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64. Jesus Cristo era médium? Existe médium perfeito?

Muitos podem se perguntar: Jesus, o Espírito mais puro e elevado que já passou pela Terra, poderia ser considerado um médium? Em caso afirmativo, devido à sua perfeição moral, seria ele, então, um médium perfeito?

Imagem colorida e de alta resolução de Allan Kardec, com um fundo escuro semelhante a uma lousa escolar. A imagem destaca o retrato de Kardec em um estilo detalhado e nítido.
Jesus pode ser classificado como médium, segundo a definição espírita?

A resposta para essa questão pode ser encontrada no capítulo XV de A Gênese, onde Kardec esclarece, de forma categórica, que Jesus não se qualificaria como médium, pois o médium é um intermediário, um instrumento dos Espíritos desencarnados. O Cristo, por sua vez, não necessitava de assistência, pois era Ele quem assistia aos outros.


Concluindo seu pensamento, o mestre lionês questiona: qual Espírito teria a audácia de insuflar seus próprios pensamentos na mente do Cristo, incumbindo-o de os transmitir? Se Jesus recebia algum influxo estranho, esse só poderia vir de Deus. De acordo com a definição de um Espírito, Ele, o Cristo, era médium de Deus.



EXISTE MÉDIUM PERFEITO?


Os Espíritos superiores afirmaram a Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, capítulo XX, que a perfeição não existe na Terra e, por conseguinte, também não há médium perfeito. Eles explicaram que, em vez de perfeito, é mais adequado utilizar o termo bom médium, o que já é algo notável, dado que são poucos os que atingem essa qualidade. O médium perfeito seria alguém contra quem os maus Espíritos jamais ousariam agir ou enganar.

MÉDIUNS FAMOSOS, MAS NÃO INFALÍVEIS


Entretanto, no meio espírita, é comum ouvir de alguns adeptos, especialmente entre os menos experientes ou aqueles que permanecem empolgados com os fenômenos mediúnicos, afirmações como: Tal pessoa é um grande médium, pois recebe comunicações de várias entidades e percebe a presença dos Espíritos onde quer que esteja.


Mediunidade é grandeza? Existem grandes médiuns?


Há quem acredite que o médium X ou Y seja infalível e perfeito. Essa percepção — equivocada — geralmente se apoia em fatores como sua fama, a vasta produção psicográfica, as obras assistenciais realizadas, a quantidade de palestras proferidas, as homenagens e títulos recebidos, entre outros destaques midiáticos. Tal crença é ainda reforçada pelo nome do guia espiritual que os acompanha, sobretudo se este for reconhecido como uma personalidade de destaque no movimento espírita.


Por mais adiantado e moralmente evoluído que o médium seja, bem como pela qualidade e envergadura de seus guias e protetores espirituais, há diversos fatores que contribuem para erros e equívocos no processo mediúnico. Dentre eles, podemos destacar:


  • O personalismo, levando à inserção de ideias pessoais nas mensagens mediúnicas;

  • O animismo, inerente a toda comunicação mediúnica;

  • A mistificação, que se distingue do animismo;

  • As influências energéticas do ambiente;

  • As interferências provenientes de encarnados e desencarnados;

  • Os impactos causados por abalos emocionais e psíquicos; etc.



O MÉDIUM NÃO É UM SEMIDEUS

Sobre este assunto, a médium e escritora espírita Yvonne do Amaral Pereira, em À Luz do Consolador, afirma que o médium não é criatura infalível, semideus que pudesse vencer todas as dificuldades para estar ininterruptamente harmonizado com as forças superiores. Às vezes, até será bom que certas dificuldades e decepções o surpreendam, a fim de que não advenham a presunção e a vanglória e ele se esforce sempre por melhorar os próprios atributos e obter possibilidades de intercâmbio mais ou menos permanentes com as esferas iluminadas.


Dando continuidade, Yvonne reitera que o médium, em vez de ser uma personagem infalível, é um ente humano como outro qualquer. [...] Por isso mesmo não será motivo para escândalo ou desilusão se um ou outro médium deixar de apresentar testemunhos intercambiais verdadeiramente perfeitos com o Além, se nos lembrarmos de que até o local, o ambiente onde se exerça o mistério augusto, muitas vezes poderá influir nas comunicações recebidas.


