realização desses anseios e pedidos. Entretanto, para esses seres, ao contrário dos emissários do bem que trabalham em nome do amor e da caridade, há um alto preço a ser pago. O pagamento dessa ajuda — que nós mesmos pedimos com apelos inferiores — é a obsessão, a vampirização e a perseguição, não apenas no plano físico (como encarnados), mas também após o desencarne, no plano espiritual. Em outras palavras, o indivíduo, seja ele médium ou não, acaba por descobrir, a duras penas, que, para realizar um trabalho de magia desse nível, não é necessário procurar qualquer local físico específico. Basta manifestar mentalmente o desejo de ferir alguém, expô-lo ao ridículo, levá-lo ao sofrimento, vingar-se, ou nutrir qualquer outra aspiração sombria. Esse simples apelo, feito por meio do pensamento, sintoniza-o de imediato com Espíritos de mesma natureza, que passam a contribuir, sem medir esforços, para a concretização do objetivo proposto. PACTOS COM OS MAUS ESPÍRITOS, SEGUNDO KARDEC A este respeito, corroborando com o nosso ponto de vista, encontraremos em O Livro dos Espíritos , questão 549, a seguinte indagação feita por Kardec: – Algo de verdade haverá nos pactos com os maus Espíritos? Resposta dos Espíritos superiores: Não, não há pactos. Há, porém, naturezas más que simpatizam com os maus Espíritos. Por exemplo: queres atormentar o teu vizinho e não sabes como hás de fazer. Chamas então por Espíritos inferiores que, como tu, só querem o mal e que, para te ajudarem, exigem que também os sirvas em seus maus desígnios. Mas, não se segue que o teu vizinho não possa livrar-se deles por meio de uma conjuração oposta e pela ação da sua vontade. Em complemento à resposta anterior, os Espíritos esclarecem que aquele que intenta praticar uma ação má, pelo simples fato de alimentar essa intenção, chama em seu auxílio maus Espíritos, aos quais fica então obrigado a servir, porque dele também precisam esses Espíritos, para o mal que queiram fazer. Nisto é que consiste o pacto. Em Instruções Práticas sobre as manifestações espíritas , Allan Kardec trata novamente sobre o tema aqui abordado ao dizer que a prece é uma invocação e, em certos casos uma evocação, pela qual chamamos este ou aquele Espírito. Quando dirigida a Deus, ele nos envia seus mensageiros, os Bons Espíritos. Em sequência, o codificador ressalta que a prece não pode alterar os desígnios da Providência; mas por ela os Bons Espíritos podem vir em nosso auxílio, seja para nos dar a força moral que nos falta, seja para nos sugerir os pensamentos necessários. Daí vem o alívio que se experimenta quando se ora com fervor. [...] Diz-nos, porém, a razão, aliás de acordo com os Espíritos, que a prece dos lábios é uma fórmula vã, quando nela não participa o coração. INTERFERÊNCIAS ESPIRITUAIS E A PREPARAÇÃO PARA O SONO Existem ainda dois momentos em que estamos — de certo modo — mais vulneráveis e nos quais a prece deve ser reforçada em nosso favor: Antes de dormir: A prece é um poderoso escudo contra as armadilhas que poderemos encontrar ao deixarmos o corpo físico (por meio do desdobramento) ao dormirmos, pois, geralmente, existem Espíritos que estão ligados a nós por elos pretéritos (de outras vidas) e que ficam à espreita para nos atacar, impondo-nos acertos de contas ou visando nos controlar, conduzindo-nos por caminhos trevosos através da hipnose e programando-nos para a realização de atos funestos ao despertarmos. A médium e escritora espírita Yvonne do Amaral Pereira, bem como o Espírito André Luiz (pela psicografia de Chico Xavier), afirmam — em suas diversas obras — que certos conflitos, desarmonias, assassinatos e outros atos deploráveis são frequentemente arquitetados e induzidos — através da hipnose — durante as nossas noites de sono. Uma maneira eficaz de nos protegermos contra essas investidas noturnas é através da prece, tanto ao adormecer quanto ao despertar. Sem essa defesa espiritual, corremos o risco de nos rendermos facilmente a essas sugestões criminosas. Além disso, a prece antes de dormir ajuda o indivíduo a elevar sua vibração e a sintonizar com os bons Espíritos. Essa sintonia possibilita, ao desdobrar-se (ou seja, deixar parcialmente o corpo carnal durante o sono físico), o trânsito por regiões mais elevadas, guiado por seus protetores espirituais. Assim, desfruta de um ambiente salutar e restaurador, que o prepara para um despertar renovado e em equilíbrio. Após acordar: O dever primordial de toda criatura humana, o primeiro ato que deve assinalar a sua volta à vida ativa de cada dia, é a prece ( O Evangelho Segundo o Espiritismo ). Quando a alma encarnada retorna ao corpo após o sono orgânico, ela pode trazer, junto ao seu perispírito, fluidos nocivos e prejudiciais. Sendo de origem inferior, dependendo dos lugares por onde o indivíduo — em desdobramento — tenha percorrido, esses fluidos, se não forem dispersados, podem influenciar negativamente nossas emoções, desarmonizando o dia que se inicia. Esse efeito em cadeia nos prepara de maneira desfavorável para a próxima noite de sono. Presos a essas energias malsãs, tornamo-nos mais suscetíveis a sermos atraídos para as regiões umbralinas que se alinham com nossa vibração desajustada, onde esse ciclo hipnótico se repete até cumprir seu propósito maléfico. A prece, portanto, é a ferramenta mais eficaz contra o acúmulo dessas energias nocivas, limpando-nos e fortalecendo-nos contra as sugestões hipnóticas da obsessão, afastando, assim, os espíritos obsessores que buscam nos dominar. A PRECE, SEGUNDO ANDRÉ LUIZ Em diversas obras espíritas e espiritualistas, encontramos relatos significativos sobre o poder da prece. O autor espiritual André Luiz — em quase todas as suas obras — descreve momentos em que testemunhou a sinceridade das preces proferidas, quando jatos de luz, de diversas cores e formas, desciam do alto como respostas automáticas e balsâmicas para aqueles que elevavam seus pensamentos ao Criador. Esses fluidos espirituais provenientes das altas esferas trazem consigo propriedades energéticas que atendem às necessidades do emissor em prece, proporcionando-lhe novo ânimo e força para enfrentar as intempéries e vicissitudes da vida. Eles oferecem alento nas horas de tristeza, promovem calma diante da dor e do desespero, entre outras benesses. Nesse sentido, é fundamental reconhecer que toda prece — humilde e sincera — que emana do nosso coração é ouvida pelos planos superiores, recebendo uma resposta imediata e amorosa. É necessário ressaltar que essa resposta não se restringe ao simples cumprimento de nossos pedidos e súplicas. Afinal, nem tudo o que rogamos a Deus é o melhor para nós. Sob os olhos da sabedoria divina, que possamos confiar nos desígnios superiores, sempre atentando para a máxima: que seja feita a Vossa vontade! IMPORTÂNCIA DA PRECE PARA OS MÉDIUNS O benfeitor Miramez, em sua obra Médiuns , psicografada por João Nunes Maia, nos adverte que todo intercâmbio espiritual — incluindo as reuniões mediúnicas — deve ter como princípio a ação da prece . Dessa forma, toda atividade de natureza espírita deve começar e terminar com a prece. Esse hábito benéfico permite que os trabalhadores encarnados elevem sua vibração e estabeleçam uma conexão mais profunda com os Espíritos superiores que guiam os trabalhos em curso. Em síntese, a prece é um remédio salutar e benéfico contra todos os males. O médium que foge ao hábito da prece sincera e edificante não oferece defesa contra as investidas inferiores que atravancam o seu caminho. Ainda assim, a prece não é garantia de isenção diante das provas que o médium — ou qualquer outra pessoa — precisa passar, mas lhe oferece um grande bálsamo para transpor essas dificuldades com mais serenidade, paciência, força, fé e coragem. Logo, a prece não é benéfica apenas para os médiuns, mas para todas as pessoas que buscam uma comunhão mais íntima com Deus. AFINAL, QUAL