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17. O desenvolvimento da mediunidade é obrigatório?

Um dos pontos-base da doutrina espírita é o respeito ao livre arbítrio de cada pessoa. Dizer o que cada um deve ou não fazer seria impor algo; ora, a imposição fere o princípio de liberdade que cada sujeito possui. Deste modo, nos limitamos aqui a esclarecer cada pergunta com base nas luzes da codificação de Allan Kardec, o Evangelho de Jesus Cristo e livros consagrados da literatura espírita, ficando cada indivíduo responsável por suas ações, suas obras, o que faz ou deixa de fazer.

Imagem colorida e de alta resolução de Allan Kardec, com um fundo escuro semelhante a uma lousa escolar. A imagem destaca o retrato de Kardec em um estilo detalhado e nítido.
O desenvolvimento da mediunidade é obrigatório?

A princípio, o que precisamos levar em consideração é se o médium iniciante precisa desenvolver ou apenas educar à sua mediunidade. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Kardec diz que a mediunidade é uma coisa sagrada, que deve ser praticada santamente, religiosamente.


Assim sendo, desenvolver a mediunidade é entender que ela é uma extensão da misericórdia divina que nos concede uma oportunidade de evoluirmos e melhorarmos moralmente, na medida em que trabalhamos – abnegadamente – em prol dos mais necessitados, sejam eles encarnados ou desencarnados.


Portanto, o desenvolvimento da mediunidade deve objetivar o trabalho santificante e gratuito na seara de Jesus. Jamais por motivos de curiosidades, brincadeiras, adivinhações ou mais uma forma de ganhar dinheiro ou obter favores dos Espíritos e/ou encarnados.


Além disso, conforme nos esclarece Hermínio C. Miranda, em Diversidade dos Carismas, a mediunidade é instrumento de trabalho, não para uso e gozo pessoal, mas para servir. Se a pessoa não se sente preparada para isso, é melhor cuidar de outra atividade. Não se esqueça, contudo, de que não se pode simplesmente apertar um botão, torcer uma chave ou aplicar uma rolha às faculdades nascentes que estará tudo resolvido. Se são apenas sinais esparsos e ocasionais, como já vimos, tudo bem, não vale a pena nem é recomendável forçar o desenvolvimento de faculdades nas quais a pessoa não está sequer interessada senão para 'brilhar' ou brincar com fatos insólitos.


No entanto, como afirma o referido autor, se essas manifestações são claras, persistentes e abundantes, é preciso assumir com determinação as responsabilidades que elas trazem. É necessário entregar-se a algumas renúncias, aceitar certa disciplina mental e de comportamento, e dedicar-se às tarefas que, evidentemente, fazem parte de sua programação espiritual.


Complementando o seu ponto de vista, Hermínio C. Miranda reitera que fenômenos mediúnicos esporádicos e isolados, embora indiquem um potencial mediúnico, não necessariamente implicam em um compromisso com a tarefa mediúnica, pois o livre-arbítrio sempre prevalece. Não devemos, por exemplo, levar uma jovem a um centro espírita apenas porque ela viu o espírito de sua avó.


Entretanto, se esses fenômenos persistem e se manifestam de formas variadas - como vidência, efeitos físicos, desdobramentos acompanhados de episódios nitidamente mediúnicos - então é o momento de buscar orientação de alguém com conhecimento e experiência no assunto.



O QUE ACONTECE PARA UMA PESSOA QUE SE RECUSA A DESENVOLVER SUA MEDIUNIDADE?


No livro Plantão de Respostas – Pinga Fogo II, Chico Xavier e Emmanuel clarificam nossa mente em relação ao desenvolvimento da mediunidade, com base na pergunta abaixo:


– O que acontece para uma pessoa que se recusa a desenvolver sua mediunidade, já que esta mediunidade pode ajudar muitas pessoas? Haverá algum castigo ou cobrança?


Com seu jeito peculiar, Chico Xavier – sob a orientação de Emmanuel, seu guia espiritual – responde:


“Energias que não doamos podem ser fatores de desequilíbrio em nossas vidas. Nossa consciência, em geral, nos cobra uma atitude perante as tarefas que nos cabem. Praticando o bem em qualquer parte, estaremos colocando nossa mediunidade a serviço de todos.”


Hermínio C. Miranda, em sua obra acima citada, compactuando desse mesmo tipo de pensamento, afirma:


Tanto é assim que faculdades embotadas, rejeitadas ou ignoradas por médiuns em potencial causam distúrbios às vezes incontornáveis, porque as energias de que os sensitivos dispõem para essa finalidade não estão encontrando seu escoadouro natural no desempenho normal da tarefa.


Ainda na referida obra, o autor destaca que são inúmeros e frequentes os casos de médiuns em potencial que, apenas iniciados no exercício controlado de suas faculdades, livram-se, como por encanto, de pressões íntimas, impaciências, irritações e desassossegos indefiníveis, além de assédios indesejáveis de desencarnados que ele não sabe como controlar ou neutralizar. Se, porém, entregar-se desregradamente ao trabalho mediúnico, especialmente na fase inicial de ajustamento de suas faculdades, por certo terá problemas de saúde física e mental, acarretados por excesso no esbanjamento de energias psíquicas.


Através destas afirmações, Hermínio, Chico e Emmanuel, nos levam a meditar que, efetivamente, o acúmulo de energias canalizadas através de uma mediunidade não trabalhada pode ser a causa de algumas desarmonias em nossas vidas. Refletindo ainda sobre as assertivas acima, devemos ter em mente que muito mais do que desenvolver a prática mediúnica, devemos antes de tudo, desenvolver em cada um de nós a prática do bem (sendo esta uma das formas mais simples de doarmos essa energia acumulada e não trabalhada).


