Com bastante frequência costumamos ouvir relatos de diversos médiuns com relação às suas ausências em determinados ambientes. Muitos dizem possuir uma mediunidade forte e devido a isso não podem ir, por exemplo, ao Centro da sua cidade ou quaisquer outros locais que possuam um grande número de transeuntes, devido a sensação de mal-estar que os mesmos sentem ao adentrarem ou passarem por esses espaços.

Mas será, de fato, que se trata de uma mediunidade forte ou de uma mediunidade em desequilíbrio? O ambiente realmente interfere no psiquismo do médium? A mediunidade interfere na vida social do medianeiro, privando-o da convivência de certas pessoas e lugares?
Como nos adverte o Espírito Miramez por meio do livro Médiuns, psicografia de João Nunes Maia, o médium é sempre influenciado pelo ambiente.
Cada ambiente possui uma energia – egrégora – que lhe é própria, plasmada pelos seus ocupantes e o meio ao qual se destina. Logo, encontraremos locais cujo magnetismo é salutar, benéfico e balsâmico, enquanto outros, possuirão uma energia enfermiça, nociva e prejudicial. (ver questão 96)
Nos lares e espaços onde a prece, a conduta reta e o pensamento elevado se fazem presentes, encontraremos um ambiente repleto de fluidos regeneradores, benéficos e reconfortantes. Em contrapartida, nas casas e demais espaços onde a invigilância e todos os tipos de vícios, brigas, desequilíbrios e excessos se manifestam, encontraremos um ar pesado, impregnado de um magnetismo menos agradável.
INFLUÊNCIA DOS ESPÍRITOS
Segundo Kardec², os Espíritos estão em toda parte, ao nosso lado, acotovelando-nos e observando-nos sem cessar.
Ao desencarnarem, os Espíritos não se transformam ou santificam-se automaticamente, mas dão continuidade as mesmas práticas que faziam em Terra. Se eram pessoas que exercitavam o bem, a caridade, o desapego e buscavam se melhorar a cada dia, sem dúvidas continuarão essa prática na erraticidade; se eram mesquinhos, ciumentos, presos aos vícios e as futilidades enquanto encarnados, estes também continuarão procurando por suas paixões no plano espiritual.
Dessa maneira, encontraremos nos bares, boates e botecos, Espíritos ainda presos aos prazeres da matéria, vampirizando – e até mesmo subjugando – seres encarnados para suprirem e saciarem os seus desejos. Esse fenômeno também ocorre, de modo geral, em qualquer outro ambiente regado à bebedeira desenfreada e propósitos inferiorizados, onde entidades de baixo teor vibracional incitam os desvarios de toda ordem. De modo similar, os Espíritos sexualmente desequilibrados buscam os motéis e prostíbulos (até mesmo a nossa própria casa, a depender da nossa conduta) para participarem das relações sexuais ocorridas nesses ambientes e assim, satisfazerem suas vontades. Processo semelhante também ocorre com todos os tipos de vícios ou compulsões, sejam eles quais forem (alimentação, compras, acumulação, etc).
SENSAÇÃO DE MAL-ESTAR
Certamente, como nos disse Miramez, o ambiente influencia diretamente o médium, e este, por sua vez, é livre para escolher e identificar, sem romantização ou o sob o rótulo da mediunidade sofredora, quais espaços se sente à vontade para frequentar e permanecer.
Até mesmo o médium experiente e equilibrado, que já consegue discernir o que provém dele próprio, do ambiente ou de uma entidade enfermiça, que já aprendeu a se proteger contra as energias e a influenciação maléfica, volta e meia sente o baque ao adentrar em certos locais.
Muitas vezes isso decorre de uma brecha dada pelo medianeiro, seja por meio de um pensamento ou uma série de atitudes; ou mesmo por não estar tão bem equilibrado naquele dia; ou pela ação dos benfeitores que, aproveitando a presença do médium naquele espaço, socorrem os Espíritos que ali estejam em condição para tal. (ver questão 32)
Dessa forma, cada pessoa é responsável por seus atos e pelas companhias espirituais que elege pra sua vida. O médium que ainda se compraz em bebedeiras, farras ou outros desregramentos, certamente está envolto em companhias de mesmo teor vibratório. O medianeiro que se deixa arrastar, cedendo a comportamentos inferiorizados, aceitando convites para frequentar ambientes cujos propósitos são contrários ao equilíbrio e harmonia, sem dúvidas é um ser debilitado, que ainda não compreendeu a marcha evolutiva da vida, assim como a responsabilidade do labor mediúnico, carecendo dessa forma de amparo e compaixão.
Vejamos o que diz Hermínio de Miranda, em Diversidade dos Carismas, a este respeito:
“Nem a prática espírita em geral, nem a mediunidade em particular, exige como condição preliminar um estado de santidade de todos e de cada um. Se assim fosse, não haveria ninguém entre nós, ou seriam raros aqueles em condições de exercer tais atividades. O importante em tudo isso é que não nos deixemos arrastar pelos chamamentos da inferioridade que remanesce em nós, em decorrência de antigas e recentes atitudes equívocas ou francamente desarmonizadas.”
Ser médium do bem exige um esforço próprio para seguir as recomendações expostas no Evangelho de Jesus, educando assim, os nossos sentimentos e domando as nossas más tendências. O médium deve ser como uma flor de lótus, que mesmo entre a lama, permanece limpa. Muitos são os que desejam o dom da mediunidade, mas poucos estão dispostos a percorrerem o caminho da disciplina e da reforma moral.