A MELHOR PRECE PARA AFASTAR OS MAUS ESPÍRITOS? De acordo com O Evangelho Segundo o Espiritismo , a prece tem três objetivos ou funções principais: pedir, louvar e agradecer. Ela deve ser simples, clara e direta (objetiva), sem a necessidade de ser demasiadamente longa ou adornada com palavras excessivamente elaboradas. A oração deve vir do íntimo do coração, com fé, sinceridade e humildade, evitando qualquer tipo de orgulho, soberba, arrogância, prepotência ou rebeldia. Para orarmos ou proferirmos uma prece, segundo a doutrina espírita, não há necessidade de nenhum lugar, gesto ou ritual em especial. Para isso, basta elevarmos o nosso pensamento ao Pai Criador. Orar é pensar em Deus com um puro sentimento; é conversar com Ele como fazemos com um amigo querido a quem tanto amamos e respeitamos. Todavia, a prece proferida apenas com os lábios (de forma maquinal), onde o coração não participa, não apresenta nenhum valor diante da divindade. Ao proferir uma prece, seja em pensamento ou de forma articulada, precisamos meditar em cada frase que é dita; do contrário, por mais bela que a prece — ou oração — possa ser, não passará de palavras bonitas, mas vazias, sem força, efeito ou apelo sincero. Assim, a melhor prece, independentemente do objetivo, é aquela cuja tônica segue os moldes descritos acima, ou seja: Simples, clara e objetiva (não é pela multiplicidade das palavras que sereis ouvidos); Meditando em cada palavra proferida, seja mentalmente ou em voz alta (o valor da prece reside na sinceridade e intenção de cada frase); Evitando, sempre que possível, palavras mecânicas¹ (aquelas em que o coração não participa); Sincera, humilde e com fé (confiança); Livre de soberba, arrogância, orgulho, prepotência ou rebeldia; Respeitosa e atenta à vontade divina e aos desígnios superiores; Desprovida de gestos ritualísticos. Para orar, basta elevar o pensamento a Deus, sem necessidade de nos pormos em evidência (orai em secreto). ¹ As orações popularmente conhecidas, a exemplo do Pai-Nosso (ensinada pelo próprio Cristo), Ave-Maria, Oração de São Francisco, Prece de Cáritas, entre outras, não devem ser recitadas mecanicamente. É necessário que cada frase seja devidamente meditada, com plena consciência do que está sendo dito. Para maior aprofundamento, recomendamos a leitura atenta dos capítulos XXVII (Pedi e obtereis) e XXVIII (Coletânea de preces espíritas) de O Evangelho Segundo o Espiritismo . Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 6: Aspectos Morais da Mediunidade Pergunta 58: Qual prece é indicada para afastar os maus espíritos? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KARDEC , Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile. 21ª edição. Editora Boa Nova, 2017. PERALVA , Martins. Estudando a Mediunidade. FEB Editora, 2017. KARDEC , Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB; 93ª edição. Rio de Janeiro, 2014. KARDEC , Allan. Instruções Práticas Sobre as Manifestações Espíritas. Pensamento, 1995. MAIA , João Nunes (psicografia). Médiuns. Miramez (espírito). Fonte Viva, 19ª edição, 2017.
- 41. Quais são as diretrizes para o exercício da mediunidade fora do centro espírita?
Da mesma maneira que a intimidade do lar não é o local mais adequado para o exercício da mediunidade, o ambiente de trabalho, a rua, dentre outros não destinados a essas práticas, também não devem ser considerados como tais. ( vide questão 42 ) É sempre válido ressaltar que o melhor lugar para o atendimento aos espíritos sofredores e obsessores é o templo espírita, nas reuniões mediúnicas. Sabemos, porém, que a mediunidade não é uma faculdade que pode ser ligada ou desligada girando apenas um botão ao entrar ou sair de um centro espírita. O médium é, portanto, portador do seu mediunismo 24h por dia, seja em estado de vigília ou dormindo, dentro da casa espírita ou no ambiente de trabalho, na rua ou dentro do próprio lar... Por ser inerente ao ser humano, a mediunidade acompanha o seu portador onde quer que ele se encontre. Isso não significa que o médium deve exercer seu mediunismo em quaisquer ambientes, de modo banal ou com propósitos fúteis, de maneira leviana ou imprudente, de forma irrefletida, sem cautela ou discrição... Em vista disso, aqui nos limitaremos a explanar apenas alguns acontecimentos que podem surgir na vida do medianeiro, além dos riscos e inconvenientes que essas situações possam desencadear em seu dia a dia. O MÉDIUM É SEMPRE VISADO ONDE QUER QUE SE ENCONTRE O médium é um ser visado – onde quer que esteja – tanto pelos seres encarnados como desencarnados. Dessa forma, o medianeiro frequentemente se depara com certas insistências, na qual o bom senso, a prudência e a instrução espiritista devem lhe servir como norte. Um dos casos mais comuns na vida do medianeiro são as perguntas dirigidas a ele por parte de pessoas encarnadas, que ao descobrirem a sua sensibilidade, passam a interrogá-lo sobre variados assuntos, desde os pedidos de comunicações para com os entes queridos, se ele nota a presença de algum obsessor próximo, dentre outras curiosidades vãs. À vista disso, o médium instruído nos ensinos de Kardec e das obras espíritas complementares, entende – pela lógica dos fatos, pela razão e o raciocínio próprio – que nem tudo o que ele enxerga, assim como as comunicações que lhe chega em cenários diversos, podem ou devem ser transmitidas aos demais. SITUAÇÕES COMUNS NA VIDA DO MÉDIUM Para melhor exemplificar a nossa dissertação, sem a pretensão de esgotarmos todas as ocorrências, observemos alguns eventos frequentes na vida do medianeiro: O médium chega a um determinado evento e um Espírito aproxima-se pedindo que ele transmita um recado – aparentemente simples e inofensivo – para uma pessoa ali presente. O medianeiro sensato não compartilhará essa informação, pois compreende que tal ação pode causar um mal-estar generalizado, constrangendo não apenas o encarnado – alvo da suposta comunicação –, assim como, as demais pessoas ao seu redor. Além disso, o médium também considera a possibilidade de estar lidando com um Espírito zombeteiro, que busca enganá-lo e ridicularizá-lo. Quando bem orientado, o médium educado compreende que a própria espiritualidade superior possuí meios adequados de promover o encontro entre o Espírito desencarnado e a pessoa que ele deseja se comunicar, seja por meio do desdobramento parcial através do sono fisiológico ou, até mesmo, intuindo o encarnado para comparecer a um centro espírita onde ele poderá receber essa comunicação adequadamente. Em outra situação, ao esperar o transporte público, o médium começa a sentir uma vontade quase incontrolável de escrever, melhor dizendo, psicografar. Tendo as obras de Kardec como referencial – em especial O Livro dos Médiuns –, saberá que o exercício da psicografia não ocorre dessa maneira, em qualquer lugar, em horários e locais inoportunos. A espiritualidade superior que deseja utilizar a faculdade do médium para a prática da psicografia, recomenda sempre um horário adequado, em local reservado, sempre atentando para a disciplina, a prática da prece e, principalmente, da análise criteriosa do que está sendo escrito ou explanado. (vide questão 43) Os espíritos superiores têm sempre muito trabalho e deveres a realizar e não estão disponíveis a qualquer hora ou ao nosso simples chamado. Apenas os espíritos descompromissados, ainda em estado inferiorizado, atendem a qualquer momento ou se dispõem a perturbar o dia a dia do medianeiro, acordando-o, às vezes, no meio da noite para que ele escreva ou abordando-o no meio da rua ou outros cenários impróprios. O médium que deseja desenvolver a psicografia sabe que para isto existe dia, hora e local adequados, nunca na rua, no trabalho ou despertando de súbito no meio da madrugada. A caminho do trabalho, o medianeiro encontra um Espírito que deseja se comunicar, seja para uma conversação