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58. Qual prece é indicada para afastar os maus espíritos?

Kardec nos afirma, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, que a prece é uma invocação, mediante a qual o homem entra, pelo pensamento, em comunicação com o ser a quem se dirige.

Imagem colorida e de alta resolução de Allan Kardec, com um fundo escuro semelhante a uma lousa escolar. A imagem destaca o retrato de Kardec em um estilo detalhado e nítido.
Existe uma oração específica para afastar os espíritos vingativos?

No livro Estudando a Mediunidade, o escritor e pesquisador espírita Martins Peralva destaca a existência de três tipos de prece/súplica.


Prece vertical: A prece vertical é aquela que, ao expressar aspirações verdadeiramente elevadas, dirige-se ao Mais Alto, buscando o auxílio dos missionários das esferas superiores. Quando proferida com sinceridade e humildade, ela sintoniza-se com os mensageiros do amor e da fraternidade. Esse tipo de oração alcança ainda mais força quando temos consciência de que a vontade divina está acima dos nossos desejos e, apesar das vicissitudes da vida, mantemos preservadas a nossa fé e coragem, sem resquícios de rebeldia contra os desígnios de Deus.

Prece horizontal: Baseia-se em anseios vulgares e encontra ressonância entre Espíritos que ainda estão presos às inquietações e problemas terrestres (diferentemente da prece vertical, projeta-se horizontalmente e não para o alto). Na prece horizontal, contamos com a colaboração de entidades amigas próximas à nossa própria evolução, que, assim como nós, se ocupam com os problemas ainda ligados à Terra e às questões cotidianas, familiares e afins.


Invocação descendente: Ao realizarmos um apelo — que aqui não chamaremos de prece, mas de invocação — marcado por pedidos inadequados, como a vingança, cobiça, arrogância e outros sentimentos inferiores, sintonizamos automaticamente com seres de baixo teor vibratório que passarão a nos ajudar na realização desses anseios e pedidos. Entretanto, para esses seres, ao contrário dos emissários do bem que trabalham em nome do amor e da caridade, há um alto preço a ser pago. O pagamento dessa ajuda — que nós mesmos pedimos com apelos inferiores — é a obsessão, a vampirização e a perseguição, não apenas no plano físico (como encarnados), mas também após o desencarne, no plano espiritual.


Em outras palavras, o indivíduo, seja ele médium ou não, acaba por descobrir, a duras penas, que, para realizar um trabalho de magia desse nível, não é necessário procurar qualquer local físico específico. Basta manifestar mentalmente o desejo de ferir alguém, expô-lo ao ridículo, levá-lo ao sofrimento, vingar-se, ou nutrir qualquer outra aspiração sombria. Esse simples apelo, feito por meio do pensamento, sintoniza-o de imediato com Espíritos de mesma natureza, que passam a contribuir, sem medir esforços, para a concretização do objetivo proposto.



PACTOS COM OS MAUS ESPÍRITOS, SEGUNDO KARDEC A este respeito, corroborando com o nosso ponto de vista, encontraremos em O Livro dos Espíritos, questão 549, a seguinte indagação feita por Kardec:


Algo de verdade haverá nos pactos com os maus Espíritos?

Resposta dos Espíritos superiores: Não, não há pactos. Há, porém, naturezas más que simpatizam com os maus Espíritos. Por exemplo: queres atormentar o teu vizinho e não sabes como hás de fazer. Chamas então por Espíritos inferiores que, como tu, só querem o mal e que, para te ajudarem, exigem que também os sirvas em seus maus desígnios. Mas, não se segue que o teu vizinho não possa livrar-se deles por meio de uma conjuração oposta e pela ação da sua vontade.


Em complemento à resposta anterior, os Espíritos esclarecem que aquele que intenta praticar uma ação má, pelo simples fato de alimentar essa intenção, chama em seu auxílio maus Espíritos, aos quais fica então obrigado a servir, porque dele também precisam esses Espíritos, para o mal que queiram fazer. Nisto é que consiste o pacto.


Em Instruções Práticas sobre as manifestações espíritas, Allan Kardec trata novamente sobre o tema aqui abordado ao dizer que a prece é uma invocação e, em certos casos uma evocação, pela qual chamamos este ou aquele Espírito. Quando dirigida a Deus, ele nos envia seus mensageiros, os Bons Espíritos.


