Apesar do Espiritismo não ter em sua base o uso de ritualísticas de nenhuma ordem, tornou-se costume – principalmente no Brasil – o uso de toalhas de mesa na cor branca revestindo o móvel que serve de apoio aos médiuns no decorrer das reuniões mediúnicas.

Essa prática se tornou tão marcante que ainda hoje é possível ouvirmos alguém se utilizando da expressão espiritismo de mesa branca para diferenciar a doutrina espírita de outras linhagens espiritualistas, ou dando a entender – erroneamente – que existem dois tipos de Espiritismo, o bom/elevado e o ruim/inferior. (vide questão 44)
A FUNÇÃO DA MESA E DAS TOALHAS BRANCAS
De início precisamos compreender que a mesa utilizada nas salas de reuniões mediúnicas é mero acessório que proporciona um conforto maior aos que se encontram em sua volta, na qual podem apoiar seus braços, escrever, colocar uma jarra de água ou uma obra espírita, a exemplo de O Evangelho Segundo o Espiritismo, etc.
Geralmente as salas que são utilizadas para os encontros que visam a prática e o estudo da mediunidade, tal como o GEM (Grupo de Estudo Mediúnico), não possuem mesas, visto que a quantidade de pessoas presentes não comportaria em torno desse móvel.
Por conseguinte, teremos uma sala com várias cadeiras, sem nenhuma mesa e, ainda assim, o exercício da mediunidade ocorre sem nenhum empecilho. Em alguns centros também será possível observar o uso de pranchetas auxiliando o exercício da psicografia, na qual o médium se utiliza deste acessório (prancheta) para lhe dar apoio na hora da escrita.
A mesa não tem, portanto, nenhuma função espiritual, muito menos a cor da toalha que a reveste.
DADOS IMPORTANTES
Isto posto e entendido, passamos adiante. De acordo com o último censo do IBGE (2022), o número de pessoas que se declaram Espíritas no Brasil passou de 3,8 milhões para cerca de 4,3 milhões. Com isso, o espiritismo continua representando cerca de 2% da população brasileira, ficando atrás das duas principais religiões – catolicismo e protestantismo – em termos de número de adeptos. Embora não tenhamos um número exato, diversos estudos apontam que muitos dos adeptos do espiritismo no Brasil são oriundos do catolicismo, fato este que ocorre desde o final do século XIX. Dessa maneira, podemos compreender que, muito provavelmente, estes novos prosélitos (ex-católicos) da doutrina espírita trouxeram arraigados em seu íntimo os costumes de sua antiga crença, dentre eles, a famosa toalha branca que comumente ornamenta o altar nas missas católicas (sendo agora usada para cobrir as mesas nos centros espíritas e nas reuniões mediúnicas).
No contexto atual, pelo que nos foi dado a observar, as cores da toalha utilizada em diversos centros espíritas são de variadas tonalidades, incluindo a branca, mas também cores neutras ou estampadas, e em tantos outros, não há o uso sequer de toalhas (sendo apenas a mesa de madeira ou qualquer outro material), assim como, o uso de lonas mais escuras (o que facilita a sua limpeza).
COR DA ROUPA
Outro ponto refere-se à roupa do médium espírita. Assim como a cor da toalha, da mesa ou da lona, a cor da roupa do médium em nada interfere no seu mediunismo, seja ela branca, preta, rosa, azul, dentre outras.
A única ressalva nesse caso encontra-se para os tipos de roupas que possam vir a atrapalhar ou influenciar negativamente os médiuns de um modo geral.
Atentando para o bom senso e discernimento, todos os membros do agrupamento mediúnico devem buscar evitar alguns comportamentos e extravagâncias. A título de exemplo, podemos citar:
Uso de perfumes fortes: devido ao tamanho geralmente reduzido das salas onde as reuniões mediúnicas ocorrem, o uso de perfumes ou outras fragrâncias muito fortes podem atrapalhar o andamento dos trabalhos em curso, visto que algumas pessoas tendem a ficar enjoadas, sem concentração, com dores de cabeça ou espirrando diante de certos estímulos olfativos.
Roupas cavadas, minúsculas ou com transparências: é importante destacar, logo de início, que cada pessoa é livre para usar a roupa que bem entender e isso não é motivo para escândalos ou assédio por parte de ninguém, principalmente dentro de uma instituição espírita. Aqui nos referimos a um momento de trabalho santificado na seara de Jesus e isso exige de nós algumas diretrizes básicas que ajudam a manter ou cultivar a harmonia do grupo mediúnico, além de preservar a própria intimidade do médium. Em alguns casos o medianeiro pode sofrer o baque ao receber um Espírito desequilibrado. Quando o médium (que é sempre o responsável por toda comunicação que ocorre por seu intermédio) não detém o controle do seu mediunismo, julgando o Espírito muito forte para ele controlar, pode ocorrer que ele venha a se desequilibrar e cair. Utilizando determinadas roupas, como saia ou um vestido curto, nessa queda, pode ser que a sua roupa íntima fique a mostra, à visão de todos os presentes.
O QUE DIZ KARDEC?
Ao longo das obras de Allan Kardec não iremos encontrar nenhuma menção sobre o tipo ou a cor da roupa que o médium espírita deve usar durante as reuniões mediúnicas. A mesma sentença também é válida para a mesa e a toalha que a reveste.
Se este tópico fosse realmente fundamental ou fizesse alguma diferença na prática espírita ou mediúnica, não tenhamos dúvidas que o próprio codificador teria pincelado, mesmo que superficialmente, algo a este respeito.
Em suma, o mais importante para o médium espírita é se vestir de forma discreta, simples, decente, confortável e respeitosa. Isso ajuda a manter um ambiente de seriedade, harmonia e concentração, sem distrações visuais ou olfativas que possam interferir no trabalho espiritual em andamento.
Nas casas propriamente espíritas, não há nenhuma obrigatoriedade em usar trajes específicos ou de uma determinada cor. Atenção! Não devemos confundir a casa espírita com as casas mistas – aquelas que se declaram como espíritas, mas que mesclam o espiritismo com outros segmentos espiritualistas, confundindo os seus adeptos e frequentadores menos instruídos –, tampouco com outras vertentes espiritualistas, como a umbanda, candomblé, etc.
Para os espíritas, a cor da roupa é indiferente, o que realmente importa é a cor do coração, é a intenção do médium e a sua disposição para o trabalho mediúnico. Vale ressaltar que algumas casas espíritas podem ter regras ou costumes específicos sobre a vestimenta dos seus trabalhadores (como a oposição quanto ao uso de bermudas, shorts, camisetas, regatas, bonés, etc.).
Ao medianeiro da doutrina dos Espíritos, é sempre de bom alvitre consultar o centro que se pretenda vincular para saber se há alguma orientação a este respeito; tais instruções devem ser sempre analisadas através da lógica e da razão, evitando misticismos e excentricidades.
Nossas ponderações acima descritas são direcionadas, de modo particular, aos médiuns espíritas, ficando os demais segmentos religiosos livres para seguirem as diretrizes que melhor lhes convém. Não se trata aqui de certo ou errado, mas sim, de que cada vertente siga as orientações que melhor lhes aprouver, cabendo sempre o respeito a todos os trabalhadores do bem.
Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima.
Capítulo 4: O Médium e a Casa Espírita
Pergunta 45: A vestimenta dos médiuns e o uso de toalhas brancas impacta a prática mediúnica nas reuniões espíritas?
Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico 2022: características gerais da população. Rio de Janeiro: IBGE, 2022.