ordinária ou um pedido de ajuda. O médium versado na literatura e na prática espírita sabe bem que a linguagem utilizada pelos Espíritos é – comumente – a do pensamento, sem necessidade da linguagem articulada para que ambos se entendam. Logo, quando preciso, o médium conversa por meio do pensamento. De modo contrário, pode ser visto como uma pessoa insana, desequilibrada, que conversa sozinha . Portanto, o médium bem instruído sabe que apesar de possuir a habilidade de se relacionar com o plano espiritual, não deve utilizar sua faculdade ordinariamente; sabe ainda que as comunicações em ambientes inapropriados podem abrir precedentes para um processo obsessivo, dificultando o afastamento dessas entidades a posteriori, pois, uma afinidade mais ampla pode ser estabelecida entre o médium e o Espírito que insiste em ser notado. Durante a realização do evangelho no lar, de forma recorrente, com a família reunida, um Espírito se torna perceptível a visão de um parente ali presente, portador de vidência. Esse mesmo Espírito mostra-se como um guia familiar (um ente querido já desencarnado e amado por muitos), buscando trazer instruções, colaborar com a harmonia da casa, etc. O médium educado e seguro diante das suas faculdades, compreende bem a diferença entre evangelho no lar e reunião mediúnica (vide questão 79). Entende ainda que, salvo raríssimas exceções (uma ou duas vezes durante toda uma existência, a depender de uma série de fatores), pode ser válido a manifestação, mesmo no ambiente do lar, de um Espírito amigo que visa beneficiar a família com alguma instrução. Entretanto, na maioria dos casos, quando um Espírito busca interferir demasiadamente no estudo do evangelho durante o culto do lar, tentando comunicar-se de forma insistente ou exclusiva, a probabilidade dessa entidade ser de ordem inferior, mistificadora ou vingativa, é bastante grande. Cenas como essa – de Espíritos que se passam por outros – são cabíveis de ocorrer até mesmo no interior da própria casa espírita, entre as quatro paredes de uma reunião mediúnica, diante da presença de todo o grupo (que por vezes se deixa levar por nomes elevados e ilustres), quanto mais no recolhimento do lar, com o médium isolado ou afastado de seus companheiros de ideal. Por essas e outras não cansamos de repetir que o discernimento é imprescindível diante do intercâmbio com o mundo espiritual. O médium espírita – educado e instruído – é discreto, isto é, não faz alarde diante das comunicações ou visões que lhe acomete, muito menos apresenta comportamentos extravagantes, mostrando-se arrepiado, com calafrios, com tonturas, dentre outros desequilíbrios. Se tais fatos ocorrem em seu dia a dia e se isso é realmente derivado de alguma influência externa e/ou espiritual, o médium não chama atenção, permanecendo comedido em suas ações. Além disso, compreende que não deve repassar determinados recados espirituais adiante ou psicografar no meio da rua, muito menos permitir a psicofonia (incorporação) fora da reunião mediúnica, etc. É preciso educação mediúnica; ponderação diante da diversidade de eventos que lhe reclama a percepção psíquica; bom senso, equilíbrio e discernimento para analisar cada quadro que se apresente convidando-o ao uso correto da mediunidade. O QUE FAZER? Como o médium pode proceder ao identificar a presença de um espírito enganador ou vingativo insistindo em atrapalhar o seu psiquismo? Como assevera a médium Yvonne do Amaral Pereira em Devassando o invisível : "A prece será sempre a melhor defesa contra essa espécie de habitantes do mundo invisível. Se a prece for feita com a necessária confiança, levando o médium a se harmonizar com as vibrações superiores do Além, geralmente tais entidades se afastam com rapidez, apavoradas e contrafeitas." Portanto, a prece sincera será sempre a ferramenta mais eficaz diante das investidas da espiritualidade inferior. Por outro lado, há ainda a manifestação – em ambientes aleatórios – de entidades sofredoras, que não apresentam maldade ou malícia em suas intenções, mas sim, a esperança de serem ajudadas e socorridas, amenizando suas angústias, dores e aflições. Então, o que fazer? Também nesse caso, a prece será a companheira ideal, o meio de ajuda para com os companheiros necessitados. Como um bom cristão, recolhido no remanso dos seus pensamentos, ao se deparar com tais situações, o medianeiro pode realizar uma rogativa solicitando o auxílio da espiritualidade superior em prol da entidade ali presente. No silêncio da sua prece, também pode (e deve) pedir o auxílio do seu anjo guardião para que lhe ajude e ampare nesse momento, solicitando ainda que as equipes espirituais resgatem a entidade que esteja necessitada de ajuda. Outra opção similar a essa, de modo direto, tendo a prece sincera como o sustentáculo da sua ação, o próprio médium pode encaminhá-la ao centro espírita no qual faz parte (ou qualquer outro que conheça), usando apenas o seu pensamento e a sua força de vontade. Para isto, em meio à prece, solicitando a ajuda dos bons Espíritos, basta imaginar que a entidade ali presente está sendo levada pela equipe espiritual até o local desejado, envolta em fluidos reconfortantes, de paz, harmonia e tranquilidade... Por fim, ao término de ambas as atividades, o médium não deve esquecer de agradecer aos amigos espirituais pela ajuda naquele momento. Em seguida, deve prosseguir normalmente o seu caminho e as suas ações rotineiras, compreendendo que esse é apenas um ponto a parte no seu dia, evitando fixar o seu pensamento no que ocorreu ou outros desregramentos emocionais. Uma coisa é ser médium 24h por dia (como destacamos anteriormente), outra coisa é pensar em mediunidade a todo instante, como um pensamento fixo (monoideia). Importante esclarecer que as duas técnicas acima citadas não ocorrem via psicofonia (incorporação). Ressaltamos que é apenas o pensamento do médium, a sua prece sincera e a sua força de vontade que são utilizados nesse encaminhamento . Dizemos isto, pois dentro das reuniões mediúnicas realizadas nas casas espíritas (local preparado para o amparo aos Espíritos sofredores e obsessores), as entidades em atendimento – via psicofonia – são revestidas pelos fluidos animalizados do médium encarnado (recebendo o choque anímico), melhorando consideravelmente o seu estado vibratório (o que lhe permite ser melhor atendida, logo após, pela equipe espiritual). Dito isto, ressaltamos que o exercício da psicofonia é amplamente desaconselhado fora das reuniões mediúnicas ocorridas nas casas espíritas. Portanto, é importante que o leitor amigo não confunda essas duas técnicas, isto é, o encaminhamento via pensamento (que pode ser utilizado em qualquer ambiente, sempre de forma amorosa e equilibrada) e o encaminhamento via choque anímico (através da incorporação /psicofonia em uma reunião mediúnica). Todos esses processos devem ser feitos com muito amor e compaixão, nunca com a pretensão de enxotar os Espíritos – obsessores, sofredores ou quaisquer outros –, querendo se ver livre deles ou qualquer outro motivo que não seja apenas a pretensão de ajudar e socorrer. Mediunidade é amor, é equilíbrio, é estudo, é educação e disciplina, é harmonia, é caridade, é ajuda, é resgate e auxílio, é amparo, é eterno aprendizado, é a extensão da misericórdia divina agindo em prol de toda a humanidade, onde semelhante ajuda semelhante... Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 4: O Médium e a Casa Espírita Pergunta 41: Quais são as diretrizes para o exercício da mediunidade fora do centro espírita? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KARDEC , Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Salvador Gentile. 9ª edição. Editora Boa Nova, 2004. PEREIRA , Yvonne do Amaral. Devassando o invisível. 15ª edição. FEB Editora, 2018.
- 52. Livros que não podem faltar na biblioteca de um médium espírita?
