Se os Espíritos são as almas dos homens que viveram sobre a terra, ou até mesmo em outros planetas, conforme a doutrina espírita nos ensina (vide questão 48), os anjos são essas mesmas almas ou Espíritos chegados a um estado de perfeição que os aproxima da Divindade. (Revista Espírita, edição de março de 1866)

Segundo os ensinamentos apresentados em O Livro dos Espíritos (questão 96), veremos que os Espíritos são de diferentes ordens, conforme o grau de perfeição que tenham alcançado. Desse modo, os seres que recebem o nome de anjo guardião, bom gênio, guia ou mentor espiritual, são os Espíritos que atingiram um elevado grau de evolução e pureza.
Esta afirmação é confirmada através da questão 129 da obra supracitada, na qual destacamos:
– Os anjos também percorreram todos os graus?
Resposta dos Espíritos: “Percorreram todos. Mas, como já dissemos: uns aceitaram a sua missão sem lamentar e chegaram mais depressa; outros empregaram maior ou menor tempo para chegar à perfeição.”
CLASSIFICAÇÃO EVOLUTIVA DOS ESPÍRITOS
Para que o Espírito alcance esse grau de pureza e perfeição, é necessário que ele percorra uma escala evolutiva. Ainda com base na obra acima citada, Kardec dividiu o grau de adiantamento dos Espíritos em 3 ordens e 10 classes. Tal escala compreende como ponto de partida a terceira ordem, que corresponde a classe dos Espíritos Imperfeitos (10ª classe); seguidos pelos Espíritos Levianos (9ª classe); Pseudossábios (8ª classe); Neutros (7ª classe); Batedores e Perturbadores (6ª classe).
Avançando para a segunda ordem, teremos a classe dos Espíritos Benévolos (5ª classe); de Ciência (4ª classe); de Sabedoria (3ª classe); Superiores (2ª classe).
Finalmente, na primeira ordem, chegamos à classe dos Espíritos Puros (1ª classe).
ANJO GUARDIÃO, MENTOR OU GUIA ESPIRITUAL
Dando continuidade, ainda na obra em destaque, Kardec retoma o tema referente ao anjo guardião ao interpelar:
Questão 490 – Que se deve entender por anjo da guarda?
Resposta: “O Espírito protetor de uma ordem elevada.”
491 – Qual a missão do Espírito protetor?
R: “A de um pai para com os filhos: conduzir o seu protegido pelo bom caminho, ajudá-lo com os seus conselhos, consolá-lo nas suas aflições, sustentar sua coragem nas provas da vida.”
Em sequência, Kardec volta a indagar:
492 – O Espírito protetor é ligado ao indivíduo desde o seu nascimento?
R: “Desde o nascimento até a morte, e frequentemente o segue depois da morte, na vida espírita, e mesmo através de numerosas experiências corpóreas, porque essas existências não são mais do que fases bem curtas da vida do Espírito.”
493 – A missão do Espírito protetor é voluntária ou obrigatória?
R: “O Espírito é obrigado a velar por vós porque aceitou essa tarefa, mas pode escolher os seres que lhe são simpáticos. Para uns, isso é um prazer; para outros, uma missão ou um dever.”
Embora já tenha sido amplamente esclarecido, é importante reiterar que os guias e mentores não são seres criados à parte, mas Espíritos que alcançaram um elevado grau de evolução, tendo percorrido os mesmos estágios que hoje buscamos vencer. Dessa forma, por meio de suas experiências, conhecem intimamente as dificuldades enfrentadas por aqueles a quem assistem, tanto no estado de encarnados quanto na erraticidade (no plano espiritual).
GUIAS ESPIRITUAIS DO MÉDIUM
Em Médiuns (psicografia de João Nunes Maia), mais precisamente no capítulo denominado Os Guias Espirituais, encontraremos o autor espiritual Miramez tecendo as seguintes observações:
“Os guias espirituais de um médium se configuram como pais na frequência do amor e da justiça, sem alterar as necessidades do filho do coração, ajudando-o a andar com os seus próprios pés."
