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39. Pode o médium assumir a função de doutrinador em uma reunião mediúnica?

É muito comum ouvirmos relatos, em diversas obras espíritas, sobre o famigerado planejamento reencarnatório, no qual o indivíduo, dependendo do seu estado evolutivo, participa e opina sobre a sua nova existência, em especial as provas que irá enfrentar, as expiações, os conflitos, a função que irá desempenhar no plano físico, dentre outros.

Imagem colorida e de alta resolução de Allan Kardec, com um fundo escuro semelhante a uma lousa escolar. A imagem destaca o retrato de Kardec em um estilo detalhado e nítido.
Por que o médium deve evitar atuar como dialogador nas reuniões mediúnicas?

Compreendemos ainda que cada médium antes de vir ao campo carnal, dedicou parte do seu tempo aos estudos espirituais, preparando-se – ainda no mundo dos Espíritos – para as funções que aqui irá desenvolver mediunicamente (uma espécie de especialidade mediúnica, seu carro-chefe medianímico).


Sabendo que a casa espírita possui inúmeras funções de trabalho – seja como médium, dialogador, passista, instrutor do curso de educação mediúnica, palestrante, trabalhos sociais, etc. – é comum encontrarmos médiuns ostensivos atuando em mais de uma linha de frente, sem nenhum problema.


Em relação a essa temática, aqui atentamos apenas para duas observações:


  1. A mediunidade exige esforço de mudança no tocante a reforma íntima, sacrifícios, estudos e bastante disciplina; deparando-se com os primeiros percalços do caminho, muitos médiuns tendem a recuar e ausentar-se das suas atividades mediúnicas, dando preferência a exercer exclusivamente outras atividades consideradas por eles menos rígidas, pesadas ou sofridas. Isto é, não querem mais atuar como médiuns ostensivos, optando por outros cargos na casa espírita, desde que não lhe exijam esforço em se melhorar ou o contato com Espíritos sofredores. Nesse caso, o ideal é que o medianeiro – seja de psicofonia, psicografia, dentre outros – repense o seu papel e se mantenha no posto onde Deus lhe achou conveniente trabalhar e se desenvolver. Sobrando-lhe tempo e disposição, nada o impede de, além do trabalho mediúnico, exercer outras funções, como passista, palestrante/orador ou recepcionista do centro, por exemplo.

  2. O dialogador em uma reunião mediúnica é o trabalhador responsável por buscar esclarecer a entidade em atendimento, apresentando-lhe novas perspectivas de vida, outros pontos de vista, bases morais e evangélicas, sempre com muito amor, paciência, acolhimento e postura paterna. Já o médium é o trabalhador responsável por transmitir a comunicação entre os dois planos, e por ser sensível as energias do ambiente, não é aconselhável que, dentre as funções extras que o medianeiro queira exercitar, esteja entre elas o papel de dialogador.



ESTADO DE INCONSCIÊNCIA


Imaginemos, por um instante, que o dialogador precise faltar à reunião mediúnica e um médium ostensivo ali presente assuma temporariamente o seu papel. Por ser suscetível a sentir e registrar as energias do ambiente, podendo ainda – a depender do seu tipo de mediunidade – ver, ouvir e sintonizar com a entidade que ali esteja em comunicação, o médium que está na função temporária de dialogador pode não conseguir realizar fielmente o diálogo, cedendo a psicofonia ou vindo a sofrer o baque energético da entidade sofredora em atendimento. 


Como analogia, complementando a nossa linha de raciocínio, trazemos a mente a imagem de um motorista de transporte público conduzindo um veículo com dezenas de pessoas em seu interior – sob a sua responsabilidade –, mas que em um determinado momento, passa a ter os seus sentidos turvados, não conseguindo mais conduzir ou comandar o veículo que se encontra em pleno curso. A consequência desse ato é, sem dúvidas, um desastre iminente! O mesmo pode ocorrer com o médium ostensivo que, ao dirigir uma reunião mediúnica ou o diálogo fraternal, corre o risco de entrar em sintonia direta (transe, psicofonia) com a entidade comunicante, onde deixa de exercer o papel de dialogador, função esta que assumiu temporariamente, e volta à função inicial de medianeiro, deixando o controle consciente da reunião.


Sobre este ponto, o autor Hermínio de Miranda, em Diversidade dos Carismas, afirma que o primeiro aspecto a observar é o de que o dirigente das tarefas mediúnicas oferece melhores condições de êxito no desempenho da parte que lhe toca, se suas próprias faculdades - se as tiver - não o levarem a um estado de inconsciência.