A prática da bondade, independentemente do local em que exercitamos essa ação (seja na rua, na igreja católica ou evangélica, no terreiro de umbanda, templo budista, casa espírita ou outros), já faz de cada um de nós um médium do bem em favor do próximo, e a priori, isso basta.



DIANTE DO AFLORAR MEDIÚNICO


Diante do aflorar mediúnico (isto é, se o gérmen da mediunidade realmente existe e passa a se repetir de forma explícita), o autor Hermínio C. Miranda – em Diversidade dos Carismas – traz à sua valiosa contribuição, mostrando-nos quatro situações que podem ocorrer na vida medianeiro, sendo elas:


1) ausência de orientação, quando o médium iniciante acha que pode resolver sozinho suas faculdades. O risco é grande de acabar mesmo perturbado ou obsessivo, joguete de espíritos irresponsáveis ou vingativos;


2) orientação inadequada, quando a pessoa chamada a opinar não está suficientemente qualificada, agrava a situação com sugestões e 'palpites' de 'entendido' incompetente, o que acarreta complicações verdadeiramente desastrosas;


3) desorientação, quando o médium iniciante se apavora, entra em pânico e, em vez de procurar examinar serenamente a situação e avaliar tudo com bom senso, atira-se atabalhoadamente a uma atividade febril e desordenada, adotando tudo quanto seja sugestão, comparecendo a qualquer centro que lhe seja indicado, submetendo-se a qualquer treinamento ou ritual que lhe digam necessário para desenvolver suas faculdades. Pode ser até que seja um excelente médium em potencial, mas estará em sérias dificuldades dentro em pouco;


4) orientação correta, neste caso, o médium incipiente teve a sorte (ou o bom senso) de encontrar a pessoa certa que o ajuda a ordenar as coisas, orientando-o a observar os fenômenos com espírito crítico, a estudar os aspectos teóricos da questão em livros confiáveis e, eventualmente, a integrar-se num grupo que lhe proporcione as condições de que necessita para desenvolver a sua tarefa.



EDUCANDO A MEDIUNIDADE


Caso opte por não desenvolver a mediunidade (para trabalhar nas reuniões mediúnicas), desejo este que deve ser sempre respeitado pela casa que o acolhe, o médium portador de uma faculdade mais ostensiva deve primar, ao menos, por educar sua mediunidade.


Conforme nos assegura – em seu livro supramencionado – o pesquisador espírita Hermínio C. Miranda, a “mediunidade é dom inato mas, como qualquer outra faculdade, pode (e precisa) ser desenvolvida e treinada.”


A educação mediúnica nos termos aqui referidos compreende o entendimento básico que o médium precisa ter para conviver harmoniosamente com a sua mediunidade, isto é, aprender a distinguir e se proteger das energias nocivas ao seu redor, a ter o maior controle sobre o seu psiquismo – para não incorporar em locais inapropriados, por exemplo –, saber reconhecer quais são os níveis evolutivos dos Espíritos que se apresentam e dessa maneira, ter uma vida mais equilibrada, sem que para isso ele venha a ser um membro/trabalhador de reuniões mediúnicas.



SOU OBRIGADO A DESENVOLVER MINHA MEDIUNIDADE?


Se ao chegar a uma casa espírita/espiritualista e lhe disserem que sua mediunidade precisa ser desenvolvida obrigatoriamente, que essa é sua missão de vida, que você precisa trabalhar a todo custo, que a espiritualidade está lhe despertando para esse serviço e do contrário (recusando essa atividade), você poderá sofrer grandes consequências (sejam elas físicas, psicológicas e/ou espirituais), absolutamente, este não é um local que segue verdadeiramente os princípios cristãos do amor, do respeito e da caridade, e consequentemente, não é um âmbito propício ao estudo, aconselhamento, desenvolvimento ou educação mediúnica.


Dizemos isso, pois temos visto em várias tendas espiritualistas (e também, infelizmente, em algumas casas espíritas), inúmeros médiuns serem obrigados, intimados ou pressionados ao desenvolvimento mediúnico, sem poderem se ausentar a posteriori dos seus trabalhos medianímicos sob o pretexto de sofrerem graves problemas em suas vidas. A consequência de tudo isso é o medo, o pavor, o pânico e a repulsa por tudo que é associado à espiritualidade, podendo estas pessoas mais tardes, serem vítimas de sérias obsessões (inclusa aqui a auto-obsessão).


É importante ressaltar que os Espíritos superiores que nos assistem, sejam eles nosso anjo guardião, mentor, bom gênio ou espírito familiar, jamais nos castigam por algo que fazemos e, principalmente, por nos recusarmos a desenvolver ou trabalhar nossa mediunidade. Mediunidade é amor e o amor jamais deve ser praticado com base no medo, em ameaças, represálias ou perseguições.


Como vimos, em muitos casos é o próprio Espírito que vai reencarnar que pede para vir com a mediunidade aflorada, e para melhor desempenho de suas faculdades, inicia seus estudos mediúnicos no mundo espiritual, firmando o compromisso de desenvolver essa atividade ao regressar ao plano físico. Porém, ao retornarem ao corpo carnal, o médium reencarnante sempre tem direito ao seu livre arbítrio, ficando a cargo de sua consciência, o estudo, a educação, o trabalho e o desenvolvimento medianímico.



 


Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima.

Capítulo 2: Mediunidade Sem Medo Pergunta 17: O desenvolvimento da mediunidade é obrigatório?

Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed.



 


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile. 21ª edição. Editora Boa Nova, 2017.

MIRANDA, Hermínio C. Diversidade dos Carismas. LACHATRE, novembro de 2019, 9ª edição.

XAVIER, Francisco Cândido. Plantão de Respostas - Pinga Fogo II. Ceu, 2015.

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