Em uma palavra, o médium bem-educado nas lides espirituais já consegue discernir por si próprio quais tipos de ambientes lhes são caros e quais deve evitar. Sabe também que, por maior que seja sua educação mediúnica e seu autoconhecimento, isso não o isenta de sofrer o revés que ambientes mais pesados podem lhe infligir; entende ainda que certos locais como motéis, prostíbulos, bares, boates, dentre outros, não possuem proteção espiritual, estando os seus frequentadores mais acessíveis as influências e ataques espirituais, bem como da própria egrégora ali presente.
VIVENDO EM ISOLAMENTO?
A faculdade mediúnica está presente na vida do seu portador 24h por dia, não se restringindo aos dias e as reuniões no centro espírita. Sendo assim, onde estiver, o medianeiro sempre será influenciado pela energia daquele ambiente – seja ela benéfica ou malsã –, bem como, pelas entidades ao seu redor. (ver questão 66)
O médium, por possuir uma predisposição que o habilita ao contato mais direto com o mundo espiritual, é sempre mais visado e perseguido para ceder às suas más inclinações e assim, satisfazer as entidades desequilibradas e viciosas que o cerca nesses ambientes, ou que lhe induz a frequentar certos locais cujo magnetismo é propício – devido a influência que exerce sobre o sujeito - para o grave arremate.
Dito isto, convidamos os médiuns a utilizarem sempre do bom senso em todas as decisões que pretendam tomar, assim como os locais que desejam frequentar. Dessa forma, ele perceberá que a mediunidade não o torna cativo de nenhuma prisão, e que todo medianeiro é dotado de uma vida igual aos demais. A única diferença é que o médium vigilante sabe reconhecer quais locais lhe são benéficos e quais ambientes deve evitar.
Como Kardec acentuou em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no tópico O homem no mundo:
"Não julgueis, todavia, que, exortando-vos incessantemente à prece e à evocação mental, pretendamos vivais uma vida mística, que vos conserve fora das leis da sociedade onde estais condenados a viver. Não; vivei com os homens da vossa época, como devem viver os homens. Sacrificai às necessidades, mesmo às frivolidades do dia, mas sacrificai com um sentimento de pureza que as possa santificar."
Isto é, nenhum médium é chamado a viver em isolamento, em estado de santidade e em constante oração, privado da convivência das pessoas que lhe são caras ou do lazer sadio. E mesmo quando as circunstâncias o levarem a estar em um ambiente cujo magnetismo é inferior, que sua presença ali seja digna e equilibrada, com especial atenção para que sua consciência esteja sempre limpa e que nenhum dos seus atos ou pensamentos macule o seu caminhar. Para isto, basta elevar o pensamento a Deus em tudo o que for fazer, aonde quer que esteja.
Em outras palavras, o médium é livre para escolher os ambientes que melhor lhe aprouver, não devendo privar-se em participar dos aniversários em família, assim como qualquer outro evento social, muito menos isolar-se, sem sair para lugar algum, por mero medo das influências e companhias espirituais que possa granjear nesses âmbitos. Entretanto, o medianeiro deve, além de educar à sua faculdade por meio do estudo, reconhecer quais convites lhe são tentadores (aparentemente inofensivos, mas que podem ser armadilhas sutis de desafetos do passado), distinguindo aquilo que verdadeiramente lhe convém, bem como, aprender a proteger-se espiritualmente ao entrar em certos locais. (ver questão 78)
CONDUTA EQUILIBRADA
O médium desejoso de servir na seara de Jesus deve buscar uma conduta equilibrada, sem leviandade ou outros comportamentos inferiores. Seguindo estes preceitos, firme e forte na sua autocorrigenda, buscando melhorar-se constantemente, o médium conquista a afeição dos bons Espíritos, dos seus guias e mentores.
Por outro lado, quando o médium permanece em desequilíbrio, indiferente a sua reforma íntima ou aos compromissos sérios do labor mediúnico, apresentando comportamento contrário a moral e a dignidade, torna-se um companheiro necessitado de compaixão e assistência, ficando de fora dos trabalhos organizados pela espiritualidade superior, não como castigo ou punição, mas sim, porque não apresenta minimamente nenhum requisito para as atividades mediúnicas que servem em nome do amor e da caridade.
Afinal, como um indivíduo que ainda não se presta ao mínimo esforço para se corrigir ou se melhorar, ou que não demonstra a ínfima inclinação para tal poderá contribuir nas atividades mediúnicas, tarefas essas que exigem devotamento, renúncia, luta e abnegação? Voltamos a repetir, mediunidade é coisa santa e séria, e como tal, deve ser praticada santamente, seriamente e disciplinadamente.
Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima.
Capítulo 3: Prudência Mediúnica
Pergunta 24: Médium pode ir pra balada? Há lugares que o médium deve evitar?
Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MAIA, João Nunes (psicografia). Médiuns. Miramez (espírito). Fonte Viva, 19ª edição, 12017.
¹XAVIER, Francisco Cândido. Missionários da Luz. André Luiz (espírito). FEB Editora, 2018.
²KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo. FEB Editora, 2016.
MIRANDA, Hermínio C. Diversidade dos Carismas. LACHATRE, novembro de 2019, 9ª edição.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile. 21ª edição. Editora Boa Nova, 2017.
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