Sem dúvidas, o medo é um sentimento que nos paralisa e nos turva a visão, impedindo que enxerguemos com clareza as questões do nosso dia a dia. Há diversos estudos que mostram que o medo pode ser inato ou adquirido. No primeiro caso o medo é inerente ao indivíduo, isto é, que já nasceu com ele de forma instintiva; no outro, esse medo é assimilado no decorrer da vida, seja pela observação dos fatos ou após experienciar situações traumatizantes.
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Não raramente encontramos famílias que relatam e apresentam medo de fantasmas e de tudo aquilo que é desconhecido ou sobrenatural. Desse modo, é compreensível que uma pessoa oriunda desse núcleo familiar também apresente os mesmos medos no que se refere ao intercâmbio com os Espíritos. Esse é o medo adquirido e já internalizado.
Entretanto, através da análise racional dos fatos proporcionada por meio dos estudos espíritas e da mediunidade, aliados a elevação do padrão vibratório do médium e o ingresso gradativo nas atividades mediúnicas, esses temores vão pouco a pouco desaparecendo, pois o medianeiro passa a compreender que tudo aquilo que ele julgava oculto, maravilhoso ou sobrenatural, na verdade se encontram pautados em leis naturais e de causas conhecidas.
CONHECIMENTO INADEQUADO
É certo que, no início da eclosão da mediunidade, quase sempre há manifestações mais desagradáveis, o que faculta, pela falta de conhecimento e instrução espiritual, o aumento do medo e a vontade de fazer cessar por imediato essas visões, sensações e vozes, por vezes, perturbadoras.
Em Diversidade dos Carismas, o autor Hermínio C. Miranda destaca:
“Alto preço em angústias, decepções e desequilíbrios emocionais e mentais, perfeitamente evitáveis, é pago a cada instante em consequência da desoladora ignorância em torno da problemática da mediunidade fora do contexto doutrinário do espiritismo. E não poucos desajustes sérios ocorrem no próprio meio espírita, no qual o conhecimento inadequado, insuficiente ou distorcido acaba resultando em problema mais grave do que a ignorância que busca informar-se de maneira correta.”
Ainda na referida obra, Hermínio de Miranda diz que “são muitas e imprevistas as dificuldades a vencer na fase inicial da mediunidade. Não faltam turbulências, inquietações e perplexidades nem pessoas despreparadas, mas que se julgam 'entendidas', que não apenas podem complicar seriamente as coisas como até levar o médium iniciante a enveredar por atalhos nos quais acabará por perder-se.”
VENCENDO OS OBSTÁCULOS INICIAIS
A mediunidade é uma das ferramentas que melhor contribui no progresso evolutivo de quem dela se faz portador, visto que a mediunidade nos convida ao trabalho da caridade gratuita, despertando em nós o desejo de ajudar, de estender a mão a quem necessita, de aprender com os erros dos nossos irmãos que nos precederam a passagem paro o mundo espiritual, dentre outros.
O que não significa que o sujeito, aos primeiros sinais da eclosão do mediunismo em sua vida, deva se tornar um trabalhador mediúnico, seja na casa espírita ou quaisquer outros espaços destinados a esse fim. Entregando-se cegamente – sem estudo, apoio ou orientação adequada – à experimentação dos fenômenos mediúnicos, o sujeito incorre em complicações sérias, que podem ir desde a obsessão simples a possessão, a fascinação e/ou subjugação.
Com base nas explicações oriundas da obra acima mencionada, assinada por Hermínio C. Miranda, podemos compreender que de fato, é comum que esses primeiros chamamentos para a tarefa mediúnica sejam algo incômodos, insistentes e até perturbadores (achamos sempre inoportuno aquele que nos desperta para o trabalho do dia). É como um processo de iniciação. Torna-se necessário vencer os obstáculos iniciais a fim de que o caminho fique desobstruído para que espíritos de mais elevada condição se aproximem.
AUTORIDADE MORAL
Dando continuidade, o autor supracitado informa que essa primeira crise, portanto, precisa ser superada com equilíbrio, paciência e vigilância. O médium em potencial tem de conquistar o que Kardec define como ‘ascendente moral’ pelo seu procedimento correto, protegido, pelo recurso da prece. O problema seguinte está em procurar entender o que se passa com o indivíduo. [...] Não adianta tentar ignorar o problema. Ele existe e persistirá. Especialmente quando há compromissos programados para o exercício mediúnico como ser encarnado.