Ou seja, não é prudente confiar a direção dos trabalhos mediúnicos a pessoas que são propícias a entrarem em estado de passividade ou inconsciência. Observe que usamos, de modo proposital, o termo médium ostensivo ao tratarmos dessa temática. De fato, o médium ostensivo deve evitar exercer as funções ativas de dialogador em uma reunião mediúnica devido a sua facilidade de entrar em sintonia com as energias e Espíritos em atendimento. Como todos possuem uma sensibilidade mediúnica mais ou menos desenvolvida, como afirma Kardec no decorrer das obras da codificação, pode ser que o dialogador (que em muitos casos também é o dirigente responsável pela reunião) tenha essa sensibilidade dilatada, mas que não se categoriza como mediunidade ostensiva, sendo muitas vezes uma leve intuição.

 


INTUIÇÃO


A intuição é a faculdade que mais se manifesta dentre os dialogadores, sendo este o meio pelo qual os instrutores do mundo espiritual comandam e direcionam os trabalhos realizados no plano físico. Já os médiuns ostensivos, para além da intuição, podem também manifestar a vidência, audiência, psicofonia, o que frequentemente faz com que sintam e experimentem aquilo que a entidade em atendimento está sentindo, pensando ou escondendo.


O dialogador, assim como o médium de apoio, por não possuírem mediunidade ostensiva, não sentem categoricamente a presença da entidade comunicante nem as suas emanações em desequilíbrio, muito menos a veem ou lhe escutam por vias mediúnicas, e consequentemente, não entram em sintonia direta com ela. Dessa maneira, conseguem permanecer em equilíbrio, sustentando a reunião através da prece, dos bons pensamentos e no caso do dialogador, do esclarecimento paternal.


Sabemos que cada regra tem sua exceção e que o aconselhamento neste caso envolve a prudência e o bom-senso, não permitindo que a dialogação e a direção dos trabalhos mediúnicos estejam confiadas a alguém que possa entrar em um estado de inconsciência, neste caso, um médium ostensivo. O sensitivo (vide questão 03), isto é, aquele que ainda não tem desenvolvida as suas faculdades mediúnicas de modo acentuado, mas que apenas apresenta de forma parcial – leve ou rarefeita – algumas sensações extracorpóreas, a depender dos casos, pode assumir as funções acima mencionadas (dialogador e direção da reunião).

 


O MÉDIUM COMO PRIMEIRO DIALOGADOR


O médium é conhecido como o primeiro dialogador em uma reunião mediúnica, pois ao dar passividade a uma entidade, antes mesmo do dialogador ir ao seu encontro, é o próprio medianeiro que, através do pensamento, já está em diálogo com a entidade, acalmando-a, emanando fluidos renovadores, advertindo-a sobre o modo de agir, etc. Comparamos esse momento aos primeiros socorros de uma emergência hospitalar, na qual o médium prepara a entidade para o diálogo que está porvir.


Importante destacar que esse papel de primeiro dialogador exercido pelo médium não é, de fato, o de dialogador em si, tendo em vista que médium e dialogador – durante a reunião mediúnica – apresentam ondas mentais diversas (ativas e passivas), não sendo possível alterná-las ao bel prazer. Em outros termos, é bastante improvável que o médium tenha condições psíquicas de conseguir exercer simultaneamente (e de modo equilibrado) o papel de medianeiro e dialogador, pois cada uma dessas atividades exige posturas mentais diferentes, sendo o médium agente passivo na comunicação e o dialogador agente ativo (no qual observa atentamente e, de modo lúcido, interage com a entidade desencarnada por meio do médium).



UM CASO À PARTE


Vimos até então uma situação em que, na ausência do dialogador responsável pelo esclarecimento das entidades em atendimento, um médium ostensivo presente assume temporariamente o seu lugar. Quase sempre essa ação pode ser nociva ao agrupamento de trabalho devido a probabilidade do médium – que provisoriamente está como dialogador – entrar em sintonia com o Espírito em acolhimento, o que lhe impossibilita de cumprir fidedignamente, por mais bem intencionado que esteja, a função proposta.


À exceção a esse caso é relacionada ao sensitivo, pessoa cuja sensibilidade está em desenvolvimento, mas que não é médium ostensivo, nem possuí facilidade em entrar em conversação psicofônica com os Espíritos ou outras manifestações mediúnicas.