Amai-vos e instruí-vos , assim nos disse o Espírito da Verdade em O Evangelho Segundo o Espiritismo . Para além do amor, Jesus – o Espírito da Verdade – nos incitou à busca pela instrução. Não é por coincidência que, ano após ano, somos agraciados com a publicação de diversas obras espíritas, sejam elas psicografadas ou fruto de pesquisas de autores sérios e respeitáveis. Até o presente momento, nenhuma outra doutrina ou filosofia dedicou tanta energia à difusão de livros como o Espiritismo. Como em todas as áreas do conhecimento, não tenhamos dúvidas que, apesar de existir uma infinidade de livros espíritas do mais alto teor moral e educativo, também encontraremos obras inaceitáveis, sem quaisquer fundamentos. LIVROS INDICADOS POR KARDEC Em Catálogo Racional das Obras para se Fundar uma Biblioteca Espírita (1869), Allan Kardec destaca uma série de livros que são essenciais para quem pretende iniciar seus estudos acerca do Espiritismo. No capítulo primeiro, intitulado Obras Fundamentais da Doutrina Espírita, o codificador assevera que os livros básicos da doutrina são: O Livro dos Espíritos O Livro dos Médiuns O Evangelho Segundo o Espiritismo O Céu e o Inferno A Gênese O Que é o Espiritismo O Espiritismo na Sua Expressão Mais Simples Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas Caráter da Revelação Espírita Viagem Espírita em 1862 Coleção Revista Espírita¹ Assim como uma construção precisa de pilares sólidos para ser estável, os espiritistas devem começar seus estudos pelos fundamentos principais da doutrina, isto é, as obras de Allan Kardec. Baseando-se nos ensinamentos de Kardec, o leitor atento estará mais seguro e previdente diante do intercâmbio espiritual, bem como, mais apto para distinguir e separar o joio do trigo, o real do fantasioso, a essência da aparência (vide questão 02: Por que devemos iniciar nossos estudos de educação mediúnica através das obras de Kardec? ) OBRAS COMPLEMENTARES DA DOUTRINA ESPÍRITA No capítulo segundo da obra acima citada – denominado Obras Diversas sobre o espiritismo (Ou Complementares da Doutrina) –, Kardec sugere alguns autores e livros secundários que podem auxiliar no aprofundamento do conhecimento espírita. Em síntese, destacamos abaixo alguns deles, tais como: Síntese da Doutrina Espírita por Florent Loth Deus na Natureza por C. Flammarin Revelações de Além Túmulos por Henri Dozon Estudo e Sessões Espíritas pelo doutor Houat História de Joana D´Arc ditada por ela mesma à senhorita Ermance Dufaux Cartas Sobre o Espiritismo pela Sra. J. – B Manifestações dos Espíritos por Paul Auguez Dos Espíritos e de Suas Manifestações Fluídicas por Mirville Pluralidade dos Mundos Habitados por C. Flammarion A Realidade dos Espíritos pelo barão de Guldenstubré O Espiritismo na Bíblia por H. Stecki As Mesas Girantes por Agénor Gasparin Para além dos nomes já mencionados, pensadores como Léon Denis (cujo primeiro livro só fora publicado em 1885), Gabriel Delanne e Ernest Bozzano também desempenharam papéis cruciais na construção do conhecimento espírita. Ao lado de Allan Kardec, esses autores e suas respectivas obras – tidas como clássicas – são de imensa valia para o conhecimento espírita. Complementando nossa lista, personalidades como Charles Richet, Sir William Crookes, Arthur Conan Doyle e Victor Hugo, de diferentes áreas do conhecimento, emprestaram seu prestígio e talento para lançar luz sobre o Espiritismo, contribuindo significativamente para a divulgação e compreensão da doutrina. AUTORES E OBRAS BRASILEIRAS Após a leitura e estudo das obras fundamentais de Kardec, seguido das obras secundárias da doutrina espírita acima descritas, chegamos às obras e autores brasileiros. Na lista nacional, nomes como Chico Xavier, Divaldo Franco, Dr. Bezerra de Menezes, Hermínio C. Miranda, João Nunes Maia, Raul Teixeira, Yvonne do Amaral Pereira, Zilda Gama, dentre outros, tiveram papel significativo diante da expansão do espiritismo em solo brasileiro. OBRAS CONTRA O ESPIRITISMO Finalizando o capítulo terceiro do catálogo proposto por Kardec, encontraremos um tópico voltado para as obras contrárias ao espiritismo. Sem aflição ou receio, o próprio codificador recomenda uma gama de obras que vão de encontro aos ensinos dos Espíritos superiores, asseverando que proibir um livro é dar mostras de que o tememos. O Espiritismo, longe de temer a divulgação dos escritos publicados contra ele e interditar sua leitura aos adeptos, chama a atenção destes e do público para tais obras, a fim de que possam julgar por comparação. Desse modo, é justo relembrarmos o que asseverou o apóstolo Paulo aos Tessalonicenses, em sua primeira epístola: Examinai tudo: abraçai o que é bom. (I Tessalonicenses 5:21) Este ensinamento é válido para todas as obras doutrinárias, independentemente do médium que as recebeu, do espírito que as assinou, da fama do palestrante ou da instituição que as divulgou. Sendo assim, recomendamos aos adeptos da doutrina espírita que sempre baseiem seus estudos nas obras de Allan Kardec. Somente através do estudo disciplinado das obras de Kardec, aliado ao exame rigoroso da razão e do bom senso, poderemos identificar o que é verdadeiramente oriundo dos Espíritos superiores e o que é fruto da contribuição anímica (opinião pessoal) do médium ou autor. A vista disso, toda mensagem ou ensinamento espírita deve ser submetido a uma análise racional, lógica e rigorosa. Em suma, esse é um dos princípios ensinados e usado por Kardec no decorrer da codificação, conhecido como Controle Universal do Ensino dos Espíritos. ( vide questão 44 ) OBRAS DE KARDEC: POR ONDE COMEÇAR? Encontraremos essa resposta em O Livro dos Médiuns , capítulo III. O codificador recomenda que, para obter uma compreensão preliminar através de suas obras, elas devem ser lidas na seguinte ordem: 1 - O que é o Espiritismo? 2 - O Livro dos Espíritos 3 - O Livro dos Médiuns 4.º. A Revue Spirite (Revista Espírita) Allan Kardec, na supracitada obra, ressalta que para se obter um entendimento abrangente sobre qualquer ciência, é essencial ler todo o material disponível sobre o tema, ou pelo menos os principais textos. Isso envolve não apenas a análise das obras de um único autor, mas também a consideração das críticas e defesas, e o estudo dos diversos sistemas, para que se possa fazer uma comparação e formar um julgamento bem fundamentado. ¹ Kardec catalogou e revisou as edições da Revista Espírita que vão de janeiro de 1858 a abril de 1869 (em um total de 12 volumes). As publicações posteriores não são de sua autoria ou responsabilidade. Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 5: Mentores Espirituais Pergunta 52: Livros que não podem faltar na biblioteca de um médium espírita? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KARDEC , Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile. 21ª edição. Editora Boa Nova, 2017. KARDEC , Allan. Catálogo Racional das Obras para se Fundar uma Biblioteca Espírita. Tradução de Julia Vidili. São Paulo: Madras, 2014. BÍBLIA DE JERUSALÉM . I Tessalonicenses 5:21. 14ª impressão. Editora PAULUS, 2017. MAIA , João Nunes (psicografia). Médiuns. Miramez (espírito). Fonte Viva, 19ª edição, 2017. KARDEC , Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Salvador Gentile. 9ª edição. Editora Boa Nova, 2004.
- 43. Psicografia em casa: o que devo saber antes de iniciar esta prática?