ESTUDAR É O MELHOR CAMINHO
Sendo a mediunidade um dom inato (que já nasce com o sujeito), dependendo de cada caso, ela pode ser desenvolvida e treinada; ou no mínimo, o médium em desabrochar deve buscar educar suas faculdades visando minimizar as perturbações que acompanham, geralmente, os primeiros raios da eclosão mediúnica.
Nesse caso, o conhecimento e o aprendizado são sempre os caminhos mais indicados para a libertação dos medos ou outros temores envolvendo as manifestações medianímicas. Dessa forma, como ponto de partida, acreditamos que o estudo sério e disciplinado, acompanhado por instrutores bem orientados, seja o mais recomendado aos médiuns que desejam conhecer e/ou lidar melhor com a mediunidade em seu dia a dia... Eis o sentido desta máxima recortada da obra O Evangelho Segundo o Espiritismo: Ajuda-te a ti mesmo, que o céu te ajudará.
Somos seres espirituais vivendo mais uma experiência carnal, portanto, não há o que temer sobre a nossa própria essência. Sigamos sem medo!
SAÚDE EMOCIONAL, MENTAL E FÍSICA
A pessoa insegura traz em si, no seu íntimo, reminiscências de experiências fracassadas em outras vidas. Sem dúvidas, a insegurança é um grande obstáculo para o exercício correto da mediunidade.
Até mesmo nas comunicações inconscientes, o médium que é inseguro pode apresentar dúvidas ou outras demonstrações perturbadoras, tais como o medo e outros bloqueios.
O médium inseguro, desejoso de se melhorar e de vencer os seus clichês mentais negativos, deve primeiramente atentar para o estudo da sua mediunidade. O estudo é a palavra-chave (o estudo permanente e diversificado de obras técnicas e evangélicas de autores confiáveis). Através do estudo, o médium é capaz de conhecer, discernir e se aprofundar diante das captações mentais e fluídicas oriunda das comunicações com os Espíritos. É justamente por meio dos estudos e das diversas experiências nas reuniões mediúnicas que o medianeiro vai libertando-se dos seus conflitos mentais, tais como a insegurança, o medo e os bloqueios em geral.
Como nos adverte Manoel Philomeno de Miranda em Mediunidade: Desafios e Bênçãos, através da psicografia de Divaldo Franco:
“Quanto mais saúde emocional, mental e física possuir o medianeiro, melhor será para o resultado das suas atividades espirituais.”
Portanto, é preciso que o médium busque trabalhar psicologicamente a sua insegurança, a fim de melhorar a sua autoestima e autoconfiança.
CONVERSAÇÕES EDIFICANTES
Manoel P. de Miranda, na supramencionada obra, complementa ao dizer que “a ação no bem, sob todas as formas, fará que o médium granjeie merecimento e a convivência saudável com as Entidades superiores interessadas no seu progresso.”
Sendo assim, não apenas os medianeiros, mas todas as pessoas – de modo geral – devem atentar-se para os tipos de conversações que mantém em seu dia a dia. A conversa edificante e nobre, pautada em assuntos e temas que visam o amor, a caridade e o bem ao próximo, atraí os Espíritos mais elevados, que passam a inspirar todos aqueles que trazem o desejo sincero de se melhorar.
Conversações fúteis, chulas, carregadas de palavrões, zombarias, humor picante, além do prazer por notícias catastróficas, por mortes, assassinatos, fofocas, dentre outros sentimentos animalescos, atraem a presença de Espíritos inferiorizados que orbitam esses mesmos sentimentos desequilibrantes. Dessa forma, o médium deve primar em manter diálogos edificantes, com conteúdos elevados e de significativo valor, facultando assim a sintonia com Espíritos nobres.
CARACTERÍSTICAS DOS MÉDIUNS SEGUROS
E por fim, os médiuns seguros trazem em si algumas características básicas, tais como, o equilíbrio emocional e mental, conduta idônea e uma relativa paz interior, resultado das suas ações diárias na prática do bem, da autoconfiança, da entrega e dedicação abnegada ao serviço da mediunidade iluminativa.
Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima.
Capítulo 2: Mediunidade Sem Medo Pergunta 21: Como médium, o que posso fazer para reduzir o meu medo em relação aos Espíritos?
Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MIRANDA, Hermínio C. Diversidade dos Carismas. LACHATRE, novembro de 2019, 9ª edição.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile. 21ª edição. Editora Boa Nova, 2017.
FRANCO, Divaldo Pereira (psicografia). Mediunidade: Desafios e Bênçãos. Manoel Philomeno De Miranda (espírito). Editora LEAL, 2019.