Tratamos também do médium como primeiro dialogador, no qual, mentalmente, através do pensamento, acalma e prepara o Espírito para a conversação a seguir com o dialogador, ficando cada trabalhador (médium e dialogador) na sua devida função.


Existem, porém, mais duas situações em que o médium se coloca como dialogador, muitas vezes sem nem se atentar ao seu modo de agir.


Há reuniões mediúnicas cujo trabalhadores (médiuns, médiuns de apoio, passistas...), cada um no seu cargo de atuação, passam a opinar de forma concomitante com o dialogador. De modo claro, o dialogador encontra-se em conversação com o espírito (que se manifesta através de um médium), e os demais presentes passam a interferir no diálogo, seja através de palavras articuladas ou, até mesmo, via pensamento.


Tudo isso afeta, mesmo munidos das melhores intenções, na harmonia do atendimento e na reunião em curso. Há Espíritos que se aproveitam da intromissão dos demais membros para descredibilizar a atuação do dialogador e buscam atrapalhar o andamento da reunião, informando que não querem mais conversar com o dialogador, que daquele momento em diante falarão apenas com outro membro... E assim vão ganhando tempo, enganando, mistificando, encaminhando o foco do atendimento para outra direção, etc.


É como em uma conversação ordinária: se tivermos duas ou mais pessoas falando ao mesmo tempo (via pensamento ou palavras articuladas) com o mesmo indivíduo, dificilmente iremos ter um entendimento agradável ou harmonioso. Uma coisa é estar em prece, emanando bons fluidos e bons sentimentos pra entidade ali presente, enquanto o dialogador se encontra em conversação; outra coisa é dialogar simultaneamente com o doutrinador, buscando auxiliar o Espírito em questão, reforçando o que está sendo exposto, usando seus próprios pensamentos/palavras em uma dialogação paralela ou, muitas vezes, discordando do diálogo em andamento, trazendo, mesmo que inconsciente, a superioridade de que faria melhor (o que energeticamente é prejudicial ao trabalho, visto que os fluidos emanados são de prepotência, de arrogância, que seu modo de pensar é melhor que o do colega, dentre outros).


O ideal é que todos os componentes da equipe mediúnica permitam que o dialogador realize o seu trabalho sem maiores intromissões, interferindo o menos possível na conversação, trazendo alguma informação adicional somente quando indispensável. Na presença de mais de um dialogador em sala, usando de bom senso e etiqueta na relação com o trabalho em andamento, é de bom tom que sigam as instruções do dirigente da sala que poderá indicar qual dialogador irá travar a conversação com o Espírito que venha a se manifestar.


E, por fim, temos um caso à parte. Muito raramente, dependendo do Espírito que esteja sendo atendido e do gravame da situação, a coordenação espiritual permite que um Espírito benfeitor se manifeste por meio de um médium encarnado presente na reunião, e através dele um diálogo seja travado com o Espírito que está se manifestando por outro médium. São agora dois médiuns, cada um servindo de veículo para um Espírito em específico, travando um diálogo. De um lado encontra-se um Espírito em atendimento dando uma comunicação psicofônica; do outro temos um Espírito benfeitor se manifestando por meio de outro aparelho mediúnico, visando colaborar com a doutrinação.


Em casos como esse, o dialogador encarnado passa a silenciar, permitindo a conversação entre ambos os Espíritos (que se manifestam por meio de dois médiuns distintos), intervindo apenas quando necessário. Mesmo com a manifestação de um Espírito benfeitor, o dialogador (que em muitos casos também é o dirigente da reunião) continua sendo o responsável pelos trabalhos em curso, devendo permanecer atento, acompanhando o diálogo em questão e buscando perceber as nuances desse tipo de atendimento.


Esse é, com efeito, um caso à parte, sendo raro nas reuniões mediúnicas a ocorrência dessas situações. Até porque, em atendimentos dessa natureza, principalmente a longo prazo, há sempre um desperdício de energia, seja do próprio médium encarnado como do Espírito benfeitor. Caso análogo ocorre com os médiuns que incorporam durante o passe espiritual, sendo esta uma situação em específico na qual trataremos mais adiante.



 


Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima.

Capítulo 4: O Médium e a Casa Espírita

Pergunta 39: Pode o médium assumir a função de doutrinador em uma reunião mediúnica?

Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed.



 


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


MIRANDA, Hermínio C. Diversidade dos Carismas. LACHATRE, novembro de 2019, 9ª edição.

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