A mediunidade é manifestada por diferentes tipos e especificidades, a exemplo da vidência, audiência, psicometria, psicofonia, psicografia, efeitos físicos, dentre outras. Geralmente, os médiuns apresentam — concomitantemente — uma ou duas faculdades medianímicas de forma mais acentuada em suas vidas. Alguns são médiuns psicofônicos e de vidência; outros de audiência e psicografia; há médiuns de materializações (raros) e de cura... O que na prática não significa que, mesmo que uma pessoa seja dotada de uma mediunidade ostensiva, pode ser que ela não seja médium de psicografia. A esse respeito, em O Livro dos Médiuns , destaca Allan Kardec: "Desde que se faça ao Espírito uma pergunta de ordem geral, ele responde de modo geral. Ora, como se sabe, nada é mais elástico do que a faculdade mediúnica, pois que pode apresentar-se sob as mais variadas formas e em graus muito diferentes. Pode, portanto, uma pessoa ser médium, sem dar por isso, e num sentido diverso daquele que imagina. A esta pergunta vaga: Sou médium? O Espírito pode responder — Sim . A esta outra mais precisa: Sou médium escrevente? Pode responder — Não. " SOU MÉDIUM ESCREVENTE? Há pessoas que, ao perceberem um simples movimento involuntário no braço — podendo ser um mero espasmo muscular, sem nenhuma relação espiritual — , já cogitam a possibilidade de serem médiuns psicógrafos e passam a relatar que se sentem chamadas para o desenvolvimento da psicografia. Nesse caso, a grande maioria acaba se decepcionando, criando expectativas frustradas e abrindo vias cada vez mais largas que podem, a seu turno, resultar em um processo obsessivo de difícil desvinculação. Outros são os que, por ainda não saberem diferenciar os pensamentos que lhes são próprios (anímico) dos pensamentos dos Espíritos (mediúnico), julgam escrever sob a influência de uma entidade desencarnada, quando na verdade os textos são de suas próprias autorias. PERGUNTAS PERTINENTES Sendo assim, antes de buscarmos o desenvolvimento psicográfico na intimidade do lar, devemos indagar quais os motivos que nos levam a esse desejo. Será realmente um chamado espiritual? Essa inclinação quase irresistível para escrever é realmente abnegada ou no fundo há um desejo oculto de reconhecimento e/ou fama? Eu possuo conhecimento espírita suficiente para lidar com o exercício da psicografia de forma isolada? Nomes e personalidades espirituais ilustres despertam em mim algum tipo de vaidade? Eu consigo reconhecer, seja através da sensação energética que o Espírito emana ou por meio dos seus escritos a sua classificação evolutiva? Sou apto a distinguir com clareza o meu próprio pensamento daquele que é mediúnico, originário de uma comunicação espiritual? Se houve dúvida ou hesitação na resposta de alguma dessas perguntas, convidamos o leitor a prosseguir com a leitura abaixo, buscando conhecer as advertências e orientações expostas por Allan Kardec, Divaldo Franco e Yvonne do Amaral Pereira. O QUE DIZ KARDEC? De fato, Kardec, em sua obra supracitada, não impôs nenhuma restrição direta sobre a prática da psicografia no ambiente doméstico, na intimidade do lar. Contudo, não deixou de enfatizar uma série de diretrizes para que esta prática seja conduzida de maneira séria, sensata e com objetivos nobres. O filho de Lyon nos aconselha a cultivarmos o hábito da prece sincera, evitando a impaciência, os propósitos egoístas, frívolos e triviais... Kardec também nos adverte sobre os tipos de perguntas que podem — ou não — ser dirigidas aos Espíritos, além da importância da calma e do recolhimento adequados para alcançar o intuito desejado. Prosseguindo, o autor nos esclarece que, quando um grupo de médiuns se reúne com o abnegado objetivo de exercitar e desenvolver a psicografia, em um ambiente de absoluto silêncio e recolhimento religioso, facilmente será possível observar que entre os presentes, alguns passam a demonstrar tamanha habilidade que, em pouco tempo, já escrevem com fluidez e maestria. O mestre lionês, no entanto, ressalta que as primeiras comunicações recebidas pelos médiuns psicógrafos — em desenvolvimento — devem ser consideradas como meros exercícios, pois os Espíritos destinados a esse fim são, em sua maioria, de ordem secundária (levianos, zombeteiros, vingativos, mistificadores, etc.). A espiritualidade superior permite que situações como essa ocorram, mesmo com médiuns que apresentam propósitos nobilitantes (nobres), para que eles possam se desenvolver, aprendendo a discernir, analisando as diversas mensagens escritas por seus intermédios, diferenciando uma comunicação elevada de outra mistificadora, dentre outras experiências educativas. Para maior aprofundamento acerca desses conceitos, recomendamos a leitura de O Livro dos Médiuns , de Allan Kardec, em especial, o capítulo XVII – Da formação dos médiuns. PSICOGRAFIA NO AMBIENTE DOMÉSTICO Apesar do codificador asseverar que a prática da psicografia é a mais simples e cômoda de desenvolver através do exercício, trazendo resultados mais satisfatórios e completos (LM, itens 178 e 200), ele não deixou de nos alertar sobre a influência negativa que quase todos os médiuns iniciantes sofrem, o que pode abrir precedentes para um processo obsessivo — de difícil separação — a posteriori. Observando com atenção, o leitor notará que Kardec, entre as orientações sugeridas, recomenda — como uma das opções, especialmente em sua fase inicial — a prática e o exercício da psicografia em grupo. Ora, mas em qual local esse grupo, na atualidade, poderia se reunir de forma acessível e sensata para essa finalidade? Creio que a resposta mais coerente seja: a casa espírita! Onde, por exemplo, um médium em desenvolvimento poderia ser melhor aconselhado e orientado quanto aos seus escritos psicográficos do que no centro em que participa, ao lado de seus companheiros de ideal? Dessa maneira, recomendamos aos médiuns — principalmente aos iniciantes — que exercitem suas faculdades, aqui inclusas a psicografia, preferencialmente nas casas espíritas... O centro espírita é, sem dúvidas, o espaço ideal para o medianeiro exercitar seus dons mediúnicos, bem como, o ambiente propício para as reuniões de desobsessão, o que faculta — aos médiuns ali vinculados — o afastamento das entidades acima descritas, isto é, os Espíritos inferiores que insistem em assediar e enganar o médium em sua fase de desenvolvimento psicográfico. POR QUE ALGUNS MÉDIUNS PODEM PSICOGRAFAR EM CASA, ENQUANTO OUTROS NÃO? A abnegada médium e escritora espírita Yvonne do Amaral Pereira, em À Luz do Consolador , destaca que alguns médiuns, de fato, têm obtido resultados satisfatórios no tocante à psicografia no ambiente doméstico. Estes, por sua vez, exceções ao nosso estudo, são médiuns experientes, conhecedores da doutrina espírita e dos fenômenos mediúnicos, o que lhes permite reconhecer a genuína assistência espiritual por parte dos seus guias e mentores. De forma assertiva, Yvonne ressalta que a inexperiência muitas vezes leva o principiante a se lançar de maneira imprudente às experiências mediúnicas isoladas, o que pode conduzi-lo a graves consequências, como a obsessão. Dando continuidade, a autora destaca que o adepto prudente não se atirará a experiências isoladas, pois sabe que estará desafiando forças da Criação ainda mal conhecidas. Como seguidora fiel aos ensinos de Kardec, Yvonne do Amaral reitera o que o codificador expressou em sua obra acima citada, ao afirmar que médiuns já bastante experientes, com tarefas definidas, psicografam em suas residências, desacompanhados, só assistidos por seus guias espirituais. Mas o iniciante devera deter-se, preparando-se antes ao lado dos companheiros de ideal, para as lutas do difícil, mas glorioso intercâmbio entre o Mundo dos Espíritos e a Terra." DIRETRIZES DE SEGURANÇA O médium e orador espírita Divaldo P. Franco, acerca desse assunto, em Diretrizes de Segurança (questão 47) , destaca que toda reunião mediúnica realizada de forma isolada, em ambientes domésticos ou outros fora do cenário espírita são, certamente, desaconselháveis, devido aos danos que podem surgir desse intercâmbio. Isto é, as mistificações , distonias e aberturas psíquicas com Espíritos desprovidos de propósitos elevados. Em suas palavras, a realização de reuniões mediúnicas em ambientes impróprios é análoga a condução de uma cirurgia em local que não oferece os requisitos necessários para tal, como a assepsia, a equipe especializada, o maquinário cirúrgico, etc. O que podemos deduzir que, nessas circunstâncias desfavoráveis e insalubre, mesmo munidos de boa vontade, os êxitos são bastante raros. Dando continuidade, Divaldo acrescenta que o ambiente no qual as sessões mediúnicas ocorrem vai sendo marcado pelos Espíritos sofredores. Estes, por conta própria, passam a informar aos demais companheiros de aflição sobre o amparo recebido naquele recinto, o que leva a muitos outros Espíritos necessitados a buscarem cada vez mais o refúgio anunciado. Porém, quando esse espaço é o nosso próprio lar, ele acaba por se tornar um verdadeiro pandemônio, onde o caos, a confusão, a balbúrdia e a desordem têm predomínio, justamente por não ser um ambiente preparado para tal mister, isto é, que não oferece quaisquer defesas ou resistências mais significativas contra as investidas de natureza inferior. Concluindo seu ponto de vista, arremata o expositor baiano: " Indagar-se-á: e antes de haver os Centros Espíritas? Enquanto ignoramos, temos uma responsabilidade menor. Mesmo quando não se entendia de assepsia, faziam-se operações, mas o número de óbitos era muito maior. Já que temos o Centro, por que desrespeitá-lo, fazendo sessões mediúnicas noutro lugar, se ele é o determinado para tal? Se o problema é ir-se a um lugar, por que não ao ideal?" (questão 48) Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 4: O Médium e a Casa Espírita Pergunta 43: Psicografia em casa: o que devo saber antes de iniciar esta prática? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KARDEC , Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Salvador Gentile. 9ª edição. Editora Boa Nova, 2004. PEREIRA , Yvonne do Amaral. À luz do Consolador. FEB Editora, 2014. FRANCO , Divaldo Pereira; TEIXEIRA , Raul. Diretrizes de Segurança - Mediunidade. InterVidas, 2012.