Em sequência, o codificador ressalta que a prece não pode alterar os desígnios da Providência; mas por ela os Bons Espíritos podem vir em nosso auxílio, seja para nos dar a força moral que nos falta, seja para nos sugerir os pensamentos necessários. Daí vem o alívio que se experimenta quando se ora com fervor. [...] Diz-nos, porém, a razão, aliás de acordo com os Espíritos, que a prece dos lábios é uma fórmula vã, quando nela não participa o coração.



INTERFERÊNCIAS ESPIRITUAIS E A PREPARAÇÃO PARA O SONO

Existem ainda dois momentos em que estamos — de certo modo — mais vulneráveis e nos quais a prece deve ser reforçada em nosso favor:


Antes de dormir: A prece é um poderoso escudo contra as armadilhas que poderemos encontrar ao deixarmos o corpo físico (por meio do desdobramento) ao dormirmos, pois, geralmente, existem Espíritos que estão ligados a nós por elos pretéritos (de outras vidas) e que ficam à espreita para nos atacar, impondo-nos acertos de contas ou visando nos controlar, conduzindo-nos por caminhos trevosos através da hipnose e programando-nos para a realização de atos funestos ao despertarmos.


A médium e escritora espírita Yvonne do Amaral Pereira, bem como o Espírito André Luiz (pela psicografia de Chico Xavier), afirmam — em suas diversas obras — que certos conflitos, desarmonias, assassinatos e outros atos deploráveis são frequentemente arquitetados e induzidos — através da hipnose — durante as nossas noites de sono. Uma maneira eficaz de nos protegermos contra essas investidas noturnas é através da prece, tanto ao adormecer quanto ao despertar. Sem essa defesa espiritual, corremos o risco de nos rendermos facilmente a essas sugestões criminosas.

Além disso, a prece antes de dormir ajuda o indivíduo a elevar sua vibração e a sintonizar com os bons Espíritos. Essa sintonia possibilita, ao desdobrar-se (ou seja, deixar parcialmente o corpo carnal durante o sono físico), o trânsito por regiões mais elevadas, guiado por seus protetores espirituais. Assim, desfruta de um ambiente salutar e restaurador, que o prepara para um despertar renovado e em equilíbrio.


Após acordar: O dever primordial de toda criatura humana, o primeiro ato que deve assinalar a sua volta à vida ativa de cada dia, é a prece (O Evangelho Segundo o Espiritismo). Quando a alma encarnada retorna ao corpo após o sono orgânico, ela pode trazer, junto ao seu perispírito, fluidos nocivos e prejudiciais. Sendo de origem inferior, dependendo dos lugares por onde o indivíduo — em desdobramento — tenha percorrido, esses fluidos, se não forem dispersados, podem influenciar negativamente nossas emoções, desarmonizando o dia que se inicia.


Esse efeito em cadeia nos prepara de maneira desfavorável para a próxima noite de sono. Presos a essas energias malsãs, tornamo-nos mais suscetíveis a sermos atraídos para as regiões umbralinas que se alinham com nossa vibração desajustada, onde esse ciclo hipnótico se repete até cumprir seu propósito maléfico.


A prece, portanto, é a ferramenta mais eficaz contra o acúmulo dessas energias nocivas, limpando-nos e fortalecendo-nos contra as sugestões hipnóticas da obsessão, afastando, assim, os espíritos obsessores que buscam nos dominar.



A PRECE, SEGUNDO ANDRÉ LUIZ Em diversas obras espíritas e espiritualistas, encontramos relatos significativos sobre o poder da prece. O autor espiritual André Luiz — em quase todas as suas obras — descreve momentos em que testemunhou a sinceridade das preces proferidas, quando jatos de luz, de diversas cores e formas, desciam do alto como respostas automáticas e balsâmicas para aqueles que elevavam seus pensamentos ao Criador. Esses fluidos espirituais provenientes das altas esferas trazem consigo propriedades energéticas que atendem às necessidades do emissor em prece, proporcionando-lhe novo ânimo e força para enfrentar as intempéries e vicissitudes da vida. Eles oferecem alento nas horas de tristeza, promovem calma diante da dor e do desespero, entre outras benesses. Nesse sentido, é fundamental reconhecer que toda prece — humilde e sincera — que emana do nosso coração é ouvida pelos planos superiores, recebendo uma resposta imediata e amorosa.


É necessário ressaltar que essa resposta não se restringe ao simples cumprimento de nossos pedidos e súplicas. Afinal, nem tudo o que rogamos a Deus é o melhor para nós. Sob os olhos da sabedoria divina, que possamos confiar nos desígnios superiores, sempre atentando para a máxima: que seja feita a Vossa vontade!



