Certamente, qualquer pessoa que tenha buscado informações sobre a doutrina espírita já deve ter lido ou ouvido falar de Allan Kardec. Mas, afinal, quem foi Allan Kardec?
![Imagem colorida e de alta resolução de Allan Kardec, com um fundo escuro semelhante a uma lousa escolar. A imagem destaca o retrato de Kardec em um estilo detalhado e nítido.](https://static.wixstatic.com/media/25b0c6_1c8d552569f349c68cff957d57245d7b~mv2.png/v1/fill/w_980,h_757,al_c,q_90,usm_0.66_1.00_0.01,enc_avif,quality_auto/25b0c6_1c8d552569f349c68cff957d57245d7b~mv2.png)
Allan Kardec é o pseudônimo de Hippolyte Léon Denizard Rivail, nascido em 3 de outubro de 1804, em Lyon, França. Com seu nome de batismo, Rivail destacou-se na área educacional, sendo um renomado pedagogo — discípulo de Pestalozzi e divulgador do Método Pestalozziano —, além de escritor e tradutor de diversos idiomas. No entanto, foi somente na década de 1850 que o pseudônimo Allan Kardec passou a fazer parte de sua vida, período em que começou a estudar e observar os fenômenos das mesas girantes, traçando as primeiras linhas que dariam origem à codificação do Espiritismo.
Como educador, Hippolyte Léon Denizard Rivail fundou dois institutos educacionais e escreveu diversas obras didáticas, sempre mostrando-se à frente de seu tempo, com um trabalho de inestimável grandeza.
Membro de várias sociedades científicas, Rivail possuía um caráter questionador e cético. O filho de Lyon era um homem íntegro, o que o tornou uma figura respeitada em toda a sociedade intelectual francesa.
MESAS-GIRANTES
Já em meados de 1854, por meio de um amigo, o Sr. Fortier — pesquisador do magnetismo —, Rivail ouviu falar pela primeira vez sobre o fenômeno das mesas girantes.
A imprensa da época narra amplamente que, por toda a França, em salões, residências e até mesmo em apresentações teatrais, mesas levitavam, giravam e se moviam apenas com a imposição das mãos ou dos dedos dos participantes. Após a insistência de seu ilustre amigo, o cético Rivail permitiu-se observar tais episódios, inicialmente na casa da senhora Roger, depois na residência de madame Plainemaison e, por fim, no lar da família Baudin.
Após presenciar, diversas vezes, que as mesas respondiam por meio de pancadas — ou outros movimentos — às perguntas que lhes eram direcionadas, Rivail passou a investigar a origem da inteligência por trás dessas respostas. Acreditando, a princípio, que tais movimentos eram causados unicamente pelo magnetismo ou, talvez, de um mero truque ilusório (chegando a desvendar, mais tarde, a técnica usada por diversos falsários), Rivail concluiu que, por trás de todo efeito inteligente, há uma causa inteligente.
Com o passar do tempo, as comunicações, que antes eram obtidas por meio das mesas girantes e das sucessivas pancadas que indicavam as letras do alfabeto — formando frases e sentenças muitas vezes extensas, tornando o processo demorado e incômodo —, foram adaptadas para uma nova modalidade.
Essa nova técnica — sugerida por um dos guias espirituais das reuniões das quais Kardec participava — consistia no uso de uma cesta com um lápis preso ao centro. Colocada sobre um papel, a cesta passava a escrever sob o influxo das mãos impostas. Por fim, a chamada cesta escrevente deu lugar à psicografia que conhecemos hoje, na qual a própria mão do médium escreve sob o estímulo da entidade comunicante, sem a necessidade de nenhum utensílio externo além do lápis (ou caneta) e do papel.
Nesse meio tempo, por meio da mediunidade das jovens irmãs Caroline e Julie Baudin, Rivail recebeu diversas mensagens espirituais, incluindo uma revelação do Espírito Zéfiro, guia espiritual da família Baudin, sobre uma de suas vidas passadas, na qual teria sido um druida chamado Allan Kardec. Foi também nesse período que ele tomou consciência do compromisso assumido — ainda no mundo espiritual — de pesquisar e divulgar a doutrina dos Espíritos.
MÉTODO CIENTÍFICO
Para que o professor Rivail pudesse observar, investigar e analisar todos esses fenômenos de forma criteriosa, sem se deixar envolver por empolgação, fantasia ou fanatismo, era necessário adotar um método científico sério, idôneo e sistemático.
O método científico utilizado por Kardec foi o da universalidade das informações advindas dos Espíritos, conhecido como Controle Universal do Ensino dos Espíritos.