Ainda na referida obra, a autora reforça que o médium é apenas um aparelho receptor de pensamentos e forças psíquicas alheios. Estas, porém, tanto poderão provir de Espíritos esclarecidos como de ignorantes, sendo que até mesmo infiltrações mentais humanas poderão perturbá-lo no momento do fenômeno de transmissão, além da sua própria mente, que poderá, desagradavelmente, intervir se as condições vibratórias em geral não se encontrarem assaz dominadas e controladas pela entidade comunicante.


Complementando a sua observação, Yvonne destaca que o médium nem sempre estará em condições mentais e físicas para exercer o mandato com brilhantismo. Um choque emocional, preocupações dominantes poderão alterar a boa sintonização com o agente exterior, redundando o pormenor em alteração da comunicação que se processa.



O QUE DIZ KARDEC?


Consultemos O Livro dos Médiuns (cap. XX) para ver o que Kardec e os Espíritos superiores dizem sobre esse tópico:


  • Visto que as qualidades morais do médium afastam os Espíritos imperfeitos, como é que um médium dotado de boas qualidades transmite respostas falsas, ou grosseiras?

    Conheces, porventura, todos os escaninhos da alma humana? Demais, pode a criatura ser leviana e frívola, sem que seja viciosa. Também isso se dá, porque, às vezes, ele necessita de uma lição, a fim de manter-se em guarda.


  • Se ele só com os bons Espíritos simpatiza, como permitem estes que seja enganado?

    Os bons Espíritos permitem, às vezes, que isso aconteça com os melhores médiuns, para lhes exercitar a ponderação e para lhes ensinar a discernir o verdadeiro do falso. Depois, por muito bom que seja, um médium jamais é tão perfeito, que não possa ser atacado por algum lado fraco. Isto lhe deve servir de lição. As falsas comunicações, que de tempos a tempos ele recebe, são avisos para que não se considere infalível e não se assoberbe. Porque, o médium que receba as coisas mais notáveis não tem que se gloriar disso, como não o tem o tocador de realejo que obtém belas árias movendo a manivela do seu instrumento.


Isso significa que, muitas vezes, não conseguimos nem mesmo entender completamente o que se passa dentro de nós mesmos, quanto mais o que ocorre nas profundezas da mente e da alma de outra pessoa.


Mesmo os médiuns famosos, que se destacam por seu trabalho social, pela produção mediúnica e por um progresso moral visível, ainda não alcançaram a perfeição. Eles continuam em evolução e sujeitos a falhas e enganos durante esse processo. Por essa razão, os guias e protetores espirituais permitem que tais indivíduos enfrentem circunstâncias desafiadoras, com o objetivo de avaliar e consolidar seu progresso, incentivando a vigilância, a humildade e a submissão aos preceitos do Cristo.


Como não existe médium perfeito, também não há médium infalível. Nesse sentido, é fundamental lembrar que as bases doutrinárias do Espiritismo foram consolidadas por Allan Kardec ao longo de seus livros e periódicos. Dessa forma, ao nos depararmos com a vasta produção mediúnica disponível atualmente, é essencial realizar uma análise crítica de cada obra, priorizando o conteúdo em si, independentemente da identidade do autor, do médium, do Espírito comunicante ou da editora responsável pela publicação.



RAZÃO, LÓGICA E BOM SENSO


Para concluirmos, trazemos — em síntese — as palavras do Espírito Erasto, discípulo de São Paulo, extraídas da obra acima mencionada: Onde, porém, a influência moral do médium se faz realmente sentir, é quando ele substitui, pelas que lhe são pessoais, as ideias que os Espíritos se esforçam por lhe sugerir e também quando tira da sua imaginação teorias fantásticas que, de boa-fé, julga resultarem de uma comunicação intuitiva. [...] Contra este escolho terrível vêm igualmente chocar-se as personalidades ambiciosas que, em falta das comunicações que os bons Espíritos lhes recusam, apresentam suas próprias obras como sendo desses Espíritos. [...]


Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos velhos provérbios. Não admitais, portanto, senão o que seja, aos vossos olhos, de manifesta evidência. Desde que uma opinião nova venha a ser expedida, por pouco que vos pareça duvidosa, fazei-a passar pelo crisol da razão e da lógica e rejeitai destrambelhadamente o que a razão e o bom senso reprovarem. Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea.



 


Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima.

Capítulo 6: Aspectos Morais da Mediunidade

Pergunta 64: Jesus Cristo era médium? Existe médium perfeito?

Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed.



 


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

KARDEC, Allan. A Gênese. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. FEB Editora, 2013. KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Salvador Gentile. 9ª edição. Editora Boa Nova, 2004.

PEREIRA, Yvonne do Amaral. À luz do Consolador. FEB Editora, 2014.

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