IMPORTÂNCIA DA PRECE PARA OS MÉDIUNS O benfeitor Miramez, em sua obra Médiuns, psicografada por João Nunes Maia, nos adverte que todo intercâmbio espiritual — incluindo as reuniões mediúnicas — deve ter como princípio a ação da prece.


Dessa forma, toda atividade de natureza espírita deve começar e terminar com a prece. Esse hábito benéfico permite que os trabalhadores encarnados elevem sua vibração e estabeleçam uma conexão mais profunda com os Espíritos superiores que guiam os trabalhos em curso.


Em síntese, a prece é um remédio salutar e benéfico contra todos os males. O médium que foge ao hábito da prece sincera e edificante não oferece defesa contra as investidas inferiores que atravancam o seu caminho. Ainda assim, a prece não é garantia de isenção diante das provas que o médium — ou qualquer outra pessoa — precisa passar, mas lhe oferece um grande bálsamo para transpor essas dificuldades com mais serenidade, paciência, força, fé e coragem. Logo, a prece não é benéfica apenas para os médiuns, mas para todas as pessoas que buscam uma comunhão mais íntima com Deus.

AFINAL, QUAL A MELHOR PRECE PARA AFASTAR OS MAUS ESPÍRITOS?


De acordo com O Evangelho Segundo o Espiritismo, a prece tem três objetivos ou funções principais: pedir, louvar e agradecer. Ela deve ser simples, clara e direta (objetiva), sem a necessidade de ser demasiadamente longa ou adornada com palavras excessivamente elaboradas. A oração deve vir do íntimo do coração, com fé, sinceridade e humildade, evitando qualquer tipo de orgulho, soberba, arrogância, prepotência ou rebeldia.


Para orarmos ou proferirmos uma prece, segundo a doutrina espírita, não há necessidade de nenhum lugar, gesto ou ritual em especial. Para isso, basta elevarmos o nosso pensamento ao Pai Criador.


Orar é pensar em Deus com um puro sentimento; é conversar com Ele como fazemos com um amigo querido a quem tanto amamos e respeitamos. Todavia, a prece proferida apenas com os lábios (de forma maquinal), onde o coração não participa, não apresenta nenhum valor diante da divindade. Ao proferir uma prece, seja em pensamento ou de forma articulada, precisamos meditar em cada frase que é dita; do contrário, por mais bela que a prece — ou oração — possa ser, não passará de palavras bonitas, mas vazias, sem força, efeito ou apelo sincero.


Assim, a melhor prece, independentemente do objetivo, é aquela cuja tônica segue os moldes descritos acima, ou seja:


  • Simples, clara e objetiva (não é pela multiplicidade das palavras que sereis ouvidos);

  • Meditando em cada palavra proferida, seja mentalmente ou em voz alta (o valor da prece reside na sinceridade e intenção de cada frase);

  • Evitando, sempre que possível, palavras mecânicas¹ (aquelas em que o coração não participa);

  • Sincera, humilde e com fé (confiança);

  • Livre de soberba, arrogância, orgulho, prepotência ou rebeldia;

  • Respeitosa e atenta à vontade divina e aos desígnios superiores;

  • Desprovida de gestos ritualísticos. Para orar, basta elevar o pensamento a Deus, sem necessidade de nos pormos em evidência (orai em secreto).



 


¹ As orações popularmente conhecidas, a exemplo do Pai-Nosso (ensinada pelo próprio Cristo), Ave-Maria, Oração de São Francisco, Prece de Cáritas, entre outras, não devem ser recitadas mecanicamente. É necessário que cada frase seja devidamente meditada, com plena consciência do que está sendo dito. Para maior aprofundamento, recomendamos a leitura atenta dos capítulos XXVII (Pedi e obtereis) e XXVIII (Coletânea de preces espíritas) de O Evangelho Segundo o Espiritismo.



 

Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima.

Capítulo 6: Aspectos Morais da Mediunidade

Pergunta 58: Qual prece é indicada para afastar os maus espíritos?

Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed.


 


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile. 21ª edição. Editora Boa Nova, 2017. PERALVA, Martins. Estudando a Mediunidade. FEB Editora, 2017.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB; 93ª edição. Rio de Janeiro, 2014.

KARDEC, Allan. Instruções Práticas Sobre as Manifestações Espíritas. Pensamento, 1995.

MAIA, João Nunes (psicografia). Médiuns. Miramez (espírito). Fonte Viva, 19ª edição, 2017.

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