Como vimos, a sede da mediunidade está localizada no perispírito. Até o presente momento, não conhecemos – ou ainda não existe – quaisquer aparelhos no plano terrestre que tenha acesso ao nosso corpo espiritual. Sendo assim, não há indícios físicos e tangíveis que façam distinções entre um médium ostensivo e um não ostensivo.

Para melhor compreensão acerca do tema proposto, segue abaixo o dialogo entre Allan Kardec (A. K.) e o Visitante (V.), descrito no capítulo 1 do livro O Que é o Espiritismo, no qual a mediunidade é o tópico central:
V. – Há algum sinal pelo qual se possa reconhecer a posse dessa aptidão?
A. K. – Até o presente não se conhece um diagnóstico para a mediunidade; todos os que julgamos descobrir, são sem valor; experimentar é o único meio de saber se a faculdade existe. O sexo, a idade e o temperamento são indiferentes; eles aparecem entre os homens e mulheres, entre crianças, velhos, doentes e pessoas sadias. [...] Sua causa física está na assimilação, mais ou menos fácil, dos fluidos perispirituais do encarnado e do Espírito desencarnado.
AUTOANÁLISE
Muitos são os que se interessam pelos fenômenos mediúnicos sem se atentarem para a responsabilidade que essa faculdade traz. Há também quem deseja descobrir se possuí algum tipo de mediunidade ostensiva, apenas por uma vã curiosidade, como se a mediunidade fosse destinada a pessoas especiais, facultando ao seu portador algum título de grandeza, poder, status, etc.
Desse modo, antes da experimentação proposta por Kardec, é necessária uma autoanálise. Essa autoanálise deve ser pautada na sinceridade que o indivíduo traz de si para consigo, questionando-se – de forma honesta – se esse interesse em relação a mediunidade é genuíno, no sentido de estar vendo ou ouvindo Espíritos, assim como, sentindo presenças extrafísicas; ou se tal busca parte apenas de uma mera curiosidade passageira.
O Espiritismo, segundo Allan Kardec (Revista Espírita, agosto de 1863), desaprova toda experiência de pura curiosidade, feita com o propósito de distração, pois não nos devemos divertir com essas coisas. Ou seja, se a tua consciência te acusa a curiosidade infrutífera, interessada em divertimentos fenomênicos, te recomendamos buscar outra área de interesse, pois, nem o Espiritismo nem a mediunidade são pautas para brincadeiras.
Porém, caso algumas percepções estejam realmente em afloramento, manifestando-se com maior intensidade, prosseguimos para a experimentação já citada aqui por Kardec.
EXPERIMENTAÇÃO
A experimentação – geralmente em um curso de educação mediúnica – deve ocorrer sempre em uma casa espírita, acompanhada de perto por instrutores encarnados experientes, membros do corpo regular de trabalhadores do centro espírita, na área mediúnica.
No decorrer do curso de desenvolvimento mediúnico, após um estudo prévio sobre Espiritismo e mediunidade, passamos para a parte prática, onde aqueles que possuem mediunidade ostensiva vão aos poucos revelando os pormenores da aproximação de certas entidades, sendo que cada médium possuí seu tempo próprio para aflorar e desenvolver seu mediunismo.
Após o curso de educação mediúnica, aqueles que não demonstraram – a priori – mediunidade evidente ou que não se manifestou no período reservado para esse fim, passam a integrar o grupo de trabalhadores, caso queiram, em outras funções, tais como, dialogador, passista ou médium de apoio.
A este respeito, o autor espírita Hermínio C. Miranda – em Diversidade dos Carismas –, complementa:
“Qualquer que seja, porém, o tipo de mediunidade em desenvolvimento, é preciso que o médium em formação promova um severo e honesto autoexame, a fim de identificar em que aspectos de comportamento precisa mudar e que eventuais virtudes ou qualidades pessoais devem e podem ser revigoradas. E para isso também uma boa dosagem, de humildade será de vital importância.”
Isto é, para além da autoanálise seguida da experimentação (e consequentemente, do estudo sério da mediunidade), o médium que deseja trilhar seguramente o intercâmbio com os Espíritos, deve acrescentar ao seu roteiro de vida, uma dosagem considerável de humildade, a fim de não se deixar levar por fantasias, excitações desnecessárias, melindres, deslumbramentos, entre outros comportamentos desastrosos, além de iniciar seu processo de reforma íntima (elevando a sua moralidade através de pensamentos e comportamentos sadios).
PROCURANDO À CASA ESPÍRITA
Diariamente, inúmeras pessoas procuram às casas espíritas em busca de ajuda e informações em relação à mediunidade, pois ouviu alguém dizer que ela era médium. Um ponto importante, nesse aspecto, é que realmente o centro espírita é o melhor lugar para se obter suporte referente a esses casos, mas não podemos deixar de informar aos que buscam essas páginas para instrução, que tenham sempre prudência ao dar ouvidos a tudo o que escutam.
A experiência vem nos mostrando que há sim, médiuns ostensivos bastante experientes, íntegros e com vidência apurada, que dependendo da situação, podem perceber se aquela pessoa é portadora de mediunidade ou não; porém, o médium educado nas lides espirituais jamais sairá falando tudo o que enxerga ou causando alarde às pessoas à sua volta, mesmo que seja com a melhor das intenções.
E também há aqueles que – por desconhecerem a racionalidade proposta por Kardec – colocam tudo na conta da espiritualidade, de um tropeço ao arrepio, tudo é culpa dos obsessores, das energias negativas, tudo é mediunidade, tudo é espiritual.
Sendo assim, como recomendou sabiamente Kardec, experimentar é sempre o melhor caminho, senão o mais confiável; todas as demais fórmulas de atestar a mediunidade não são seguras, muito menos confiáveis e cabíveis de contestações.
RESPONSABILIDADE MORAL
Em Mediunidade: Desafios e Bênçãos, o autor espiritual Manoel Philomeno de Miranda, pela psicografia de Divaldo Franco, destaca que quanto mais amplas sejam as possibilidades mediúnicas, mais responsabilidades morais e dívidas a resgatar pesarão na economia evolutiva do medianeiro, que se deve revestir de simplicidade, autoconscientizando-se do muito que deve fazer em favor de si mesmo, vencendo as paixões primitivas e as tendências à prepotência, à dominação, ao exibicionismo que nele predominam.
Ou seja, quanto maior for a ostensividade da mediunidade que o indivíduo possuí, maior será a sua responsabilidade, seu comprometimento e a gravidade dos compromissos assumidos a este respeito.
Por conseguinte, os médiuns ostensivos, aqueles que facilmente se comunicam com os Espíritos, salvo raras exceções, encontram-se em provações reparadoras. Muitos desses indivíduos se perdem em sua caminhada de automelhoramento e ajuda ao próximo devido ao deslumbramento e à autofascinação aos quais se entregam, tendo como ponto de partida a petulância, a presunção e a invigilância.
Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima.
Capítulo 2: Mediunidade Sem Medo Pergunta 13: Como saber se sou médium ostensivo?
Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo. FEB Editora, 2016.
KARDEC, Allan. Revista Espírita – Jornal de estudos psicológicos – agosto de 1863. Tradução de Julio Abreu Filho. Edicel, 1ª edição, julho de 2002.
MIRANDA, Hermínio C. Diversidade dos Carismas. LACHATRE, novembro de 2019, 9ª edição.
FRANCO, Divaldo Pereira (psicografia). Mediunidade: Desafios e Bênçãos. Manoel Philomeno De Miranda (espírito). Editora LEAL, 2019.