- 32. Por que alguns médiuns são acometidos por uma sensação de mal-estar em dias de reuniões mediúnicas?
Todas as reuniões mediúnicas – que sejam sérias, com propósitos nobres, abnegados e edificantes – são preparadas e organizadas com antecedência pelo plano espiritual. Sendo assim, cada uma das entidades que serão atendidas no momento da reunião já se encontra antecipadamente sob a supervisão e os cuidados da equipe espiritual. A este respeito, Manoel Philomeno de Miranda, em Mediunidade: Desafios e Bênçãos , pela psicografia de Divaldo Franco, disserta com esmero sobre os trabalhos prévios da equipe espiritual: “Confiando na equipe humana que assumiu a responsabilidade para participação no serviço de graves consequências, movimentam-se, desde as vésperas, estabelecendo os primeiros contatos psíquicos com aqueles que se comunicarão com os médiuns que lhes servirão de instrumento, desenvolvendo afinidades vibratórias compatíveis com o grau de necessidade de que se encontram possuídos.” Em outras palavras: os benfeitores já traçam, antecipadamente, o roteiro do trabalho que irá ocorrer em cada reunião mediúnica, sabendo de antemão as entidades que serão socorridas e os médiuns responsáveis que irão atende r – especificamente – a quele Espírito, de acordo com a afinidade fluídica entre ambos (médium e Espírito comunicante). Vale destacar que a equipe espiritual nunca improvisa, isto é, sempre trabalha com esmero, prudência e organização prévia. Em casos excepcionais, quando algo não ocorre como o previsto, estão sempre preparados para evitar que o grupo se desestabilize. A equipe espiritual, além da defesa do recinto e a seleção dos Espíritos comunicantes, também mantém cuidados extras – antes e após as comunicações – perante a equipe de médiuns, objetivando poupá-los de maiores danos proveniente das comunicações perturbadoras. SINTONIA ENTRE O MÉDIUM E O ESPÍRITO COMUNICANTE À priori, um dos requisitos para que uma comunicação mediúnica ocorra, sem grandes dificuldades, é a sintonia entre o médium e a entidade comunicante. Visando o melhor desenvolvimento da afinidade entre o médium encarnado e a entidade desencarnada que será atendida, a espiritualidade superior, isto é, os instrutores espirituais responsáveis pelo agrupamento mediúnico, aproximam previamente o Espírito do médium que irá atendê-lo. Lembramos ainda que essa aproximação pode ocorrer horas e, em alguns casos excepcionais, até mesmo dias antes da reunião mediúnica¹. Dessa maneira, estabelecendo de modo antecipado o contato entre médium e Espírito, facultando assim, a sintonia e a afinidade entre ambos, a comunicação mediúnica passa a ocorrer sem grandes embaraços ou outros empecilhos no dia da reunião mediúnica. SENSAÇÃO DE MAL-ESTAR O medianeiro, com bastante frequência, ao perceber a aproximação prévia desses Espíritos, também passa a registrar os indicativos das suas dores, o seu desequilíbrio, suas angústias e qualquer outro sentimento emanado pela entidade, sendo este um dos motivos que levam os médiuns a relatarem desconfortos e súbito mal-estar em dias de reunião mediúnica. É importante assinalar que as sensações que o médium experimenta ao sentir a presença desses Espíritos são apenas uma pequena parcela (porcentagem ou fragmento) daquilo que a entidade realmente está vivenciando. Isto é, se o médium registra uma sensação negativa, o Espírito está sentindo a mesma impressão em uma escala bem mais acentuada. ALÍVIO DA SENSAÇÃO DE MAL-ESTAR A experiência e a literatura espírita vêm nos mostrando, em variados casos, que há médiuns que pressentem, em virtude dessa aproximação antecipada, quais os tipos de Espíritos que se comunicarão por seu intermédio naquele dia. Após o atendimento dessas entidades, o médium costuma relatar a melhora imediata do desconforto que estava sentindo, por vezes, o dia inteiro, seja uma dor de cabeça, uma náusea, uma angústia sufocante, dentre outras. APROXIMAÇÃO ESPONTÂNEA Além dessas aproximações preparadas com toda segurança e zelo pelos benfeitores espirituais, teremos ainda a aproximação espontânea de outras entidades com propósitos menos dignos. O médium sincero, trabalhador devotado do bem, está sempre sob a mira de entidades vingativas, obsessoras e ociosas, devendo manter, para a própria proteção, a vigilância e a oração frequentes, além de uma conduta digna e o pensamento elevado. Quer dizer, a partir do momento que o médium inicia os seus trabalhos na seara divina, em favor dos sofredores – encarnados e desencarnados –, ele passa a ser visto como perigo pelos Espíritos que se comprazem com práticas inferiores, que de modo calculado, começam a persegui-lo e atacá-lo, pois, temem que os seus trabalhos sejam extintos ou desmanchados pelos seareiros da caridade. OBSTÁCULOS PARA CHEGAR AO CENTRO ESPÍRITA Por conseguinte, em dias de reunião mediúnica, não é raro encontrarmos médiuns relatando inúmeros problemas e dificuldades para chegarem ao centro espírita, enquanto outros, desistem do trabalho mediúnico e vão para casa descansar. Chegando ao âmbito doméstico, o cansaço, o abatimento, a dor de cabeça terrível e todo empecilho apresentado, desaparecem como por encanto. Alcançado o objetivo pela espiritualidade das trevas, ou seja, o afastamento do médium – naquele dia – do labor espiritual, esses Espíritos menos esclarecidos se afastam, temporariamente, retornando em um curto período de tempo para uma nova investida nefasta. Esses ataques perduram até o médium ausentar-se definitivamente do seu posto de trabalho espiritual ou até o medianeiro conseguir se desvencilhar desses inimigos do Espiritismo. Por outro lado, encontramos médiuns que se mantém firmes e fortes em sua caminhada espiritual, e mesmo diante das intempéries, das dores e desconfortos que esses ataques e aproximações prévias possam lhe acarretar, apresentam-se no dia, hora e local programado para as reuniões mediúnicas. Ressaltamos ainda, para concluirmos, que esses ataques do astral inferior não são direcionados exclusivamente aos médiuns, mas a todos os trabalhadores do bem, como dirigentes, dialogadores, passistas, etc. Desse modo, recomendamos que, independentemente de como o seareiro do bem esteja se sentindo no dia da reunião mediúnica, o ideal é que ele não falte e compareça ao labor espiritual, pois, desta forma, a equipe espiritual que acompanha os trabalhos da mesa em questão, poderá atender as entidades necessitadas, bem como, o próprio médium e os demais membros da reunião que estejam sob esses ataques e influências negativas. ¹ Ratificamos ainda que essa aproximação prévia para o estabelecimento de sintonia e afinidade não sugere ao médium a prática da psicofonia em local que não seja a casa espírita. Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 3: Prudência Mediúnica Pergunta 32: Por que alguns médiuns são acometidos por uma sensação de mal-estar em dias de reuniões mediúnicas? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FRANCO , Divaldo Pereira (psicografia). Mediunidade: Desafios e Bênçãos. Manoel Philomeno De Miranda (espírito). Editora LEAL, 2019.
- 31. Por que tantos médiuns deixam o Espiritismo e a prática mediúnica nos primeiros anos de trabalho?