Dando continuidade, esclarece Miramez:
"Há quem diga que os guias abandonam os seus tutelados. Não existe abandono nestes casos. Eles, os benfeitores espirituais, ajudam mais, porém, em outra frequência, até o medianeiro compreender o tesouro que está ao seu dispor, dependendo da sua disposição ao bem da coletividade."
Por fim, arremata o benfeitor: "Os guias espirituais são afáveis, quando essa afabilidade desperta algo de bom no aprendiz. São enérgicos, quando essa energia abre os olhos do candidato à luz, no sentido de disciplinar a razão e educar os sentimentos.”
Em virtude dos fatos acima mencionados, podemos concluir que nossos guias espirituais nunca nos abandonam de fato e seguem velando por nós como verdadeiros pais e/ou professores amorosos.
Acompanhando passo a passo nossa trajetória evolutiva, nossas dores e dissabores, gozos e alegrias, permitem que certos males nos acometam para a ampliação do nosso aprendizado, sempre respeitando as leis de causa e efeito. Isto é, os valores morais que o médium possui não o isenta das provas que ele deve passar, mas faculta-lhe a companhia e a simpatia dos bons Espíritos (que o ajuda e ampara nos momentos difíceis).
ANJOS DA GUARDA, POR SANTO AGOSTINHO E SÃO LUÍS
Para concluir o nosso raciocínio, transcrevemos abaixo uma síntese da mensagem – assinada pelos Espíritos de São Luís e Santo Agostinho – encontrada em O Livro dos Espíritos, bem como, na Revista Espírita de 1859:
Há uma doutrina que deveria converter os mais incrédulos, por seu encanto e por sua doçura: a dos anjos da guarda. Pensar que tendes sempre junto a vós seres que vos são superiores; que aí estão sempre para vos aconselhar, para vos sustentar, para vos ajudar a escalar a áspera montanha do bem; que são amigos mais certos e mais dedicados do que as mais íntimas ligações que possais estabelecer na Terra, não é uma ideia consoladora?
Esses seres aí estão por ordem de Deus. Foi ele que os pôs ao vosso lado. Aí se acham por amor a ele e realizam bela e penosa missão. Sim, onde quer que estejais, estarão convosco. Os calabouços, os hospitais, os lugares de deboche, a solidão, nada vos separa desses amigos que não vedes, mas cujos suaves impulsos vossa alma sente, como lhes escuta os sábios conselhos. [...]
Nada penseis ocultar-lhes, pois eles têm o olhar de Deus e não podeis enganá-los. [...]
Aos que pensassem ser impossível a Espíritos realmente elevados ater-se a uma tarefa tão laboriosa e de todos os instantes, diremos que influenciamos vossas almas mesmo estando a milhões de léguas de vós. Para nós, nada é o espaço, e mesmo vivendo num outro mundo, nossos Espíritos conservam suas ligações com o vosso. [...]
Cada anjo da guarda tem o seu protegido, sobre o qual vela como um pai sobre o filho. É feliz quando o vê seguir o bom caminho e sofre quando seus conselhos são desprezados.
Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima.
Capítulo 5: Mentores Espirituais
Pergunta 49: Quem são os Anjos da Guarda, Mentores ou Guias Espirituais?
Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KARDEC, Allan. Revista Espírita – Jornal de estudos psicológicos – março de 1866. Tradução de Julio Abreu Filho. Edicel, 2021.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB; 93ª edição. Rio de Janeiro, 2014
MAIA, João Nunes (psicografia). Médiuns. Miramez (espírito). Fonte Viva, 19ª edição, 2017.
KARDEC, Allan. Revista Espírita – Jornal de estudos psicológicos – fevereiro de 1859. Tradução de Julio Abreu Filho. Edicel Editora; 4ª edição, março de 2020.