De modo prático, o codificador comparava as mensagens de diferentes médiuns (residentes em localidades distintas) e Espíritos, buscando concordância em suas ideias e princípios. Além disso, submetia as mensagens à análise racional, descartando aquelas que contrariassem o bom senso, a lógica e os conhecimentos científicos da época. Somente após um controle rigoroso e sistemático Kardec incorporava tais mensagens e ensinamentos em suas obras. As ideias presentes na codificação eram frequentemente confrontadas com novas mensagens mediúnicas, a fim de confirmar ou refutar seu conteúdo.
É válido lembrar que, naquela época — década de 1850 —, a comunicação era bastante dificultosa, sendo quase sempre realizada por cartas ou, quando muito, por telégrafo. Também é justo mencionar que os médiuns envolvidos nesse processo não mantinham contato ou relação de amizade entre si, preservando, dessa maneira, a pureza e a individualidade das respostas, sem interferência, sugestão, indução ou manipulação por parte dos envolvidos.
Ao término dessa fase, Rivail lançou, em 18 de abril de 1857, a primeira edição de O Livro dos Espíritos, concluindo que a inteligência por trás dos fenômenos das mesas falantes, dançantes ou girantes era, de fato, a dos Espíritos — isto é, as almas dos homens que outrora viveram sobre a Terra.
ALLAN KARDEC
Para diferenciar seu legado educacional, incluindo todas as obras assinadas com seu nome de nascimento, Rivail passou a adotar o pseudônimo de Allan Kardec em todas as obras que marcaram a codificação da doutrina dos Espíritos.
O Espiritismo, ou a Doutrina dos Espíritos, recebeu esse nome porque foram os próprios Espíritos superiores, incluindo o Espírito da Verdade (Jesus Cristo), que o ajudaram nesse processo de observação e pesquisa, com o objetivo de trazer ao mundo o consolador prometido.
OBRAS BÁSICAS
Segundo o livro Catálogo Racional de Obras para se Fundar uma Biblioteca Espírita, especificamente no capítulo 1º — intitulado Obras Fundamentais da Doutrina Espírita —, Allan Kardec destaca que as obras básicas do Espiritismo são:
O Livro dos Espíritos;
O Livro dos Médiuns;
O Evangelho Segundo o Espiritismo;
O Céu e o Inferno;
A Gênese;
O Que é o Espiritismo;
O Espiritismo na sua expressão mais simples;
Resumo da lei dos fenômenos espíritas;
Caráter da revelação espírita;
Viagem espírita em 1862;
Coleção Revista Espírita (a partir de 1858).
Apesar de Kardec nunca ter limitado a cinco o número de obras consideradas básicas, no Brasil, esse termo ganhou popularidade ao se referir aos seguintes títulos: O Livro dos Espíritos (1857), O Livro dos Médiuns (1861), O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864), O Céu e o Inferno (1865) e A Gênese (1868).
Em suma, as obras básicas do Espiritismo são todas aquelas que Allan Kardec codificou, ou seja, um total de 23 obras, e não apenas as cinco mencionadas anteriormente.
De todo o seu legado como Allan Kardec, O Livro dos Médiuns é, sem dúvidas, o maior tratado sobre mediunidade existente até hoje. Ninguém, em toda a sua trajetória, conseguiu agregar tanto valor a uma única obra — sobre os médiuns e os fenômenos mediúnicos — como Kardec o fez. Portanto, Kardec é um prisma, um norte, uma bússola que devemos seguir ao estudar ou pesquisar sobre qualquer assunto relacionado à mediunidade.
DESENCARNE
Em 31 de março de 1869, Kardec retorna à pátria espiritual aos 64 anos de idade. Casado com Amélie Boudet, companheira de ideal espírita e grande educadora, Kardec deixou seu nome registrado na história como o codificador da Doutrina Espírita, o ser iluminado que trouxe ao mundo o consolador prometido. Foi o antigo druida que, de forma abnegada, pesquisou e registrou as leis mediúnicas — que até hoje continuam comprovando a imortalidade da alma e, de forma segura, colaborando com todos aqueles que desejam educar suas faculdades. Kardec foi o homem, o educador, o esposo, a alma de escol que, verdadeiramente, ajudou a mudar o rumo do nosso planeta.
Texto extraído do livro Mediunidade com Kardec de Patrick Lima. Capítulo 1: Kardec é um prisma Pergunta 01: Quem é Allan Kardec? Como citar: LIMA, Patrick. Mediunidade com Kardec. Poverello Edições, 2023. 1ª ed.
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