O Espiritismo é uma doutrina que constantemente nos convida ao estudo evangélico e, como consequência, amplifica nosso entendimento moral, nos dando força e clareza para modificarmos, mesmo que pouco a pouco, nossos hábitos negativos. Bastante conhecida no meio espiritista, a famigerada reforma íntima exige de cada indivíduo apenas a parcela – intransferível – da responsabilidade que compete ao próprio ser, isto é, o esforço próprio para nos melhorarmos, a dedicação, abdicação, disciplina e muita firmeza de pensamento para não sucumbirmos ou desistirmos diante das intempéries. A doutrina dos Espíritos respeita o adiantamento e o progresso de todas as criaturas, sem condenação, críticas ou julgamento, pois entende que cada pessoa está em um processo evolutivo diferente. Ainda mais, compreende que todos os caminhos levam a Deus, aonde uns chegam mais rápidos, enquanto outros demoram um pouco mais. Allan Kardec asseverou de forma sábia que o verdadeiro Espírita é reconhecido pelo esforço que faz para domar as suas más inclinações. Sem dúvidas, é preciso muito esforço para nos melhorarmos, e mais ainda para sermos espíritas/cristãos. MEDIUNIDADE COMO CONQUISTA DO ESPÍRITO Já a mediunidade não fica para trás. Tendo como base as leis de afinidade e sintonia, encontraremos médiuns bem equilibrados, sintonizados com o bem e o propósito de ajudar, enquanto outros, sintonizados com as esferas mais baixas, apresentam certos desequilíbrios e propósito menos dignos. Em Missionários da Luz , pela psicografia de Chico Xavier, o autor espiritual André Luiz, dissertando sobre a mediunidade, nos diz: “[...] mediunidade elevada ou percepção edificante não constituem atividades mecânicas da personalidade e sim conquistas do Espírito, para cuja consecução não se pode prescindir das iniciações dolorosas, dos trabalhos necessários, com a autoeducação sistemática e perseverante.” Já em Obreiros da Vida Eterna , André Luiz – através da mediunidade de Chico Xavier – nos elucida ao dizer: “[...] a mediunidade é título de serviço como qualquer outro. E há pessoas que pugnam pela obtenção dos títulos, mas desestimam as obrigações que lhes correspondem. Gostariam, por certo, do intercâmbio com o nosso plano, mas, não cogitam de finalidades e responsabilidades. Em vista disso não se estabelecem conjuntos de cooperação para os médiuns em geral, mas apenas para aqueles que estejam dispostos ao trabalho ativo. Há muitos aprendizes que não ultrapassam a fronteira da tentativa, da observação. Desejariam o caminho bem aplainado, exigindo a convivência exclusiva dos Espíritos genuinamente bondosos. Experimentam a luta construtiva, através de sondagens superficiais e, à primeira dificuldade, abandonam compromissos assumidos. " Ainda na referida obra, destaca André Luiz: " A aquisição da fortaleza moral não prescinde das provas arriscadas e angustiosas. Entretanto, em face das exigências naturais do aprendizado, dizem-se feridos na dignidade pessoal. Não suportam a aproximação de infelizes encarnados ou desencarnados, estacionando à menor picada de dor. Para semelhantes experimentadores, seria extremamente difícil a formação de equipes eficientes, representativas de nosso plano. Não se sabe quando estão dispostos a servir.” Em outros termos, André Luiz nos ensina que a mediunidade é uma conquista do espírito e que essa conquista exige trabalho e bastante disciplina para a educação dos nossos sentimentos. Esse processo de aperfeiçoamento somente ocorre através das diversas provas arriscadas e angustiosas que o médium em desenvolvimento vai enfrentando e, quando bem aproveitadas, se aprimorando. RENÚNCIAS E DISCIPLINA Porém, muitos companheiros da seara mediúnica, deslumbrados com os fenômenos e manifestações espirituais, desejam apenas a comunicação com entidades elevadas (talvez em busca de reconhecimento e autopromoção), esquecendo que a mediunidade é doação, é trabalho abnegado e para uso coletivo, devendo ser usada em prol da caridade gratuita e amparo aos sofredores em geral, encarnados e desencarnados. Para isto, a disciplina é indispensável. Nesse caso, podemos entender a disciplina como a abdicação de prazeres momentâneos em prol de um bem maior, isto é, quando eu abro mão de certos hábitos inferiores em busca da harmonia e do equilíbrio, dando início ao processo de reforma íntima e moral. Em Diversidade dos Carismas , o autor Hermínio C. Miranda reitera nosso ponto de vista ao escrever: “Muitas mediunidades promissoras naufragam logo de início, aos primeiros embates, por excesso de confiança ou temor exagerado, por desânimo ante as dificuldades iniciais, por falta de perseverança no treinamento ou por desinteresse em promover certas mudanças íntimas, renunciar a algumas comodidades e pequenos vícios de comportamento ou de imaginação.” Complementando seu pensamento, o escritor espírita Hermínio de Miranda, na supracitada obra observa: “São muitos os que querem ser médiuns de qualquer maneira, mas não estão preparados para aceitar as renúncias e devotamentos que o desenvolvimento e a prática da mediunidade exigem de cada um.” Portanto, nos é lícito dizer que o medianeiro se ausenta do seu posto de trabalho quando não compreende os obstáculos para o seu próprio reerguimento, mostrando-se ainda preso às facilidades do caminho. MEDIUNIDADE TESTIFICADA O benfeitor Miramez, por meio da genuína obra Médiuns (psicografia de João Nunes Maia), chama este período da vida do medianeiro de Mediunidade Testificada , onde destacamos: “O carma, senão a própria vida, coloca no caminho do médium problemas de todas as ordens, visando ao aprumo de sua sensibilidade espiritual. [...] E quando a alma está preparada, passa por um teste de comprovação de várias ordens. São os testemunhos que lhe asseguram as próprias qualidades.” Todos esses obstáculos, as provações, as dificuldades que se fazem presente na vida do medianeiro, é um teste das suas virtudes. É como se Deus balançasse a árvore da mediunidade e ali testificasse quem está maduro, quem caiu, quem ficou firme e quem passou por esse abalo com resiliência, com paciência, com fé e confiança. Sendo assim, médiuns, mantenham-se firmes em seus postos de trabalho, confiem em Deus e lembrem-se sempre das palavras de Jesus, registradas pelo apóstolo Mateus (Mt. 24:13): “Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo.” OUTROS PONTOS IMPORTANTES – As dores e sofrimentos não são exclusivos dos médiuns, mas de todo e qualquer Espírito que transgrediu as leis divinas. O médium do bem, comprometido com a sua evolução, não esmorece diante dos ataques e da dor sofrida. Sabe que essas intempéries são recursos que contribuem para o seu progresso. – Os cuidados que o médium deve ter não se restringem somente aos dias de trabalho mediúnico. A vigilância deve ser constante, pois, sempre existem Espíritos ociosos e insensatos a postos para criar barreiras e infortúnios que visam prejudicar e atrapalhar o medianeiro de múltiplas formas. Por outro lado, o hábito da caridade e da prática do bem, o estudo da doutrina espírita e a reforma moral, atraem a simpatia dos bons Espíritos (que estão sempre dispostos a ajudar). A presença e o contato com os bons Espíritos propiciam a criação de uma atmosfera fluídica elevada e benéfica, anulando ou amenizando os efeitos perturbadores que envolvem a atual egrégora (densa) do planeta. Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 3: Prudência Mediúnica Pergunta 31: Por que tantos médiuns deixam o Espiritismo e a prática mediúnica nos primeiros anos de trabalho? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KARDEC , Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile. 21ª edição. Editora Boa Nova, 2017. XAVIER , Francisco Cândido. Missionários da Luz. André Luiz (espírito). FEB Editora, 2018. XAVIER , Francisco Cândido (psicografia). Obreiros da Vida Eterna. André Luiz (espírito). FEB Editora, 2019. MIRANDA , Hermínio C. Diversidade dos Carismas. LACHATRE, novembro de 2019, 9ª edição. MAIA , João Nunes (psicografia). Médiuns. Miramez (espírito). Fonte Viva, 19ª edição, 2017. BÍBLIA DE JERUSALÉM . Mateus 24:13. 14ª impressão. Editora PAULUS, 2017.
- 21. Como médium, o que posso fazer para reduzir o meu medo em relação aos Espíritos?
