De início, pode parecer preocupante a ideia de que estamos sendo guiados ou manipulados por Espíritos. A palavra influenciação também pode nos causar certo estranhamento, especialmente quando lembramos que influenciar, de acordo com alguns dicionários, é uma ação psicológica em que uma pessoa é induzida a realizar algo, adotar uma conduta ou formar uma opinião específica.

Sobre este tema, na questão 459 de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta se os Espíritos influenciam nossos pensamentos e ações. Mais do que imaginais, respondem os benfeitores, pois com bastante frequência são eles que vos dirigem.
No capítulo II da obra O que é o Espiritismo?, o codificador destaca que os Espíritos estão em toda parte, ao nosso lado, acotovelando-nos e observando-nos sem cessar. Essa é, sem dúvidas, aquela nuvem de testemunhas mencionadas por Paulo em Hebreus 12:1.
É justamente essa nuvem de testemunhas — presente em nosso dia a dia — que pode nos influenciar, atraída por nossos pensamentos, gostos e ações. Tal influência pode ser positiva ou negativa, a depender da categoria dos Espíritos com os quais estamos em sintonia (vide questão 56).
INSPIRAÇÃO, SEGUNDO KARDEC
Em O Livro dos Médiuns, item 183, Kardec pergunta:
— Qual é a causa primeira da inspiração?
Espírito que se comunica pelo pensamento.
— A inspiração tem por objeto apenas a revelação de grandes coisas?
Não. Ela tem, muitas vezes, relação com as circunstâncias mais comuns da vida. Por exemplo, você quer ir a alguma parte: uma voz secreta diz para não ir, porque há perigo, ou então, essa voz diz para fazer uma coisa na qual você nem pensava; é a inspiração. Há bem poucas pessoas que não tenham sido mais ou menos inspiradas em certos momentos.
Os termos inspiração e influênciação podem ser considerados sinônimos no contexto espírita, sobretudo ao nos referirmos ao modo pelo qual os Espíritos atuam em nosso cotidiano, conduzindo-nos tanto para o bem quanto para o mal.
Sob essa ótica, conclui-se que todos os indivíduos, em algum momento, já foram influenciados — positiva ou negativamente — pelos Espíritos. Contudo, é essencial reconhecer que, apesar dessas influências, somos os principais responsáveis por nossas escolhas.
TUDO É CULPA DOS ESPÍRITOS?
É comum observar indivíduos que, negligenciando a autorresponsabilidade, atribuem seus erros exclusivamente à influenciação espiritual, justificando — de forma simplista — que determinadas situações ocorreram devido a um processo obsessivo. A verdade é que, mesmo que a influência exista, a decisão de ceder a ela é sempre nossa.
A obsessão não é unilateral e só se consolida quando há afinidade entre obsessor e obsidiado, ambos compartilhando os mesmos gostos, prazeres e inclinações. Nessa dinâmica, a influenciação torna-se recíproca (simbiose), não sendo mais possível determinar quem influencia quem.
OBSESSÃO ENTRE ENCARNADOS
É justo mencionarmos que essa influência também ocorre entre encarnados. Dependendo da intensidade e da persistência dessa atuação, esse comportamento pode ser classificado como um processo obsessivo na categoria encarnado para encarnado.
Conforme a médium e escritora espírita Suely Caldas Schubert menciona em sua obra Obsessão/Desobsessão: Profilaxia e Terapêutica Espíritas, a obsessão entre encarnados é um fenômeno frequente. A autora descreve que tal obsessão se caracteriza pelo controle mental que uma pessoa exerce sobre a outra, frequentemente mascarado como afeto ou proteção. Contudo, essa forma de amor apresenta-se como possessiva e sufocante, resultando na restrição da liberdade do indivíduo alvo dessa influência.
Sentimentos como ciúmes, ódio, inveja, paixão, orgulho ou desejo de poder estão intimamente relacionados a essa modalidade obsessiva. A pessoa sob controle, frequentemente, não reconhece que está sendo manipulada, acreditando que tais ações decorrem de um excesso de afeto. Nesse ponto, o controle e a perseguição continuam no mundo espiritual, quando ambos estão dormindo, parcialmente desprendidos do corpo físico.
Em outras ocasiões, são rivais que, em estado de vigília (acordados), frequentemente emitem fluidos perniciosos uns contra os outros, e, durante o sono, no processo de desdobramento, buscam-se mutuamente para dar continuidade às suas desavenças.
Além disso, existem pessoas que entendem como os processos de influência funcionam e, aproveitando seu poder magnético e hipnótico, usam isso de forma consciente para obter vantagens. Essas pessoas, dotadas de um vasto conhecimento em magia e manipulação energética, ao desencarnarem, são conhecidas como magos e feiticeiros. No plano espiritual, continuam a influenciar negativamente suas vítimas, agora com maior liberdade (vide questão 62).
Falaremos mais sobre este tópico na questão 71, ao tratarmos das diferentes modalidades de obsessão.
RECONHECENDO NOSSOS PENSAMENTOS
A respeito dessa temática, o autor Hermínio C. Miranda, em Diversidade dos Carismas, afirma:
“Quando a emissão de pensamentos alheios nos alcança, eles se misturam sutilmente aos nossos a ponto de nem sempre conseguirmos distinguir uns dos outros. Sabendo disso é que os espíritos conseguem nos influenciar, seja com pensamentos positivos e construtivos, seja com ideias negativas. Só com alguma experiência e acurado senso analítico podemos identificar ideias alheias na correnteza normal dos nossos pensamentos...”
Não há um critério evidente para identificar, de forma imediata, o que vem da nossa mente e o que é influência espiritual. Apenas o autoconhecimento permitirá essa distinção. Portanto, cabe a cada pessoa, por meio de suas experiências, observar a qualidade de seus pensamentos, seus padrões mentais e comportamentais, bem como a reação a cada impulso que recebe, independentemente de sua origem.
Alguns médiuns relatam que, em determinadas circunstâncias, os pensamentos sugeridos pelos Espíritos inferiores podem parecer pesados e grosseiros, como se a ideia ou imagem em questão tivesse invadido sua mente de forma abrupta (violenta). Já os pensamentos dos Espíritos superiores tendem a ser mais suaves e delicados. Como a sensibilidade varia de pessoa para pessoa, cada indivíduo perceberá essas influências de maneira única, com base em suas próprias experiências (sensações) e no autoconhecimento.
Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima.
Capítulo 7: Obsessões
Pergunta 65: Os Espíritos podem influenciar nossos atos e pensamentos?
Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB; 93ª edição. Rio de Janeiro, 2014.
KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. FEB Editora, 2016.
BÍBLIA DE JERUSALÉM. Hebreus 12:1. 14ª impressão. Editora PAULUS, 2017.
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Salvador Gentile. 9ª edição. Editora Boa Nova, 2004.
SCHUBERT, Suely Caldas. Obsessão/desobsessão: Profilaxia e Terapêutica Espíritas. 2ª edição. FEB Editora, 2015.
MIRANDA, Hermínio C. Diversidade dos Carismas. LACHATRE, novembro de 2019, 9ª edição.