Sem dúvidas, o medo é um sentimento que nos paralisa e nos turva a visão, impedindo que enxerguemos com clareza as questões do nosso dia a dia. Há diversos estudos que mostram que o medo pode ser inato ou adquirido. No primeiro caso o medo é inerente ao indivíduo, isto é, que já nasceu com ele de forma instintiva; no outro, esse medo é assimilado no decorrer da vida, seja pela observação dos fatos ou após experienciar situações traumatizantes. Não raramente encontramos famílias que relatam e apresentam medo de fantasmas e de tudo aquilo que é desconhecido ou sobrenatural . Desse modo, é compreensível que uma pessoa oriunda desse núcleo familiar também apresente os mesmos medos no que se refere ao intercâmbio com os Espíritos. Esse é o medo adquirido e já internalizado. Entretanto, através da análise racional dos fatos proporcionada por meio dos estudos espíritas e da mediunidade, aliados a elevação do padrão vibratório do médium e o ingresso gradativo nas atividades mediúnicas, esses temores vão pouco a pouco desaparecendo, pois o medianeiro passa a compreender que tudo aquilo que ele julgava oculto, maravilhoso ou sobrenatural, na verdade se encontram pautados em leis naturais e de causas conhecidas. CONHECIMENTO INADEQUADO É certo que, no início da eclosão da mediunidade, quase sempre há manifestações mais desagradáveis, o que faculta, pela falta de conhecimento e instrução espiritual, o aumento do medo e a vontade de fazer cessar por imediato essas visões, sensações e vozes, por vezes, perturbadoras. Em Diversidade dos Carismas , o autor Hermínio C. Miranda destaca: “Alto preço em angústias, decepções e desequilíbrios emocionais e mentais, perfeitamente evitáveis, é pago a cada instante em consequência da desoladora ignorância em torno da problemática da mediunidade fora do contexto doutrinário do espiritismo. E não poucos desajustes sérios ocorrem no próprio meio espírita, no qual o conhecimento inadequado, insuficiente ou distorcido acaba resultando em problema mais grave do que a ignorância que busca informar-se de maneira correta.” Ainda na referida obra, Hermínio de Miranda diz que “são muitas e imprevistas as dificuldades a vencer na fase inicial da mediunidade. Não faltam turbulências, inquietações e perplexidades nem pessoas despreparadas, mas que se julgam 'entendidas', que não apenas podem complicar seriamente as coisas como até levar o médium iniciante a enveredar por atalhos nos quais acabará por perder-se.” VENCENDO OS OBSTÁCULOS INICIAIS A mediunidade é uma das ferramentas que melhor contribui no progresso evolutivo de quem dela se faz portador, visto que a mediunidade nos convida ao trabalho da caridade gratuita, despertando em nós o desejo de ajudar, de estender a mão a quem necessita, de aprender com os erros dos nossos irmãos que nos precederam a passagem paro o mundo espiritual, dentre outros. O que não significa que o sujeito, aos primeiros sinais da eclosão do mediunismo em sua vida, deva se tornar um trabalhador mediúnico, seja na casa espírita ou quaisquer outros espaços destinados a esse fim. Entregando-se cegamente – sem estudo, apoio ou orientação adequada – à experimentação dos fenômenos mediúnicos, o sujeito incorre em complicações sérias, que podem ir desde a obsessão simples a possessão, a fascinação e/ou subjugação. Com base nas explicações oriundas da obra acima mencionada, assinada por Hermínio C. Miranda, podemos compreender que de fato, é comum que esses primeiros chamamentos para a tarefa mediúnica sejam algo incômodos, insistentes e até perturbadores (achamos sempre inoportuno aquele que nos desperta para o trabalho do dia). É como um processo de iniciação. Torna-se necessário vencer os obstáculos iniciais a fim de que o caminho fique desobstruído para que espíritos de mais elevada condição se aproximem. AUTORIDADE MORAL Dando continuidade, o autor supracitado informa que essa primeira crise, portanto, precisa ser superada com equilíbrio, paciência e vigilância. O médium em potencial tem de conquistar o que Kardec define como ‘ascendente moral’ pelo seu procedimento correto, protegido, pelo recurso da prece. O problema seguinte está em procurar entender o que se passa com o indivíduo. [...] Não adianta tentar ignorar o problema. Ele existe e persistirá. Especialmente quando há compromissos programados para o exercício mediúnico como ser encarnado. ESTUDAR É O MELHOR CAMINHO Sendo a mediunidade um dom inato (que já nasce com o sujeito), dependendo de cada caso, ela pode ser desenvolvida e treinada; ou no mínimo, o médium em desabrochar deve buscar educar suas faculdades visando minimizar as perturbações que acompanham, geralmente, os primeiros raios da eclosão mediúnica. Nesse caso, o conhecimento e o aprendizado são sempre os caminhos mais indicados para a libertação dos medos ou outros temores envolvendo as manifestações medianímicas. Dessa forma, como ponto de partida, acreditamos que o estudo sério e disciplinado, acompanhado por instrutores bem orientados, seja o mais recomendado aos médiuns que desejam conhecer e/ou lidar melhor com a mediunidade em seu dia a dia... Eis o sentido desta máxima recortada da obra O Evangelho Segundo o Espiritismo: Ajuda-te a ti mesmo, que o céu te ajudará. Somos seres espirituais vivendo mais uma experiência carnal, portanto, não há o que temer sobre a nossa própria essência. Sigamos sem medo! SAÚDE EMOCIONAL, MENTAL E FÍSICA A pessoa insegura traz em si, no seu íntimo, reminiscências de experiências fracassadas em outras vidas. Sem dúvidas, a insegurança é um grande obstáculo para o exercício correto da mediunidade . Até mesmo nas comunicações inconscientes, o médium que é inseguro pode apresentar dúvidas ou outras demonstrações perturbadoras, tais como o medo e outros bloqueios. O médium inseguro, desejoso de se melhorar e de vencer os seus clichês mentais negativos, deve primeiramente atentar para o estudo da sua mediunidade . O estudo é a palavra-chave (o estudo permanente e diversificado de obras técnicas e evangélicas de autores confiáveis). Através do estudo, o médium é capaz de conhecer, discernir e se aprofundar diante das captações mentais e fluídicas oriunda das comunicações com os Espíritos. É justamente por meio dos estudos e das diversas experiências nas reuniões mediúnicas que o medianeiro vai libertando-se dos seus conflitos mentais, tais como a insegurança, o medo e os bloqueios em geral. Como nos adverte Manoel Philomeno de Miranda e m Mediunidade: Desafios e Bênçãos , através da psicografia de Divaldo Franco: “Quanto mais saúde emocional, mental e física possuir o medianeiro, melhor será para o resultado das suas atividades espirituais.” Portanto, é preciso que o médium busque trabalhar psicologicamente a sua insegurança, a fim de melhorar a sua autoestima e autoconfiança. CONVERSAÇÕES EDIFICANTES Manoel P. de Miranda, na supramencionada obra, complementa ao dizer que “a ação no bem, sob todas as formas, fará que o médium granjeie merecimento e a convivência saudável com as Entidades superiores interessadas no seu progresso.” Sendo assim, não apenas os medianeiros, mas todas as pessoas – de modo geral – devem atentar-se para os tipos de conversações que mantém em seu dia a dia. A conversa edificante e nobre, pautada em assuntos e temas que visam o amor, a caridade e o bem ao próximo, atraí os Espíritos mais elevados, que passam a inspirar todos aqueles que trazem o desejo sincero de se melhorar. Conversações fúteis, chulas, carregadas de palavrões, zombarias, humor picante, além do prazer por notícias catastróficas, por mortes, assassinatos, fofocas, dentre outros sentimentos animalescos, atraem a presença de Espíritos inferiorizados que orbitam esses mesmos sentimentos desequilibrantes. Dessa forma, o médium deve primar em manter diálogos edificantes, com conteúdos elevados e de significativo valor, facultando assim a sintonia com Espíritos nobres. CARACTERÍSTICAS DOS MÉDIUNS SEGUROS E por fim, os médiuns seguros trazem em si algumas características básicas, tais como, o equilíbrio emocional e mental, conduta idônea e uma relativa paz interior, resultado das suas ações diárias na prática do bem, da autoconfiança, da entrega e dedicação abnegada ao serviço da mediunidade iluminativa. Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima . Capítulo 2: Mediunidade Sem Medo Pergunta 21: Como médium, o que posso fazer para reduzir o meu medo em relação aos Espíritos? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MIRANDA , Hermínio C. Diversidade dos Carismas. LACHATRE, novembro de 2019, 9ª edição. KARDEC , Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile. 21ª edição. Editora Boa Nova, 2017. FRANCO , Divaldo Pereira (psicografia). Mediunidade: Desafios e Bênçãos. Manoel Philomeno De Miranda (espírito). Editora LEAL, 2019.